KIGALI, RUANDA (FOLHAPRESS) – O dia 7 de abril de 1994 mudou o destino de Ruanda para sempre. Foi o início de um dos mais sangrentos genocídios da história que, em menos de cem dias, causou a morte de cerca de 1 milhão de pessoas, segundo algumas estimativas. Tudo derivou de uma rivalidade histórica entre duas etnias, os hutus e os tutsis, insuflada pelas décadas em que o país foi colonizado pelos belgas.
Hoje, contudo, o país é considerado um dos mais seguros do continente africano e uma das economias que mais crescem na região, resultado de uma combinação de liderança forte, políticas públicas eficazes e investimento em pessoas.
Se durante aqueles cem dias era quase impossível imaginar como o país se reergueria, quem o visita hoje, 31 anos depois, tem dificuldade de imaginar seu triste passado. Mas isso não significa que Ruanda tenha apagado a sua história. Pelo contrário, faz questão de lembrá-la. Inúmeros acervos sobre o genocídio encontram-se espalhados pelas colinas.
A capital, Kigali, é uma cidade vibrante, moderna e com uma cena cultural crescente, que vale a pena ser visitada em uma estadia curta.
O Memorial do Genocídio é parada obrigatória e urgente para se situar antes de sair para descobrir a cultura e as belezas naturais do país. Estas, inclusive, estão espalhadas em três principais parques nacionais: Parque Nacional dos Vulcões, Parque Nacional da Floresta de Nyungwe e Parque Nacional de Akagera.
O apego à família e o senso de comunidade são típicos da cultura ruandesa. Quase três quartos da população vivem em áreas rurais e em torno de seus núcleos familiares.
O respeito aos anciãos, com seu costume de transmitir os ensinamentos verbalmente, e a importância do coletivo, com práticas pré-coloniais de ajuda mútua, se mantiveram. Foi assim que surgiu o umuganda, um trabalho comunitário no último sábado de cada mês em que toda a sociedade se dedica a limpar ruas, construir escolas e ajudar uns aos outros.
A expressão por meio da arte é outro atrativo. A dança intore, declarada patrimônio imaterial pela Unesco, por exemplo, representa bravura e excelência. Os homens se vestem com uma crina de tom loiro, simbolizando a juba de um leão, e se paramentam com lanças e escudos, além de uma espécie de saia com diferentes cores e sinos amarrados em seus tornozelos. Seus corpos movem-se com vigor, realizando saltos e realçando expressões faciais.
Já as mulheres realizam o balé tradicional, em uma versão mais suave e elegante. Toda a energia é elevada por tambores ingoma, um tipo de harpa chamado de lulunga e instrumentos de sopro, e pode ser apreciada em museus como o Museu Nacional de Ruanda, em Butare e em vilarejos, como IbyIwacu, em Musanze.
O artesanato é outra herança ancestral que vem se transformando. Cestarias e tecelagem são usadas para confeccionar recipientes que podem ser usados para armazenar alimentos e medicamentos. Já o imigongo, uma pintura com formas geométricas feita a partir de esterco de vaca, é uma prática que vem do sudeste, na fronteira com a Tanzânia.
A comida típica do país é enraizada na simplicidade da agricultura de subsistência. Variedades de bananas, mandioca e milho são os alimentos básicos dos locais e também os mais degustados pelos visitantes. Prove o ugali, uma espécie de polenta mais rígida feita com farinha de mandioca ou de milho; o isombe, um ensopado preparado com folhas de mandioca amassadas; e o matoke, que consiste em banana-da-terra cozida no vapor ou assada.
Para conhecer o país, é preciso planejamento. Primeiro, defina o que gostaria de se aprofundar, pois os parques ficam a bons quilômetros de distância de Kigali percursos que podem ser feitos de helicóptero, carro alugado ou transfers. Definido isso, verifique a época: a estação seca vai de junho a setembro e de dezembro a fevereiro, enquanto a chuvosa vai de março a maio e de setembro a novembro.
Por fim, reserve um bom orçamento, pois, embora as opções de estadia sejam mais em conta do que a média, as experiências em si têm preços mais elevados. Os safáris e a caminhada para ver os chimpanzés, por exemplo, começam por US$ 100 (cerca de R$ 566), enquanto a aventura para estar perto dos gorilas custa US$ 1.500 (R$ 8.500) por pessoa. Por último, brasileiros precisam de visto para entrar no país, que pode ser solicitado online.