PARIS, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Se pudesse, o técnico do Paris Saint-Germain, Luis Enrique Martínez, 55, comemoraria sua segunda Champions League do mesmo jeito que a primeira, em 2015, quando treinava o Barcelona: entrando no gramado com a filha Xana. Mas, quando lhe perguntam a respeito, o espanhol diz acreditar que a filha, que morreu de um câncer da medula óssea aos nove anos, em 2019, está presente em espírito.

O drama familiar transformou a vida de Luis Enrique, que criou uma fundação com o nome da filha para apoiar crianças sofrem de doenças graves. Também alterou o curso da carreira de um dos treinadores mais bem-sucedidos de sua geração.

Quando a doença foi descoberta, em junho de 2019, ele era o técnico da seleção espanhola. Licenciou-se para dedicar-se ao tratamento da filha. Ela morreu em agosto do mesmo ano. Na volta, Luis Enrique acusou seu substituto interino, Robert Moreno, de ter tentado roubar-lhe o emprego.

Sob o comando de Luis Enrique, a Espanha chegou à Copa do Mundo do Qatar, em 2022, como uma das favoritas. Mas, depois de ter estreado com um impressionante 7 a 0 sobre a Costa Rica, o time espanhol parou de jogar bem. Acabou derrotado nos pênaltis por Marrocos, uma das surpresas do torneio, nas oitavas de final.

A eliminação custou o cargo a Luis Enrique. Depois de um ano, veio o convite do Paris Saint-Germain. A missão parecia ingrata: apesar de seu elenco bilionário, o PSG vinha de seguidos insucessos no mata-mata da Champions League, seu grande objetivo.

Para dificultar a tarefa, Luis Enrique não contaria com o trio de estrelas formado por Lionel Messi, Kylian Mbappé e Neymar. O argentino foi o primeiro a sair, trocando o PSG pelo Inter Miami, dos Estados Unidos. O próprio Luis Enrique fez chegar a Neymar a informação de que não contava com ele. Dias depois, o brasileiro anunciou a transferência para o Al Hilal, da Arábia Saudita.

Restava apenas Mbappé, que mal escondia a vontade de jogar no Real Madrid, o time de seus sonhos. Quando a temporada 2024/25 começou, Mbappé foi embora, e o PSG não contava mais com nenhuma superestrela. “Se estrelas bastassem para ganhar títulos, o PSG teria oito Champions League”, comentou Luis Enrique, na época da saída de Mbappé.

O elenco do PSG continuou bastante forte, sobretudo do meio-campo para trás, com o italiano Gianluigi Donnarumma no gol, o marroquino Achraf Hakimi na lateral direita e o brasileiro Marquinhos na zaga. Com a ajuda do diretor Luis Campos, 60, um ex-treinador português renomado pelo olho clínico para contratar, Luis Enrique achou as peças que faltavam, sobretudo os atacantes Ousmane Dembélé, francês vindo do Barcelona, e Khvicha Kvaratskhelia, georgiano trazido do Napoli, da Itália.

Se em 2015 a primeira Champions podia ser atribuída mais à qualidade dos jogadores que aos méritos do treinador -era o Barcelona de Messi, Suárez, Neymar, Iniesta, Piqué, Daniel Alves-, desta vez os críticos são unânimes em reconhecer o papel de Luis Enrique.

O espanhol moldou o PSG do seu jeito, com ênfase no jogo coletivo e na busca da posse de bola o tempo inteiro, algo que nem sempre se via nos tempos do trio Messi-Neymar-Mbappé. “Amo jogar neste time”, disse Marquinhos, em uma das entrevistas antes da final em Munique.

Depois de dois anos em Paris, Luis Enrique ainda não domina muito bem o francês. Mas seu esforço nas entrevistas agrada em cheio o público local -ao contrário de Neymar, que em seis anos de PSG nunca aprendeu o idioma, o que contribuiu para o desamor entre ele e a torcida.

Como jogador, Luis Enrique foi um meia-atacante polivalente e esforçado. Revelado pelo Sporting Gijón, jogou cinco anos pelo Real Madrid, mas é mais lembrado pelos oito anos no Barcelona. Pela seleção, o momento mais famoso talvez tenha sido na Copa do Mundo de 1994, quando uma cotovelada do italiano Tassotti deixou seu rosto ensanguentado e não rendeu nem sequer um cartão amarelo ao adversário.