Recém-nomeado como desembargador substituto do Tribunal Regional Eleitoral de Goiás (TRE-GO) para o biênio 2025-2027, Pedro Paulo de Medeiros assume o cargo com uma missão clara: proteger a integridade do processo eleitoral em meio a um cenário digital cada vez mais complexo e arriscado.

Ao comentar os principais desafios que o TRE-GO enfrentará até as eleições gerais de 2026, Medeiros foi enfático: o maior inimigo da democracia hoje é a desinformação. “O desequilíbrio informacional distorce a vontade popular. Se o eleitor vota com base em mentiras, não há democracia plena”, afirmou. Para ele, a proliferação de notícias falsas e manipulações digitais ameaça minar a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro — historicamente reconhecido por sua segurança e eficiência.

Deepfakes no radar da Justiça Eleitoral

Entre as ferramentas mais preocupantes, o desembargador destacou o uso de inteligência artificial na produção de deepfakes — vídeos e áudios falsos que imitam com precisão a fala e a aparência de figuras públicas. “A tecnologia já não é restrita a especialistas. Qualquer pessoa com um celular pode espalhar uma mentira convincente em segundos”, alertou.

Segundo Medeiros, o TRE-GO está se antecipando a esse fenômeno e pretende adotar medidas firmes de contenção. A Corte está costurando acordos com plataformas digitais e empresas de tecnologia para identificar, retirar e rastrear a origem desses conteúdos. “O combate será em várias frentes: administrativa, civil, criminal e eleitoral. E os candidatos que se beneficiarem dessas práticas também poderão ser punidos”, destacou.

Transparência, confiança e prevenção

Medeiros também defendeu a tradição da Justiça Eleitoral brasileira, que ele considera uma das mais confiáveis do mundo. Para ele, a imparcialidade das instituições é o que garante a legitimidade dos resultados nas urnas. Mas, segundo o magistrado, essa confiança precisa ser reforçada antes mesmo da votação. “É essencial garantir que o eleitor tenha acesso a informações verdadeiras e acessíveis durante toda a campanha. Isso também é democracia”, enfatizou.

Além da desinformação, ele lembrou que práticas como abuso de poder econômico, compra de votos e uso indevido de meios de comunicação seguem sendo problemas graves. A resposta, segundo ele, não pode ser apenas punitiva. “Antes de punir, é preciso conscientizar. A educação política ainda é nosso melhor antídoto contra os desvios eleitorais.”

Abuso de poder religioso entra na pauta

Outro ponto sensível citado por Pedro Paulo é o uso indevido da fé para fins eleitorais — tema que, embora ainda não consolidado na jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), deve ganhar espaço no debate jurídico. “É um tema que precisa ser enfrentado. O Brasil precisa discutir seriamente os limites entre fé e política”, opinou.

Menos polarização, mais diálogo

Encerrando sua avaliação, o desembargador defendeu um ambiente eleitoral mais pacífico e menos polarizado. Ele citou como inspiração a união de grupos políticos na eleição da seccional da OAB-GO, da qual participou como advogado: “Convergir em prol de um objetivo comum deveria ser a norma, não a exceção. A política precisa sair do embate pessoal e voltar a ser uma ferramenta de construção coletiva”.

Pedro Paulo resumiu sua visão com um apelo direto: “Democracia não se sustenta em gritos, mas em pontes. Precisamos de menos conflito e mais construção. A Justiça Eleitoral está aqui para garantir que a escolha do povo seja livre, limpa e consciente”.