O bilionário Elon Musk oficializou, nesta quarta-feira (28), sua saída do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), estrutura criada no início do ano pela nova gestão de Donald Trump com a missão de enxugar gastos públicos. Musk ocupava o posto de Special Government Employee — uma função temporária que permite colaboração com o governo por até 130 dias ao ano. Esse limite foi atingido em maio, tornando seu desligamento inevitável.

A Casa Branca confirmou ao site Semafor que o rompimento se daria ainda na noite de quarta-feira. Em publicação feita na plataforma X — da qual é dono — Musk agradeceu a Trump pela oportunidade e disse acreditar que o DOGE “se tornará um estilo de vida em todo o governo americano”, prevendo que a agência ganhará força mesmo com sua saída.

Apesar de já esperada, a saída veio na esteira de críticas públicas feitas por Musk a um dos projetos legislativos mais ambiciosos da nova administração Trump: um pacote de isenções fiscais trilionárias e aumento dos gastos militares. Em entrevista à CBS, o empresário classificou a proposta como decepcionante e alertou que ela agravaria o déficit federal, comprometendo a missão do DOGE.

“Foi frustrante ver um pacote orçamentário tão inflacionado, que vai contra tudo o que defendemos com o DOGE”, afirmou Musk em um trecho da entrevista que irá ao ar no CBS Sunday Morning de 1º de junho.

Tesla sofre boicotes e prejuízos durante fase política de Musk

A incursão de Musk na política teve alto custo, inclusive financeiro. Durante o período em que atuou no governo, a Tesla, sua montadora de carros elétricos, enfrentou quedas nas vendas, prejuízos e boicotes promovidos por críticos de seu envolvimento com Trump. Estações de recarga foram vandalizadas, veículos atacados, e a procuradora-geral dos EUA chegou a classificar esses atos como “terrorismo doméstico”.

O próprio Musk já havia sinalizado aos investidores que sua dedicação ao DOGE diminuiria a partir de maio, com foco redobrado na Tesla. A promessa surtiu efeito: após semanas de queda, as ações da empresa voltaram a subir após ele reafirmar, em um fórum econômico no Catar, o compromisso de liderar a montadora pelos próximos cinco anos.

Demissões em massa e cortes extremos marcaram a gestão Musk no DOGE

À frente do DOGE, Musk protagonizou decisões polêmicas e radicais, incluindo a demissão de cerca de 260 mil funcionários públicos e propostas para o fechamento de agências federais inteiras. Algumas das demissões foram revertidas por ordem judicial, especialmente as que afetaram setores estratégicos como o programa nuclear norte-americano.

Mesmo com o desgaste público, Trump sempre defendeu o bilionário, dizendo em abril à BBC que a saída dele já estava prevista. “Chega um momento em que temos que deixá-lo ir”, afirmou o ex-presidente, elogiando Musk como “grande patriota” e criticando a recepção negativa que ele enfrentou. “Foi tratado de forma injusta pelo público.”

Racha político expõe desgaste entre Musk e Trump

As críticas de Musk vieram em momento delicado para o governo. A proposta orçamentária de Trump foi aprovada na Câmara por uma margem apertadíssima — 215 a 214 —, com todos os democratas e dois republicanos votando contra. Trump comemorou a vitória, afirmando que se tratava de “possivelmente a proposta legislativa mais significativa já assinada”.

O pacote prevê, entre outras medidas, o fim de impostos sobre gorjetas e horas extras e um reforço no financiamento da segurança de fronteiras — todas promessas de campanha. No entanto, de acordo com o Comitê para um Orçamento Federal Responsável, a proposta deve adicionar ao menos US$ 3,3 trilhões à dívida federal nos próximos dez anos — podendo chegar a US$ 8,5 trilhões caso partes temporárias da medida sejam estendidas.

Durante o fórum no Catar, Musk foi direto ao comentar o futuro de sua atuação política: “Pretendo fazer muito menos no futuro. Acho que já fiz o suficiente.”

Sua saída do governo marca o fim — ou pelo menos uma pausa — de uma das alianças mais controversas da política americana recente: o casamento entre o vale do silício e a ala populista do Partido Republicano.