SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O escritor e crítico literário britânico Jude Cook prepara o lançamento da editora Conduit Books, que terá como foco declarado a publicação de livros escritos por homens.

Ao jornal The Guardian, Cook diz que “nunca houve uma editora independente que defendesse a ficção literária escrita por homens”.

Estante mostra livro de autores homens em sebo paulistano Bruno Santos Folhapress A imagem mostra uma estante de livros com várias obras organizadas. Segundo Cook, a Conduit Books não pretende excluir autores negros, queer, não binários ou neurodivergentes e pode até publicar mulheres no futuro -mas o foco inicial será em autores homens que produzem uma “ficção ambiciosa, engraçada, política e cerebral que está sendo deixada de lado”.

“Essa nova geração de jovens autoras, liderada por Sally Rooney e outras, deu início a um renascimento da ficção literária escrita por mulheres, gerando uma situação em que histórias de jovens autores homens muitas vezes são ignoradas, com a percepção de que a voz masculina é problemática”, diz Cook.

A Conduit Books, então, pretende resgatar essas “narrativas negligenciadas” que podem tratar de paternidade, masculinidade, experiências de homens da classe trabalhadora, sexo, relacionamentos e os desafio de navegar o século 21 como homem.

O empreendimento desafia um momento do mercado editorial em que autoras mulheres são mais publicadas e presentes em premiações e estantes de leitores do que eram na virada do século, como afirma o próprio editor.

Em matéria publicada no site americano de notícias Vox, a jornalista Noel King entrevistou Ross Barkan -jornalista e romancista branco e heterossexual de 35 anos, que tem publicado artigos sobre a ideia de que há hoje menos autores homens jovens do que houve em outras gerações.

Mas Barkan se refere a um nicho específico: a ficção literária que almeja prêmios e prestígio crítico. “Há muita coisa acontecendo com os jovens homens hoje. Brancos e não brancos, heterossexuais -estão ficando para trás academicamente. Estão cada vez mais alienados. Estão cada vez mais irritados. Estão cada vez mais online. E a ficção, na minha visão, não está lidando com isso”, afirma.

Segundo ele, faz sentido pensar nesse momento da literatura como um jogo que está sendo virado, já que mulheres estiveram em segundo plano por séculos. Mas ele aponta que alguém sempre sai perdendo.

“As mulheres estavam perdendo; agora os homens estão. Só que não há consolo oferecido ao jovem de 26 anos que tem que pagar pelos pecados do passado”, diz.

“Dá para buscar o equilíbrio e garantir que grupos historicamente discriminados tenham seu momento, como devem ter. Meu ponto é que não dá para fingir que não há gente ficando de fora agora.”

O homem branco, segundo ele, está cada vez mais raro nas estantes porque o que ele chama de política woke dominou as editoras nos anos 2010 e 2020. Barkan, porém, afirma que se trata só de “uma observação de tendência” já que, no mundo real, o homem continua com um “privilégio enorme”.

A Conduit Books agora busca um livro -de preferência um romance de estreia de um autor britânico do sexo masculino com menos de 35 anos- para lançar seu catálogo. Pretende publicar três romances, coletâneas de contos ou memórias por ano, a partir de 2026.

O editor Jude Cook afirma que, desde o anúncio da nova empresa, a resposta tem sido “majoritariamente positiva, especialmente de autoras e mulheres que trabalham no mercado editorial”.