SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O cineasta Mohammed Lakhdar-Hamina, o primeiro árabe e africano a ganhar a Palma de Ouro, principal prêmio do Festival de Cannes, morreu na última sexta-feira (23). A informação foi divulgada pela família. Ele tinha 91 anos.

O diretor argelino ganhou o prêmio, o mais cobiçado de um dos mais importantes festivais de cinema do mundo, em 1975, pelo filme “Crônica dos Anos de Fogo”. O longa é um drama histórico que acompanha a guerra pela independência da Argélia.

Em seis capítulos, “Crônica dos Anos de Fogo” abrange a história do país de origem do diretor entre 1939 e 1954, contada através de pessoas comuns. A Argélia estava sob domínio colonial pela França havia mais de 100 anos, e o conflito sangrento durou até 1962.

Mohammed Lakhdar-Hamina competiu quatro vezes em Cannes e já havia sido premiado em 1967. Na ocasião, venceu na categoria de melhor obra de estreia, com “The Winds of the Aurès”, que retratava a vida argelina sob a colonização francesa, e foi o primeiro filme do país a ter destaque internacional.

O próprio cineasta nasceu, em 1934, na região montanhosa dos Aurès -na cidade de Massila, no sudeste da Argélia. Filho de camponeses, ele foi até Antibes, no litoral sul da França -perto, aliás, de Cannes-, para completar os estudos em agricultura.

Lakhdar-Hamina perdeu o pai, que foi raptado, torturado e assassinado pelo exército francês durante a guerra. Ele foi recrutado para integrar o exército dos colonizadores e se recusou, indo à Tunísia em 1958 para se juntar à resistência argelina. Essas experiências inspiraram os filmes que passou a criar a partir da década seguinte.

“Antes de ser um realizador criativo que deixou uma marca indelével na história do cinema mundial, [Lakhdar-Hamina] foi um digno combatente que contribuiu para a libertação do seu país através de imagens e cenas que mostraram à humanidade o heroísmo da gloriosa revolução de libertação”, disse agora o Presidente da Argélia, Albdelmajid Tebboune, segundo o veículo português Público.