SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não há dúvidas de que o grande acerto do Popload Festival 2025 foi trazer pela primeira vez ao Brasil a cantora islandesa Laufey. Além de ser claramente a atração certa na hora certa, com as atenções cada vez maiores depois do lançamento de seu segundo álbum, “Bewitched”, ela cumpriu a função de mostrar ao público que é possível fazer música diferente e criativa e, acima de tudo, longe de batidas eletrônicas e clichês pop.

Uma figura divinal no palco, com um voz hipnotizante e um modo muito carinhoso de conversar com o público, ela conquistou a plateia em poucos minutos. Cantou demais. Tocou guitarra, piano e cello. Foi, do começo ao fim, um show arrebatador, com direito a uma amostra do material do novo álbum que ela está gravando.

A mistura sonora que ela propõe passa muito longe do que habitualmente está disponível nas baladas. Laufey faz jazz “moderno”, na definição dela (e o show mostrou que é uma classificação bem apropriada). Mas é possível captar várias influências. Os declarados elementos de bossa nova, tanto nas linhas melódicas quanto na respiração ao cantar, formam um tributo explícito à música brasileira durante todo o show.

Não fica por aí. Predominantemente uma violoncelista na adolescência, tendo integrado a Orquestra Sinfônica da Islândia aos 15 anos, ela dá indícios de rigidez na execução das canções, algo que pode (e deve) ser fruto da disciplina do clássico. Laufey muitas vezes mostra empolgação, ameaça soltar a bela voz de modo mais intempestivo, mas ela nunca atravessa, nunca deixa o tom escapar. Aos 26 anos, ela tem uma afinação draconiana.

Com a alma no jazz, o coração na bossa nova e o cérebro no erudito, no meio disso tudo Laufey consegue demonstrar que sabe muito bem como oferecer uma isca irresistível ao público. Sim, há momentos em que ela cai no pop, e eles funcionam bem num show nas condições de um festival como o Popload, numa pista lotada a céu aberto.

Seus hits, como “Falling Behind”, “Bewitched” e “Goddess”, têm uma arquitetura musical tão agradável que escondem o uso de elementos muito sofisticados para a cartilha da música pop. Num repertório sem uma canção fraca, Laufey usa sua bagagem jazzística e erudita para fazer canções que arrebatam milhões de seguidores no TikTok.

Quem não conhecia Laufey e foi ao Parque Ibirapuera atraído por outros nomes que se apresentaram no festival provavelmente ficou surpreso. É muito difícil falar de um “estilo Laufey”. A ideia é jogar a plateia em ambientações variadas. O que une seu repertório, além do sotaque bossa nova, é um encantamento imediato e irresistível. Isso deixa claro que Laufey chegou para ficar.