SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A dispersão dos usuários de drogas que ficavam na rua dos Protestantes, na Santa Ifigênia, levou para para a praça Marechal Deodoro uma dinâmica já conhecida da cracolândia: a montagem de bancas para a venda de produtos.

A praça no bairro da Santa Cecília, também no centro de São Paulo, tem visto nos últimos meses um aumento da presença de usuários de crack. Após a saída dos dependentes do ponto principal, na Protestantes, esse movimento continuou, de acordo com moradores da região.

A colocação das banquinhas para venda de produtos é comum nas principais concentrações da cracolândia desde o tempo que os usuários ocupavam a região próxima da estação Júlio Prestes —ponto onde por duas décadas ficou o fluxo, como é chamada a aglomeração de dependentes químicos.

No início de 2022, os usuários deixaram o local e após alguns meses na praça Princesa Isabel, teve início uma migração para diferentes pontos do centro que segue até os dias de hoje.

Com essa mudança dos dependentes, a presença das bancas foi vista em outros locais, como as ruas dos Gusmões, Helvétia e Vitória, entre outras.

Mas a chegada dessa situação na Marechal, ao lado do Minhocão e próxima ao bairro de Higienópolis, é uma novidade e indica um aumento da organização do fluxo naquele espaço.

As banquinhas também funcionam como uma espécie de aviso aos usuários de que há venda de crack e de outras substâncias ilegais no local. Traficantes já atuam na praça, principalmente durante a noite e a madrugada.

A reportagem teve acesso a imagens registradas nesta segunda (26) e terça (27) que mostram essa situação, além de ter conversado com moradores que confirmam o cenário. A reportagem também passou ao lado praça e viu a existência das bancas.

Os produtos são oferecidos sobre caixotes de madeira ou caixas de papelão, com uma variação que inclui cachaça barata, vendida em minibarris de plástico, roupas, cachimbos e drogas, principalmente o crack.

Tal prática é conhecida entre os dependentes químicos como “shopping cracolândia”. Muitos deles aproveitam essas bancas para vender produtos que conseguiram encontrar e, assim, adquirir dinheiro para comprar drogas ou para outros gastos.

Os frequentadores costumam ocupar a praça e parte das calçadas, e o grupo chega a reunir mais de 50 pessoas. Apesar desta ser uma das maiores aglomerações de usuários de drogas nesta região do centro atualmente, o número é bem inferior ao visto em outras concentrações da cracolândia nos últimos anos.

Na rua dos Protestantes, por exemplo, o levantamento feito por drones pela Prefeitura de São Paulo no ano passado apontava em média a presença de 280 pessoas. Já em maio de 2023, eram cerca de 400 usuários em um ponto da rua Guaianases.

Um morador, que pediu para não ter seu nome divulgado por temer represálias dos usuários e de traficantes que atuam no local, disse que o grupo fica na praça Marechal até a chegada da polícia, que consegue retirar a aglomeração momentaneamente.

Mas logo que os PMs e guardas-civis metropolitanos saem, porém, tudo volta ao normal, com o retorno dos dependentes químicos e das vendas.

Desde a dispersão no começo do mês, os dependentes químicos vagam por ruas do centro acompanhados de perto pelas forças policiais, sem conseguirem formar grandes aglomerações.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) disse que as forças estaduais e municipais realizam, desde o início do mês, monitoramento de possíveis pontos de aglomeração na região. “A ação visa qualificar os usuários, informá-los sobre os serviços de saúde e assistência social disponíveis e orientá-los a buscar os locais destinados ao acolhimento”, diz o texto.

A pasta acrescentou que o trabalho tem objetivo de impedir o tráfico de drogas. “Durante as abordagens, os usuários são identificados, orientados e submetidos à revista pessoal, com a retirada de objetos considerados de risco, como facas, armas e outros utensílios perigosos”.

Procurada, a gestão Ricardo Nunes (MDB) disse que a população em situação de vulnerabilidade na região da praça recebe atendimento contínuo de abordagens e encaminhamentos das equipes do programa Consultório na Rua. “Neste ano, foram feitas 778 abordagens, 11.510 atendimentos individuais e 3.176 ações de redução de danos”, afirmou a Secretaria Municipal da Saúde, em nota.

A pasta disse também que a área é monitorada e que agentes de assistência social realizaram em maio 197 atendimentos, com 111 encaminhamentos para acolhimento. Ainda de acordo com a prefeitura, a Guarda Civil Metropolitana faz patrulhamento permanente e preventivo 24 horas na região.