BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A formalização neste domingo (1º) da troca de comando no centro-esquerdista PSB –sai Carlos Siqueira, 70, entra João Campos, 31– carrega à primeira vista um mero sinal de troca de bastão entre gerações, mas ocorre em um cenário de dificuldade de renovação na esquerda.

Apesar da pouca idade para um político com projeção nacional, Campos integra família que atua na política há mais de 70 anos, desde os anos 1940.

O prefeito do Recife é filho do ex-governador e ex-presidenciável Eduardo Campos, morto em 2014 em um acidente aéreo, e bisneto do ex-governador Miguel Arraes, um das figuras históricas da esquerda, morto em 2005.

“Você é um ‘broto’ [gíria do século passado que significa pessoa jovem], Carlos Siqueira”, brincou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), 72, na abertura da convenção do partido para a confirmação da troca de comando, nesta sexta-feira (30).

A dificuldade da ascensão de novos quadros e a questão do “familismo” na política perpassa todos os campos políticos, mas os números no Congresso e a lista de cotados a herdar os capitais políticos de Lula (PT), 79, e de Jair Bolsonaro (PL), 70, indicam haver neste momento uma dificuldade maior na esquerda.

São desse campo, por exemplo, os três partidos da Câmara dos Deputados com parlamentares com maior média de idade: PC do B (61), PT (58) e PDT (56).

Na disputa presidencial, Bolsonaro está inelegível e tem ao seu redor uma fileira de sucessores cogitados dentro da própria família e no grupo de governadores de centro e de direita.

À exceção de Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), 75, que já disputou a Presidência mais de três décadas atrás, todos os outros são nomes de recente ascensão na política –os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), prestes a completar 50 anos, Eduardo Leite (PSD-RS), 40, Ratinho Jr. (PSD-PR), 44, e Romeu Zema (Novo-MG), 60, além de Michelle, 43, Eduardo, 40, e Flávio Bolsonaro, 44.

Todos esses, claro, com chance de serem competitivos caso contem com o apoio explícito de Bolsonaro.

Fora da lista de presidenciáveis, novos nomes da direita também aparecem em maior volume devido ao relativamente recente fenômeno bolsonarista, que varreu as eleições municipais de 2018 e se mantém forte até o momento –um dos destaques, por exemplo, é o deputado federal mais votado do país em 2022, Nikolas Ferreira (PL-MG), que completou 29 anos nesta sexta-feira (30).

Lula é hoje o nome absoluto e incontestável da esquerda e a lista de possíveis herdeiros tem sido magra, até porque por ora ele manifesta o desejo de concorrer a um quarto mandato em 2026, o que elimina qualquer concorrência em seu campo.

Nos bastidores, vários nomes da esquerda são comentados, em especial no PT, mas todos mais ou menos embolados. Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), 62, e Camilo Santana (Educação), 56, embora o primeiro passe atualmente por um desgaste interno agravado pela crise do aumento do IOF, além de figuras hoje fora do PT, como Guilherme Boulos (PSOL), 42, e o ex-ministro Flávio Dino, 57, integrante do Supremo Tribunal Federal.

Assim como o PSB, o PT, o maior partido desse estrato ideológico, está para renovar seu comando, com eleição marcada para 6 de julho.

A escolha para a vaga de Gleisi Hoffmann, que foi para a articulação política de Lula, tem como candidato favorito o ex-ministro e ex-prefeito de Araraquara Edinho Silva, 59, com o ex-presidente da sigla e deputado federal Rui Falcão, 81, correndo por fora.

“Você precisa renovar mais é as ideias das pessoas. Precisa fazer as duas coisas. Agora, você renova também não fazendo mandatos perpétuos. E não pode confundir renovação com etarismo”, disse Falcão.

Presente no início da convenção de troca do comando do PSB, o ex-ministro José Dirceu, figura histórica do PT, reconheceu haver dificuldade de renovação na esquerda, mas disse que esse quadro começou a mudar um pouco nas eleições municipais de 2024.

Dirceu, que foi um dos principais alvos dos escândalos do mensalão e da Lava Jato, diz avaliar voltar à política eleitoral, se candidatando a deputado federal por São Paulo em 2026.

Ele afirma esperar haver uma nova safra de petistas disputando cargos de deputados estaduais em 2026. Aos 79 anos, reconhece, porém, que a tarefa de renovação será mais difícil na Câmara dos Deputados.