BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo brasileiro passou a negociar com a União Europeia a regionalização do embargo às exportações de frango brasileiro. Desde o início da crise da gripe aviária, em 15 de maio, o bloco que envolve 27 países paralisou as importações de todo território nacional, conforme protocolo que o Brasil mantém com a região. A situação permanece inalterada desde então.
O pedido de regionalização está sendo conduzido pela Embaixada do Brasil em Bruxelas, em contato direto com a Direção-Geral de Saúde e Segurança Alimentar da União Europeia.
Uma série de medidas para tentar fazer com que o bloqueio passe a se restringir à região onde o caso da gripe aviária foi confirmado, o município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, está em andamento.
Neste momento, o bloco europeu cobra atualizações referentes a uma auditoria que realizou no Brasil no ano passado, entre os dias 15 de abril e 22 de maio, para avaliar os sistemas oficiais de controle da influenza aviária de alta patogenicidade (IAAP). O objetivo dos europeus é verificar o cumprimento das ações prometidas pelo Brasil em seu plano de ação para conter a doença.
Durante as interlocuções com as autoridades europeias, foi sinalizado pelo bloco que a entrega de informações técnicas sobre as ações em andamento contribui para o avanço do pedido de regionalização.
O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) tem mobilizado diversas áreas internas para encaminhar aos europeus evidências concretas de que o Brasil está estruturado para detectar e conter surtos com segurança.
Um dos alvos da resposta brasileira diz respeito à atuação dos laboratórios encarregados do diagnóstico da gripe aviária. O Brasil tem realizado testes para comprovar que os laboratórios oficiais e credenciados são capazes de identificar corretamente a presença do vírus. Os resultados preliminares desses testes foram concluídos na semana passada. Um relatório final com os resultados definitivos dessas avaliações deve ficar pronto até o dia 10 de julho.
A partir da conclusão deste trabalho, o governo brasileiro pretende publicar, em julho, um documento normativo para laboratórios oficiais ou credenciados, que trará uma definição detalhada de novos procedimentos para verificar se os laboratórios conseguem realizar análises corretamente e com precisão, especialmente no diagnóstico de doenças, como a gripe aviária.
Questionado sobre o assunto pela reportagem, o Mapa não se manifestou até a publicação deste texto.
Além da União Europeia, o governo brasileiro também busca a regionalização do embargo com a China, que é o maior comprador do frango nacional.
Se considerados os blocos de países, a Ásia é o que mais compra frango brasileiro, respondendo por 31,8% das importações em 2024. O segundo bloco que mais consome o alimento é o Oriente Médio (30,6%). Depois, vêm África (18,7%), América do Norte (10,8%). A União Europeia responde por 4,5% das importações, conforme dados da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).
A China é a maior compradora de frango do Brasil, respondendo sozinha por 10,5% das importações em 2024, quando recebeu 562 mil toneladas. O país é seguido pelos Emirados Árabes Unidos (455 mil toneladas), Japão (443 mil toneladas), Arábia Saudita (370 mil toneladas) e África do Sul (325 mil toneladas).
Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) mudou seu entendimento sobre o alcance do surto de influenza aviária no Brasil e passou a reconhecer oficialmente que o caso está restrito à região do município de Montenegro, no Rio Grande do Sul, em vez de se tratar de um problema nacional.
Até segunda-feira (26), 46 países ainda seguiam com bloqueio das importações de frango de todo o território nacional, conforme informações da pasta. Além dos 27 países da União Europeia, o embargo nacional é aplicado por China, México, Iraque, Coreia do Sul, Chile, Filipinas, África do Sul, Jordânia, Peru, Canadá, República Dominicana, Uruguai, Malásia, Argentina, Timor-Leste, Marrocos, Bolívia, Sri Lanka e Paquistão.
A suspensão restrita ao estado do Rio Grande do Sul tem sido aplicada por Arábia Saudita, Turquia, Reino Unido, Bahrein, Cuba, Macedônia, Montenegro, Cazaquistão, Bósnia e Herzegovina, Tajiquistão e Ucrânia.
Segundo o Mapa, Rússia, Bielorrússia, Armênia e Quirguistão decidiram retirar a suspensão do país todo e reduziram a restrição geográfica para o estado gaúcho.
Já a suspensão para o município de Montenegro (RS) está em vigor para os Emirados Árabes Unidos e Japão.
Os países que estão com embargo total às compras da carne brasileira de frango são responsáveis por 45% do volume dessa proteína exportada pelo Brasil. No mês passado, eles compraram 210 mil toneladas, de um total de 463 mil enviadas ao exterior, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior.
A Seara, empresa do Grupo JBS, fez o abate emergencial de 67,1 mil frangos que estavam alojados em uma granja da empresa, numa área próxima do foco de gripe aviária identificado no município de Montenegro.
O número de frangos descartados pela Seara é bem maior do que o abatimento realizado no local onde o foco foi confirmado. Até sexta-feira (23), um total de 8.747 aves tinham sido eliminadas na área. Dessas aves, 7.389 tinham sintomas da doença. Outras 1.358 foram eliminadas posteriormente, como medida de precaução.
As medidas para conter os riscos de disseminação também resultaram na destruição de 20 milhões de ovos férteis. Assim, em menos de uma semana, foi destruído um volume equivalente a cerca de 5% da exportação anual.