SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em nova ameaça contra estrangeiros que estudam em universidades dos Estados Unidos, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou na noite desta quarta-feira (28) que Washington vai começar a revogar vistos de alunos da China.

Sem dar detalhes, Rubio escreveu na plataforma X que serão impactados “aqueles que têm ligações com o Partido Comunista Chinês ou que estudam em áreas críticas”. Ele não disse quantas pessoas serão atingidas ou explicou quais setores o governo considera sensíveis.

A declaração de Rubio ecoa acusações sem provas feitas pelo governo de Donald Trump de que alunos chineses nos EUA estão, na verdade, infiltrados e trabalhando para o líder do país asiático, Xi Jinping.

Na semana passada, a secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, afirmou, também sem apresentar quaisquer evidências, que a Universidade Harvard estaria envolvida numa colaboração com o Partido Comunista. Entre as acusações, está a de que a universidade teria treinado membros de uma organização paramilitar chinesa mesmo após ela ter sido alvo de sanções dos EUA, o que a instituição nega.

De acordo com dados do Escritório Internacional de Harvard (com a ressalva de que podem não representar a totalidade dos números), a nacionalidade estrangeira mais presente entre os estudantes é a chinesa. São 1.282 alunos vindos da China, seguidos por 555 canadenses, 467 indianos, 252 sul-coreanos e 242 britânicos. O mesmo levantamento contabiliza 123 brasileiros matriculados em Harvard.

Em todo o país, os chineses representam o segundo maior grupo de estudantes estrangeiros, atrás somente de alunos da Índia. No ano letivo de 2023-2024, mais de 270 mil alunos internacionais eram da China, o que representava cerca de um quarto de todos os estudantes estrangeiros nos EUA, segundo o Instituto de Educação Internacional, organização sem fins lucrativos dedicada à promoção do intercâmbio educacional global.

A associação de universidades com “inimigos externos” não é nova. Durante o primeiro mandato, Trump promoveu uma ofensiva contra a presença de estudantes chineses no país. Em 2020, revogou mais de mil vistos de pós-graduandos sob o argumento de que estariam ligados a universidades militares da China.

O anúncio de Rubio aumenta a insegurança de estudantes internacionais nos EUA, que têm lidado com um escrutínio cada vez maior durante o governo Trump. Na terça-feira (27), o governo ordenou que suas missões no exterior suspendessem o agendamento de novas entrevistas para vistos de estudantes e alunos de intercâmbio, enquanto o Departamento de Estado se prepara para ampliar a checagem de redes sociais desses candidatos.

Antes, o governo Trump já havia proibido a Universidade Harvard de matricular estudantes estrangeiros, mas a decisão foi bloqueada por uma juíza federal. Nesta quarta, Trump disse que a instituição deveria ter um teto de 15% de estudantes estrangeiros para que ela se torne “grande novamente” –uma referência nada velada ao seu slogan político, “faça a América grande novamente”.

A disputa de Harvard com Trump e com outras universidades de elite nos EUA tem origem nos protestos estudantis pró-Palestina em 2024, quando alunos ocuparam prédios em vários campi do país exigindo o fim da cooperação das instituições com Israel como forma de se posicionar contra a guerra na Faixa de Gaza. Segundo o republicano, as manifestações foram antissemitas.

Trump também sugeriu utilizar o dinheiro retirado da universidade para financiar escolas técnicas. Harvard processa o governo federal para reaver o dinheiro cortado, argumentando que apenas o Congresso teria poder de eliminar as verbas. Desde o mês passado, o governo congelou cerca de US$ 3,2 bilhões em subsídios e contratos com a instituição.