SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa está em disparada nesta terça-feira (27), com investidores repercutindo os dados de inflação no Brasil medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15).
Na cena externa, o foco segue voltado à política comercial dos Estados Unidos, e a expectativa é por anúncios de novos acordos tarifários.
Às 14h25, o Ibovespa avançava 1,10%, a 139.681 pontos, também amparado pela força dos índices em Wall Street e pela queda dos juros futuros. Já o dólar tinha baixa de 0,39%, a R$ 5,653.
O IPCA-15 desacelerou a 0,36% em maio, após marcar 0,43% em abril, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta manhã.
O resultado ficou abaixo das projeções do mercado financeiro, cuja mediana era 0,44%, segundo a agência Bloomberg. A taxa de 0,36% é a menor para meses de maio em cinco anos, desde 2020 (-0,59%).
Com o dado desta terça, a alta do índice desacelerou a 5,4% no acumulado de 12 meses, após marcar 5,49% até abril. A taxa, contudo, segue acima do teto de 4,5% da meta de inflação perseguida pelo BC (Banco Central) em 2025.
Por ser divulgado antes, o IPCA-15 sinaliza uma tendência para o IPCA, indicador oficial de inflação do país. A maior diferença entre os dois é o período de coleta das informações.
Os resultados inspiram otimismo sobre o cenário inflacionário no Brasil. “Ajudam a diminuir um pouco as preocupações em relação à desancoragem das expectativas de inflação e mostram para o Copom (Comitê de Política Monetária) que talvez não haja necessidade de novas altas de juros”, avalia Leonel Mattos, analista de inteligência de mercado da StoneX.
“Ainda, indicam que a política monetária não precisa ser tão restritiva por tanto tempo.”
Operadores passaram a precificar chance de 97% de que o BC mantenha a taxa Selic em 14,75% ao ano na reunião do próximo mês, acima da probabilidade de 92% antes da divulgação dos dados.
Essa perspectiva também norteia as negociações nas curvas de juros futuros, com os prazos mais curtos começando a refletir a possibilidade de uma taxa Selic mais baixa do que o esperado anteriormente.
A taxa de DI (depósito interfinanceiro) para janeiro de 2026 caía para 14,69%, ante 14,72% do fechamento de segunda. Para janeiro de 2027, a taxa estava em 13,85%, ante 13,95%. Já a taxa de janeiro de 2028 estava em 13,36%, ante 13,52%.
“É curioso notar a inflação relativamente comportada mesmo com um mercado de trabalho apertado e atividade aquecida. Isso dá uma tendência baixista para as expectativas e reforça a tese de fim do aperto monetário, o que anima os ativos brasileiros”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
O mercado, entretanto, ainda mantém cautela devido às preocupações com o cenário fiscal do país, reavivadas na semana passada pelo anúncio de aumentos nas alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Na quinta (22), com o mercado à vista de câmbio já fechado, o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) aumentou o IOF de uma série de operações de câmbio e crédito de empresas, com previsão de arrecadação de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026. Também foi divulgado o congelamento de R$ 31,3 bilhões de despesas do Orçamento deste ano.
As mudanças levaram o dólar futuro a acelerar antes do fechamento, às 18h. Diante dessa e de outras repercussões negativas no mercado, o governo convocou uma reunião de emergência e decidiu rever parte das medidas sobre o IOF.
Houve a reversão para zero de uma alíquota de 3,5% anunciada na véspera sobre aplicações de fundos de investimentos do Brasil em ativos. A mudança deve reduzir o ganho de arrecadação em aproximadamente R$ 6 bilhões até 2026.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na manhã de segunda-feira que o governo tem até o fim desta semana para decidir como compensará a arrecadação que o Executivo deixará de levantar com o recuo em parte dos aumentos das alíquotas.
No cenário externo, o foco segue nos Estados Unidos. O presidente Donald Trump decidiu adiar a implementação de tarifas de 50% sobre a União Europeia para julho, atendendo ao pedido da presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen.
A chefe do órgão executivo da UE disse que “um bom acordo” demandaria mais tempo, depois que Trump afirmou, na sexta-feira, que tarifas de 50% sobre produtos do bloco começariam a incidir em 1º de junho.
A jornalistas, Trump disse que as conversas começariam “rapidamente”.
A notícia inspira alívio nos investidores, com muitos reagindo somente nesta terça devido ao fechamento dos mercados nos EUA na véspera.
Também é um fator positivo a forte queda nos rendimentos dos treasuries, que ocorrem na esteira das perdas nos rendimentos dos títulos japoneses, após matéria da Reuters indicar que o Ministério das Finanças do Japão pode reduzir a emissão de títulos de longo prazo.
O movimento também corrobora para a queda nas taxas de juros futuros no Brasil.