SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A mata atlântica tem 9,8% de sua área protegida por unidades de conservação, o equivalente a 12,86 milhões de hectares —tamanho similar ao da Grécia. Esse dado faz parte de um levantamento inédito divulgado nesta terça-feira (27), no Dia Nacional da Mata Atlântica.

De acordo com a Fundação SOS Mata Atlântica, responsável pelo estudo, o número é abaixo do necessário e acende alerta sobre a fragilidade do bioma. A pesquisa mostra, ainda, que o agronegócio, principal vetor do desmatamento, ameaça a floresta até dentro das unidades de conservação.

Para chegar aos dados, a ONG considerou a área da Lei da Mata Atlântica e as delimitações das unidades de conservação, eliminou e qualificou sobreposições no território e analisou a representatividade ecológica das áreas (diversidade das formações vegetais).

Segundo Diego Igawa Martinez, coordenador de projetos da SOS Mata Atlântica, a proteção é mal distribuída e muitas unidades não conseguem cumprir o papel que deveriam. Ele afirma que é preciso avançar na criação de novas áreas de forma estratégica e fortalecendo a implementação de todo o sistema.

“As unidades de conservação são importantes para manter os níveis altos de biodiversidade, abundância de espécies. Elas também atuam para a manutenção dos serviços ecossistêmicos, proteção da água, estabilidade climática, entre outras questões. Porém, essa proteção ainda ocupa uma porcentagem pequena em relação a todo o território do bioma”, frisou.

O levantamento também examinou os usos do solo dentro das unidades de conservação. Essa análise identificou a presença de atividades como pastagens, agricultura e áreas degradadas em espaços que, segundo a ONG, deveriam estar voltados prioritariamente à conservação.

Conforme o estudo, quase 2 milhões de hectares das unidades de conservação são áreas de pasto e a maior parte da vegetação nativa remanescente da mata atlântica —mais de 80%— está fora dessas áreas legalmente protegidas.

Martinez explica que a mata atlântica possui diferentes geografias e realidades ao seu redor. As regiões com maior taxa de desmatamento vinculado à expansão do agronegócio estão nas zonas de transições com o cerrado e a caatinga, diz ele.

“Os estados de Minas Gerais, Piauí e Bahia ainda concentram uma parte bastante expressiva do desmatamento vinculado ao agro. Por outro lado, existe um desmatamento vinculado à expansão urbana, à especulação imobiliária, mas isso de forma bastante localizada nas regiões metropolitanas.”

O RAD (Relatório Anual do Desmatamento), divulgado no último dia 15 pela rede MapBiomas, aponta que o Brasil teve uma redução de 32,4% no desmatamento no ano passado, em relação a 2023. Pela primeira vez nos últimos seis anos, todos os biomas tiveram queda no desmatamento, com exceção da mata atlântica, que registrou estabilidade.

A mata atlântica perdeu 13.472 hectares de vegetação em 2024, contra 13.212 em 2023. Os eventos extremos representaram 22% de toda essa perda no ano passado, ou seja, 3.022 hectares, impulsionados pelas chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul. Em 2023, a supressão de mata associada aos desastres naturais foi de aproximadamente 150 hectares.

“Se a gente não olhar apenas para os dados recentes, mas sim para todo o histórico de desenvolvimento de atividades antrópicas, menos de 30% do território de toda a área considerada pela lei da Mata Atlântica está coberta efetivamente por florestas primárias ou por florestas secundárias, que se regeneraram ao longo do tempo”, disse Martinez.

O novo estudo da SOS Mata Atlântica destaca, também, o papel das RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural) que protegem 80% dos remanescentes florestais do bioma. Para a ONG, uma estratégia para fortalecer a rede de proteção é ampliar os incentivos à criação e manutenção dessas propriedades privadas.

Em relação à crise climática, as unidades de conservação contribuem para regulação do clima, armazenamento de carbono e resiliência dos ecossistemas. Contudo, a atual cobertura ainda é insuficiente para dar uma resposta à altura dos desafios climáticos, aponta o levantamento.

A SOS Mata Atlântica enfatiza o vínculo com a meta 30×30, estabelecida pelo Marco Global da Biodiversidade e assumida pelo Brasil em sua EPANB (Estratégia e Plano de Ação Nacional para Biodiversidade) para alcançar o desmatamento zero. Esse compromisso prevê que ao menos 30% das áreas terrestres e marinhas estejam protegidas até 2030.