SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As forças de Vladimir Putin fizeram mais avanços no nordeste da Ucrânia nesta nesta terça (27), elevando o temor de que uma ofensiva maior já esteja em curso para pressionar ainda mais Kiev em meio às truncadas negociações pela paz na guerra iniciada pela Rússia em 2022.

Segundo o Ministério da Defesa da Rússia, autoridades ucranianas e observadores independentes, o avanço ocorre na região de Sumi. Moscou diz ter tomado Belovodi, após ter ocupado quatro vilas na segunda (26). Segundo sites de monitoramento ucranianos, na região, na vizinha Kharkiv e em Donetsk (leste), Moscou fez o maior avanço desde dezembro, tomando 100 km2 em uma semana.

Não há clareza ainda se esse é o movimento de abertura da ofensiva. O governo de Sumi ainda diz entendê-lo não como uma ideia de conquista total da província, mas sim de estabelecimento de uma área tampão entre o local e Kursk, a região russa vizinha.

No ano passado, Volodimir Zelenski invadiu Kursk, tomando para si uma área equivalente à da cidade do Rio. Há dois meses, foi expulso de lá, recebendo críticas acerca do custo-benefício da incursão. Desde então, Putin fala em proteger as populações do sul russo com um bolsão militar.

Nas últimas semanas, imagens de satélite obtidas por sites de monitoramento da guerra mostravam uma concentração de forças russas perto de Sumi e a vizinha Kharkiv. Jornais britânicos e alemães falaram em 50 mil homens, o suficiente para uma operação de grande porte.

Os russos já vinham operando pontualmente em Sumi desde que retomaram Kursk, mas agora avançam ao sul, rumo à capital regional. Como a Folha de S.Paulo mostrou na segunda (26), isso pode ser um diversionismo para uma operação maior em outras frentes, que é dada como certa por membros da elite russa.

Seria a temida ofensiva de verão, que no Hemisfério Norte começa em meados de junho. Ela pode até ser um blefe enquanto os russos preparam a proposta de memorando de acordo de paz para apresentar a Kiev, conforme o combinado há duas semanas em negociações retomadas por pressão dos Estados Unidos.

Após ataques aéreos maciços da Rússia no fim de semana, o presidente Donald Trump criticou Putin e disse que ele estava “completamente louco”. Na noite de segunda para esta terça (27), com efeito, os bombardeios com drones continuaram, mas com intensidade reduzida —foram 60 aviões-robôs lançados, ante os recordistas 355 da segunda, e nenhum míssil desta vez.

Nesta terça, Trump redobrou a aposta contra os russos —verbal, dado que novas sanções contra Moscou não surgiram ainda. “O que Putin não entende é que, se não fosse por mim, várias coisas realmente muito ruins já teriam acontecido com a Rússia, e eu quero dizer MUITO RUINS. Ele está brincando com fogo!”, escreveu, com a usual maiúscula, na rede Truth Social.

Os russos vinham tentando virar o arco narrativo das críticas americanas contra a Europa, apostando no azedume entre Trump e o continente. Segundo o chanceler Serguei Lavrov, a “emoção” demonstrada por Trump se devia a uma suposta exasperação com os aliados continentais de Kiev, que não estariam interessados pela paz.

O malabarismo retórico foi temperado com uma crítica mais objetiva, contra a afirmação do premiê alemão, Friedrich Merz, que nem EUA nem Europa colocam mais limites ao alcance dos mísseis que fornecem aos ucranianos.

“A fala mostra que isso foi decidido há muito tempo”, afirmou o chanceler nesta terça. Na quarta, Merz receberá Zelenski em Berlim, e há a expectativa do anúncio da entrega dos esperados mísseis de cruzeiro Taurus, capazes de ataques muito precisos.

O modelo básico do míssil tem 150 km de alcance, podendo assim atingir cidades importantes perto da fronteira russo-ucraniana, como Belgorodo e Kursk. Mas sua versão mais capaz vai até a 560 km, podendo alvejar Moscou, motivo pelo qual até aqui a Alemanha não permitia seu fornecimento, temendo uma escalada incontrolável.

Merz mudou essa visão. O Kremlin repetiu nesta terça a crítica feita na véspera, de que tal medida visa sabotar o processo de paz, e diz que seus ataques recordistas do fim de semana foram uma retaliação pela onda, também inédita, de lançamento de drones ucranianos contra a Rússia.

Além da disputa retórica, a Rússia decidiu fazer uma demonstração de força no campo mais contestado fora da Ucrânia na Europa hoje, o mar Báltico. Lá, a aliança militar Otan tem tentado coibir o trânsito de petroleiros com produto russo e caça suspeitos de sabotar cabos submarinos.

A tensão tende a aumentar nesta semana, com os russos iniciando um exercício militar de surpresa. Serão envolvidos nas manobras 20 navios, 3.000 militares e apoio aéreo a partir do exclave de Kaliningrado. Ao mesmo tempo, a Otan mantém uma força-tarefa ativa contra sabotagem na região, o que eleva o risco de entrechoques.