SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) entrou em acordo com seus estudantes e conseguiu terminar com a ocupação do Campus Monte Alegre, na zona oeste da capital, após oito dias. O movimento começou para denunciar casos de racismo e abraçou outras pautas.

Em reunião nesta terça-feira (27), a mantenedora e a reitoria resolveram acatar as demandas dos alunos por letramento racial a funcionários, apuração rigorosa de atos discriminatórios, reformas curriculares com viés antirracista e melhorias no restaurante universitário, incluindo expansão da bolsa alimentação e garantia de duas refeições diárias gratuitas para bolsistas.

O único pedido não atendido foi a redução das mensalidades.

Em nota, a PUC diz ter garantido diálogo permanente desde o início das manifestações com estudantes e garantiu o funcionamento pleno das atividades acadêmicas e administrativas da universidade.

“Ao longo desse período, a reitoria priorizou o respeito ao direito de manifestação e se manteve contrária à ação policial no campus”, informa o texto. A Justiça de São Paulo autorizou na sexta-feira (23) o uso de força policial para desocupar o prédio ocupado.

O juiz Marcelo Augusto Oliveira, da 41ª Vara Cível, atendeu a um pedido de reintegração de posse da Fundação São Paulo, mantenedora da universidade. Por intervenção do reitor, nada ocorreu.

“As negociações conduzidas resultaram no atendimento de propostas que alinharam as demandas estudantis aos princípios e diretrizes institucionais, garantindo avanços para toda a comunidade puquiana”, informa o texto. “Reiteramos que a via do diálogo é o caminho para a construção coletiva de soluções, sempre pautadas pelo respeito mútuo e pela defesa da educação como bem público.”

HISTÓRICO

A ocupação da PUC foi puxada pelo coletivo de alunos negros, o Saravá, que solicitava ações concretas contra graduandos, professores e funcionários envolvidos em casos de preconceito. Outras demandas sociais surgiram, como a situação de bolsistas.

“Nos últimos anos, estudantes de toda a PUC-SP relataram diversos casos de abuso, assédio, preconceito e descaso presentes dentro de salas, corredores, eventos internos e externos da faculdade. E nestes anos, nunca tivemos uma devolutiva factual e efetiva da universidade, na verdade, tivemos cada vez mais repressão, perseguição e omissão”, afirmou o Saravá.

O coletivo recebe anonimamente histórias de estudantes discriminados. Os casos envolvem estigmatização por ser negro e bolsista, incluindo suposições de inferioridade intelectual, racismo velado, sensação constante de solidão e não pertencimento e abordagens preconceituosas em sala.

Num dos relatos, ocorrido em meados de 2024, uma aluna —a única não branca da turma— afirma que uma professora, após perder o celular, a acusou de roubo e pediu para olhar sua bolsa, justificando que o aparelho poderia ter deslizado para dentro dela.

A graduanda abriu um boletim de ocorrência por injúria racial e levou o caso à ouvidoria da universidade, que propôs uma conversa frente a frente para resolução do conflito. A denunciante recusou.

Na secretaria de educação do curso, ela diz que foi obrigada a repetir o enredo várias vezes para professores diferentes. Eles prometeram conversar com a colega envolvida. Dias depois, informaram que a aluna teria, de qualquer maneira, aula com aquela docente novamente. Ela seria a única com formação para dar a disciplina.

As opções apresentadas foram trancar a disciplina ou seguir em frente.

Por outras denúncias de injúria racial, a especialista foi removida da matéria então ministrada. Mas, voltou à grade da denunciante, em outra aula. Todas as sextas-feiras, elas se encontram.

A estudante afirma ter recebido várias mensagens da docente no WhatsApp. A mulher dizia que não era racista, que tinha amigos pretos e até já beijou pessoas pretas.

Segundo a jovem, a PUC foi procurada novamente e disse que a profissional não seria demitida por estar há mais de 40 anos na casa, tornando o desligamento muito caro.