BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Pesquisas de opinião apontam empate técnico antes do segundo turno presidencial na Polônia, que ocorre neste domingo (1º). A disputa entre o liberal Rafal Trzaskowski, 53, e o nacionalista Karol Nawrocki, 42, repete em certa medida o roteiro visto nos últimos meses na Europa: um político profissional, com reconhecida trajetória pública, encara uma figura antissistema, hospedada em um partido conservador, que começou a campanha mostrando suas qualidades físicas, em corridas de rua e sessões de flexões.

Espelha também o embate de mais de uma década em curso no país, protagonizado pelo atual primeiro-ministro, Donald Tusk, um centrista, e o presidente eurocético, Andrzej Duda. No singular sistema polonês, o presidente tem poder de veto, o que explica o peso da atual eleição e a quase paralisia da agenda interna de Tusk, que tenta desfazer o controverso legado de oito anos do partido de Duda, o Lei e Justiça ou PiS, no poder.

A principal iniciativa é a reversão da reforma do Judiciário, que, em 2017, fez a União Europeia acionar o artigo 7º. O instituto europeu prevê a suspensão de um integrante em caso de violações do Estado de direito. A Polônia de Duda e a Hungria de Viktor Orbán foram os únicos alvos até aqui do dispositivo, que bloqueia repasses e, no limite, o direito de voto.

Com a volta de Tusk ao Executivo em 2023 –ele já havia sido premiê de 2007 a 2014–, o processo contra a Polônia foi deixado de lado no ano seguinte. Orbán, por sua vez, enfrenta uma forte ofensiva a favor da punição desde que o Parlamento húngaro aprovou o banimento da versão local da Parada LGBT+.

Alguns agravantes, porém, conferem maior complexidade ao atual pleito “da potência militar e econômica mais subestimada da Europa”, em descrição recente da revista The Economist. Em reportagem de capa, a publicação lembrou que a Polônia tem um Exército maior do que os de Alemanha, França e Reino Unido e um padrão de vida, em poder de compra, já próximo de superar o Japão.

Essa potência em ascensão é também a primeira grande fortaleza europeia no caminho de Vladimir Putin, com o maior orçamento de defesa entre os membros da Otan, a aliança militar ocidental. E o apoio incondicional da UE e de Varsóvia à Ucrânia na guerra contra o invasor russo é um dos itens que pesam no voto jovem da eleição polonesa.

Trzaskowski, que liderava com folga os levantamentos antes do primeiro turno, foi surpreendido com uma margem mínima sobre Nawrocki nas urnas, 31,3% contra 29,5%. A extrema direita, porém, conseguiu seu melhor resultado desde a queda do comunismo.

Slawomir Mentzen, um libertário, alcançou 14,8% dos votos no total. Com promessas de zerar imposto e impedir a entrada da Ucrânia na Otan, sua votação entre eleitores até 29 anos chegou a 35%. Grzegorz Braun, declaradamente antissemita e homofóbico, conquistou 6,3%. Segundo analistas, a transferência de votos está longe de ser automática para Nawrocki, mas explica em parte o tiroteio que se tornou a campanha polonesa nos últimos dias, em que questões ideológicas ficaram para trás.

No melhor estilo Donald Trump, de quem recebe apoio público, o historiador transformou uma denúncia de que teria sido hooligan na juventude, com participação em episódios de violência, em uma admissão cínica de que se envolveu em “boas e nobres lutas”. De forma semelhante, esgrimiu acusações de envolvimento com prostituição e corrupção.

Trzaskowski também teve que responder a uma série de questionamentos, a maioria relacionada à sua atuação na prefeitura de Varsóvia, que ocupa desde 2018. Anabolizando tudo isso, redes sociais, TikTok principalmente, que já é investigada pela Comissão Europeia desde o fim do ano passado.

A plataforma chinesa foi acusada de não moderar conteúdo político no primeiro turno presidencial na Romênia, que acabou cancelado pela Justiça do país.

Uma vitória de Trzaskowski, além de destravar a agenda doméstica de Tusk, alça a Polônia ao papel de grande protagonista europeu que sua situação econômica e estratégica credencia. No começo do mês, foi notável ver o primeiro-ministro junto com Emmanuel Macron, Friedrich Merz e Keir Starmer em visita surpresa a Kiev no dia que Putin promovia festa em Moscou pelos 80 anos do fim da Segunda Guerra no continente cercado de autocratas e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

Um triunfo de Nawrocki, além de poder forçar a antecipação de eleições parlamentares, traria alento a Trump, que o recebeu no Salão Oval no começo do mês e ainda não celebrou a vitória de um aliado europeu neste segundo mandato.