SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Por iniciativa do vice-prefeito, coronel Mello Araújo (PL), e do subprefeito da Mooca, Marcos Vinícius Valério, a Prefeitura de São Paulo criou, na última segunda-feira (26), um grupo de trabalho para analisar e “propor soluções para a transferência dos centros de acolhimento” instalados no bairro da zona leste da capital paulista.

Os serviços municipais têm capacidade para atender 7.860 pessoas por dia na região, sendo 4.310 delas para acolhimento.

A medida é semelhante à que foi anunciada por Mello na semana passada. Segundo ele, a gestão de Ricardo Nunes (MDB) estuda uma redução no número de equipamentos de assistência social na região central.

O grupo de trabalho —coordenado pelo chefe de gabinete da Smads (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social), Ronaldo Fernandes de Paula— fará “visitas técnicas e vistorias nos locais atuais e em possíveis imóveis para realocação” dos equipamentos de atendimento, para propor critérios para “a seleção de novos imóveis” e “elaborar propostas de plano de transferência”.

O supervisor de assistência social da subprefeitura da Mooca, Mauro Pereira da Silva, também faz parte da equipe. Ele ficou conhecido depois da divulgação de um vídeo em que ofendia o padre Júlio Lancellotti, coordenador da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo e conhecido por seus projetos voltados para o atendimento a pessoas em situação de rua na região.

A portaria que criou o grupo dá 15 dias para a apresentação de “um diagnóstico e relatório preliminar das ações realizadas, das providências, mesmo que vislumbradas, a serem adotadas e das propostas de imóveis compatíveis” para a mudança.

Segundo o documento, o grupo foi criado com base em relatos do vice-prefeito e do subprefeito da Mooca, que também é oficial da reserva da PM.

Um dos documentos, assinado por Valério, aponta para problemas de limpeza urbana, segurança e circulação de veículos na região da praça Barão de Tietê, em razão da concentração de pessoas em situação de rua.

O texto cita o Núcleo de Convivência São Martinho de Lima, a Paróquia São Miguel Arcanjo, o Centro Comunitário Santa Dulce dos Pobres, vinculado à Paróquia São Miguel Arcanjo, e tendas da prefeitura.

O texto também pede a transferência do Núcleo de Convivência São Martinho de Lima para uma área “preferencialmente não residencial”, além de mirar equipamentos instalados nas ruas Marcos Arruda, Joaquim Carlos, Catumbi e São Leopoldo.

Apesar de também citar “inadequação, insalubridade e dimensionamento reduzido dos atuais (…) equipamentos”, a portaria se baseia em comunicados que não citam esses problemas, apenas mostram a pressão de alguns comerciantes e moradores da região que apontam incômodos pela presença dessas pessoas no bairro.

Entre os documentos registrados na prefeitura, estão pedidos feitos por Consegs (Conselhos Comunitários de Segurança) dos bairros que fazem parte da subprefeitura.

Procurados pela Folha, dois dirigentes desses conselhos, que não quiseram se identificar, afirmaram não ter qualquer relação com as medidas e não ter participação no que está sendo feito. Uma delas aparece como signatária de um dos documentos usados para embasar os pedidos.

Em nota, a prefeitura afirma que “a atual gestão segue comprometida com as demandas da população em situação de vulnerabilidade e mantém um trabalho constante para otimizar o atendimento já disponibilizado na rede socioassistencial existente. O território da Subprefeitura Mooca possui um dos maiores serviços de acolhimentos da cidade e, portanto, está inserido em avaliações constantes da atual administração”.

A prefeitura não respondeu perguntas sobre denúncias de falta de condições dos equipamentos atuais, punições às entidades que prestam os serviços sem a qualidade necessária e a consulta prévia a moradores de locais que receberiam os espaços.

Documentos internos da SMADS apontam a importância dos serviços da rede socioassistencial que foram “implantados para atender o aumento vertiginoso da população em vulnerabilidade social na região dentro do espaço de abrangência da SAS (Supervisão de Assistência Social) Mooca”.

“Se tirar a gente daqui, a prefeitura vai bagunçar mais, não é fácil nos locomover para outros bairros”, diz Reginaldo Sabino, 44, atendido pelo centro São Martinho de Lima. Alexandre Gabriel Quirino, 33, que também estava no local, acredita que a prefeitura terá dificuldade de encontrar outros bairros para atendimentos.

A Paróquia São Miguel Arcanjo e o Centro Comunitário Santa Dulce dos Pobres são geridos pela equipe do padre Lancellotti, que ressalta não receber recursos da administração municipal e que, portanto, não será alvo do grupo de trabalho da prefeitura.

O religioso diz que a administração municipal pode gerir melhor o valor que é gasto na região, mas que a retirada dos centros de atendimento pode prejudicar ações comunitárias que funcionam. “Ninguém mora na rua para comer o pão que é feito pela padaria do padre”, diz.