SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, disse nesta quarta (28) que a Rússia concentrou mais de 50 mil soldados na região de Kursk para uma ofensiva contra o nordeste do país que já teve suas primeiras salvas nesta semanas.

Ele confirma assim a avaliação feita à Folha por integrantes do entorno do Kremlin e da Defesa russa, publicada na segunda (26), acerca da ameaça de Putin de agir com a chegada do verão do Hemisfério Norte, quando fica mais fácil se deslocar sem a neve usual no terreno.

O número de 50 mil havia sido calculado por monitores independentes e circulado na imprensa europeia no fim de semana, a partir de imagens de satélite. Segundo Zelenski, ele inclui “as mais fortes” unidades militares dos russos.

O presidente disse, contudo, que “tomou medidas” para evitar que a ofensiva seja bem-sucedida. Segundo ele, o avanço sobre cidadezinhas fronteiriças na região de Sumi está sendo contido, ainda que sites de monitoramento como o referencial DeepState, que é ucraniano, não indiquem ainda isso.

Já blogueiros militares e analistas russos afirmam que a ofensiva maior pode ou não acontecer lá, podendo ser um diversionismo para um ataque em outras parte da frente de batalha. Nesta quarta, a Rússia anunciou ter tomado Kostiantinivka, em Sumi, e Zelene Pole, em Donetsk (leste).

O que parece certo é que a carta da escalada militar está na mesa para pressionar Kiev enquanto Moscou prepara sua proposta prévia de acordo de paz. No fim de semana, Putin promoveu os maiores ataques aéreos da guerra até aqui, atraindo renovadas críticas do governo de Donald Trump.

A ameaça de uma ofensiva maior também pode servir a um propósito mais localizado, como apontou Zelenski, de criar uma nova zona de ocupação fronteiriça no norte e nordeste da Ucrânia que acabe sendo absorvida numa negociação de paz.

Isso, na visão russa, dificultaria ataques futuros como a invasão de Kursk pelos ucranianos em agosto de 2024, uma humilhação militar que Putin só desfez com a retomada em março deste ano.

No campo da troca de fogo aéreo, a Rússia diminuiu a intensidade dos ataques, mas não muito: foram lançados 88 drones e cinco mísseis balísticos nesta noite. Já Kiev manteve força total da semana passada, com os russos dizendo ter derrubado 112 drones —supondo assim um contingente ainda maior lançado.