SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Muitos fãs maduros na plateia do Popload Festival 2025, que gostavam de bater cabeça nos shows do Sonic Youth nos anos 1980 e 1990, perceberam logo no começo do show de Kim Gordon que agora a música dela se direciona mais aos quadris. A musa da barulhenta juventude sônica quer fazer todo mundo dançar. E algumas pessoas até dançaram.

Dentro da programação do Popload, ela é certamente a figura mais icônica na cena rock. Esse adjetivo está sendo totalmente banalizado hoje em dia, mas Kim Gordon é realmente um símbolo na ascensão do rock alternativo americano na década de 1980. Na distorção de guitarras, o Sonic Youth desconstruiu o rock para recriá-lo pouco palatável, confrontando assim a música que estava nos discos das grandes corporações.

Já são 15 anos desde a extinção do Sonic Youth, e nesse tempo Gordon cumpre uma carreira meio errática, alternando projetos solos e bandas ou parcerias que duraram pouco tempo. A mais relevante é Body/Head, duo com o guitarrista Bill Nace, que lançou três álbuns.

Quem foi ao parque Ibirapuera assistir a sua apresentação pode se considerar uma pessoa de sorte. Porque este é o momento no qual ela apresenta seu repertório mais forte desde o final do antigo grupo. O show teve muitas músicas de “The Collective”, seu segundo álbum solo, lançado no ano passado. O disco teve duas indicações ao Grammy, o que chega a ser engraçado para uma artista que passou a vida fazendo música em oposição às instituições fonográficas.

O show claramente deixou os espectadores um tanto perdidos. Seguindo o espectro sonoro do álbum, Gordon fez três músicas de rock acelerado e no resto do setlist deixou as guitarras distorcidas apenas como uma tênue ligação entre momentos de trap, hip hop, industrial e dub.

Aos 72 anos, a voz rouca continua sedutora, cantando letras que vão da sátira política afiada a versos de pura virulência adolescente. Ela usou moletom com uma evidente frase anti-Trump: “Gulf of Mexico”. Bastou para um ótimo show numa tarde paulistana fria.

Kim Gordon foi o primeiro show “grande” do Popload. A programação começou com a ainda incipiente Exclusive Os Cabides, banda de Florianópolis que transmite nas músicas o mesmo bom humor leve que já é antecipado pelo nome escolhido para o grupo. Como todo novato, o quinteto sofreu com pouca gente diante do palco, antes do meio-dia.

Dois nomes que o público paulistano já conhece bem no circuito musical da cidade fizeram boas apresentações; a rapper Tássia Reis e o grupo de rock pop Terno Rei, este agregando mais interesse ao convidar o veterano Samuel Rosa para uma participação especial.

A novidade da tarde foi o nova-iorquino The Lemon Twigs, comandado pelos irmãos guitarristas e vocalistas Brian e Michael D’Addario. A pegada é puro retorno ao rock que tocava nas rádios americanas há 50 anos. As músicas, as roupas e os cabelos da banda parecem saídos direto de 1974. Um som feito para agradar a uma plateia que tenha afinidade com uma trilha sonora que vai do pop do Pilot ao hard rock do Grand Funk Railroad.