SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Cerca de 70 pessoas participaram nesta sexta-feira (30) da competição organizada pela USP para encontrar desafios propostos pelos principais órgãos públicos do setor de energia do país. O concurso é organizado pelo Centro de Inovação para Transição Energética (Etic, na sigla em inglês) e premiará cada grupo vencedor em R$ 5.000.
Participaram do projeto o ONS (Operador Nacional do Sistema), a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), a CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) e a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica). A Cosan, apoiadora financeira do programa, também propôs um desafio.
A Aneel, a primeira a apresentar o desafio, pediu para os participantes resolverem um desafio relacionado a furtos de energia. O órgão quer, com base em dados públicos, desenvolver formas de identificar e classificar áreas onde é difícil mapear restrições operativas devido à alta criminalidade, informalidade, infraestrutura precária ou vulnerabilidade social.
O desafio se limita à área de concessão da CPFL Piratininga, que atende a Baixada Santista. Dentro dessa região, os alunos precisarão encontrar quais são os crimes mais comuns em áreas com restrições de entrega pelos Correios e diferenciar as áreas levantadas.
A temática é importante para o país. Segundo a agência reguladora, o Brasil pede por ano 38 TWh em furto de energia, o que equivale ao consumo do estado do Paraná. Esse total gera prejuízos de R$ 29,7 bilhões para a economia do país.
Já a CCEE, responsável por registrar todos os contratos de energia do setor elétrico e monitorar a comercialização de energia nos mercados regulado e livre, quer receber soluções sobre como simplificar a abertura do mercado livre para milhões de brasileiros.
Hoje, podem fazer parte desse mercado apenas grandes consumidores de energia, de indústrias a médios estabelecimentos, como hospitais e padarias que representam 40,4% do consumo de energia do país. A medida provisória apresentada pelo governo federal na semana passada, no entanto, abre caminho para que todos os consumidores, inclusive pessoas físicas, entrem neste mercado a partir de dezembro de 2027.
Nesse modelo, os consumidores podem escolher seus fornecedores, o que possibilita que o preço da energia comercializada seja menor do que no mercado regulado, onde a compra é feita diretamente com a distribuidora dona da concessão. Segundo a CCEE, a ideia do desafio é simplificar esse acesso e facilitar a escolha do consumidor entre os mais de cem possíveis fornecedores de energia.
A EPE, por sua vez, quer que os participantes ajudem a empresa a entender qual é a contribuição da geração distribuída (painéis solares, geralmente, instalados em telhados) para o sistema elétrico do país. Hoje, estima-se que o Brasil tenha 36 GW (gigawatts) de painéis instalados, quase o dobro da capacidade de Itaipu.
Essa quantidade elevada de energia gerada dentro das próprias unidades consumidoras contribui para os cortes da eletricidade gerada por grandes usinas eólicas e solares no Nordeste e no norte de Minas Gerais hoje, um dos principais gargalos do sistema elétrico brasileiro. Além disso, como a geração de painéis solares, em certos momentos, não passa pela rede elétrica, os órgãos do setor têm dificuldades em monitorar a quantidade de eletricidade que, realmente, está sendo gerada, o que dificulta o controle.
Já o ONS se debruçou sobre a relação entre carga e temperatura. O órgão quer saber se a relação entre os dois fatores é, de fato, causal ou seja, quando a temperatura aumenta, o consumo de energia também aumenta. No senso comum, essa relação tende a ser diretamente proporcional devido ao acionamento de resfriadores e ar-condicionado, mas o ONS quer ter certeza disso.
Essa análise é fundamental para o ONS, responsável por estimar o consumo e geração de energia ao longo dos dias e antecipar, por exemplo, o acionamento de térmicas se necessário.
Por último, a Compass, subsidiária da Cosan e maior distribuidora de gás natural do Brasil, quer soluções sobre como evitar o vazamento de gás da rede para evitar que o metano (28 vezes mais poluente que o CO2) vá para a atmosfera. A empresa também quer encontrar alguma forma de rastrear o biometano injetado nos gasodutos, uma vez que o combustível renovável tem a mesma molécula que o gás natural.
A lei do combustível do futuro, sancionada pelo presidente Lula no ano passado, fixa que a partir de 2026 ao menos 1% da comercialização de gás natural no país seja feita com biometano (a proporção vai subindo gradualmente até atingir 10%).
CONCURSO
Agora, os 15 grupos formados têm uma semana para apresentar soluções para o desafio que escolheu. Na próxima sexta (6), eles precisarão apresentar seus projetos, e uma banca de jurados escolherá os vencedores. Cada desafio, reuniu três grupos, com três a cinco integrantes.