SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Azul anunciou nesta quarta-feira (28) que entrou com pedido de Chapter 11 (equivalente à recuperação judicial) nos Estados Unidos, numa tentativa de reorganizar suas dívidas. O acordo com parceiros comerciais inclui US$ 1,6 bilhão em financiamento ao longo do processo e a eliminação de US$ 2 bilhões de dívida.

Como adiantou a coluna Painel S.A., a companhia colocou a fusão com a Abra, dona da Gol, no congelador, mas conseguiu atrair dois sócios de peso: as rivais United e American Airlines.

As ações da Azul fecharam o dia em queda de 2,8%, a R$ 1,03. A B3 anunciou a retirada da Azul de todos os índices acionários, inclusive do Ibovespa, a partir do fechamento do mercado de quinta-feira (29).

Entenda abaixo os principais pontos do processo de Chapter 11 da companhia.

O QUE ACONTECEU COM A AZUL?

A companhia aérea ingressou com pedido de Chapter 11 (equivalente à recuperação judicial) na Justiça americana.

A empresa firmou acordos de apoio à reestruturação com seus principais parceiros financeiros, incluindo bondholders (detentores de títulos de dívida), a AerCap, maior arrendadora de aeronaves da Azul e que representa a maior parte da fatia de dívidas de arrendamento (algo como aluguel de aviões) da Azul, e com as parceiras United Airlines e American Airlines.

Os acordos incluem um compromisso de aproximadamente US$ 1,6 bilhão em financiamento ao longo do processo de Chpater 11 e a eliminação de US$ 2 bilhões de dívida, além de até US$ 950 milhões em financiamento adicional na conclusão do processo.

A Azul, até então, não tinha optado pela recuperação judicial. Em 2024, a empresa deu início a um processo de reestruturação, concluído em janeiro deste ano, para tentar aliviar preocupações de investidores sobre sua situação financeira.

No começo deste ano, a companhia aérea havia dito que se viu, em 2024, diante de cenários externos além do seu controle. A empresa citou desvalorização do real frente ao dólar, custos elevados de operação impactados pelo preço do querosene de aviação, alto índice de judicialização no setor, crise na cadeia de produção e as enchentes no Rio Grande do Sul, que interromperam a operação no aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre.

O PEDIDO DA AZUL AFETA A OPERAÇÃO DA EMPRESA NO BRASIL?

Não. A empresa continua a operar normalmente.

A Azul afirma, inclusive, que protocolou petições junto ao tribunal americano para apoiar a continuidade das operações, incluindo a manutenção dos programas de remuneração e benefícios aos funcionários.

AINDA É POSSÍVEL COMPRAR PASSSAGENS AÉREAS DA EMPRESA?

Sim. A companhia disse que seguirá cumprindo os compromissos com os clientes e com passagens comercializadas para viagens futuras e benefícios do programa Azul Fidelidade.

A AZUL ESTÁ FALINDO?

Não, o processo de recuperação judicial (ou Chapter 11) é feito para evitar uma eventual falência.

Os credores -instituições financeiras e lessores (proprietários das aeronaves alugadas à companhia)- assinaram um documento em que se comprometem a renegociar os créditos em troca de participação acionária.

O QUE ACONTECE COM AS AÇÕES DE UMA EMPRESA EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL?

A B3 anunciou a retirada da Azul de todos os índices acionários, inclusive do Ibovespa, a partir do fechamento do mercado de quinta-feira (29). As ações serão alocadas em uma categoria batizada de “outras condições” e poderão ser negociadas normalmente.

A decisão sucede o pedido de recuperação judicial e é de praxe em situações como essa. O mesmo aconteceu com a Gol, por exemplo, quando a companhia aérea também protocolou o pedido de recuperação no ano passado.

VALE A PENA COMPRAR AÇÕES DE EMPRESAS EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL?

Joana Bontempo, chefe da área de recuperação judicial do CSMV Advogados, diz que investir em ações de empresas em recuperação judicial envolve alto risco.

“Embora possa haver potencial de valorização se a recuperação for bem-sucedida, há também a possibilidade de perdas significativas, incluindo a perda total do investimento caso a empresa vá à falência. Esse tipo de investimento é mais adequado para investidores com perfil arrojado e que compreendam os riscos envolvidos”, diz.

Segundo Andressa Kassardjian Codjaian, advogada da área de recuperação judicial do PGLaw, enquanto a empresa estiver em recuperação judicial, o valor da ação pode oscilar e o cenário é de maior instabilidade.

O QUE ACONTECE COM AS MINHAS AÇÕES SE A EMPRESA FALIR?

Se a reorganização financeira prevista no Chapter 11 não der certo e a empresa falir, os acionistas viram credores e, normalmente, são os últimos a receber o valor da dívida, segundo Marco Noernberg, chefe de renda variável da Manchester Investimentos.

“Vamos supor que a gente vai liquidar a empresa. Os primeiros a receber são governo, empregados, parte tributária também, e os últimos são os acionistas. Normalmente, o que acontece é que a ação na Bolsa deixa de ser negociada. Se, eventualmente, sobrar um residual da liquidação da empresa, os acionistas recebem depois, mas, na grande maioria dos casos, não recebem nada. E o valor se perde por completo”, diz Noernberg.

QUANDO TERMINA A RECUPERAÇÃO JUDICIAL?

Por enquanto ainda não há data prevista para o término do Chapter 11. A expectativa da Azul é de que o processo dure de seis a nove meses.