SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Corinthians é hoje presidido por Osmar Stabile, 71, figura que faz parte de sua política desde o início do século. O empresário assumiu interinamente o cargo maior do clube após o afastamento de Augusto Melo, em votação do Conselho Deliberativo na noite de segunda-feira (26).
Será uma assembleia geral de sócios que vai dar a resposta definitiva sobre o impeachment entre junho e julho, com data ainda a ser confirmada. Se os associados referendarem a decisão do Conselho, o próprio Conselho fará uma eleição para um mandato-tampão até dezembro de 2026.
Augusto prometeu lutar “até o final” para voltar à cadeira de presidente. Enquanto isso, quem toca o barco é Stabile, que era o primeiro vice-presidente na chapa de Melo e dele se distanciou ao longo do mandato, iniciado em janeiro de 2024 e cercado de denúncias o presidente foi indiciado sob suspeita de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro.
Osmar manteve seu cargo estatutário, sem efetivamente participar da gestão. Se não apoiou declaradamente o impeachment, contra ele não lutou. E, agora, ainda que provisoriamente, tem o cargo com que sonhava havia décadas.
“As valiosas páginas de conquistas e lutas do Sport Club Corinthians Paulista não podem mais ser manchadas por escândalos. Sempre fomos um clube que soube superar momentos de turbulência com raça, coragem e, sobretudo, com a força da união”, declarou, em seu discurso de posse.
Conselheiro desde 2002, foi nomeado por Alberto Dualib, presidente do clube de 1993 a 2007. Vice-presidente de esportes terrestres, desembarcou da diretoria em meio a outro processo de impeachment, que resultou na renúncia de Dualib.
Stabile, então, apresentou-se como candidato ao mandato-tampão da ocasião, em eleição indireta, definida pelo Conselho. Em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada no dia da eleição, em 9 de outubro de 2007, afirmou: “O time não é tão ruim como todos falam, a ideia é mantar a espinha dorsal”.
Andrés Sanchez venceu. E, menos de dois meses, aquele time “não tão ruim” estava rebaixado à segunda divisão do Campeonato Brasileiro.
Sócio-fundador da Bend Steel, empresa do ramo de usinagem, tornearia e solda, Stabile voltou a ser derrotado por Andrés na eleição de 2009. Depois, como vice, perdeu também nas chapas encabeçadas por Antônio Roque Citadini em 2012 e 2018.
Já em 2019, chamou a atenção ao assumir a autoria de um vídeo pró-ditadura militar divulgado pelo governo de Jair Bolsonaro. Em nota sobre o golpe de 1964, disse que “os esforços de nossas Forças Armadas evitaram males políticos maiores para a nação”.
Agora, preside um clube que se posicionou contra a ditadura, jogou nos anos 80 com a palavra “democracia” na camisa e teve jogadores fichados no Dops (Departamento de Ordem Política e Social, o órgão repressor da ditadura). Por isso, em sua primeira entrevista, teve de fazer uma retratação. Ou quase isso.
“Nem gostaria de falar desse assunto no Corinthians, pois não podemos falar de política e religião. Pedi desculpas aos que se sentiram prejudicados. Errei, digo que errei, e estou aqui para falar: o presidente do Brasil é o Luiz Inácio Lula da Silva, e torço para ele dar certo. Eu dou empregos, tenho empresas e quero que o Brasil dê certo.”