O Corinthians mergulha em mais um capítulo turbulento de sua história recente. Na noite de segunda-feira (26), o Conselho Deliberativo decidiu dar prosseguimento ao processo de impeachment do presidente Augusto Melo, afastando-o temporariamente do cargo em meio a uma série de acusações envolvendo o contrato milionário com a antiga patrocinadora Vai de Bet.
O processo, iniciado oficialmente em janeiro após uma reunião conturbada, ganhou força com o indiciamento de Melo pela Polícia Civil na última semana. Ele é acusado de integrar uma associação criminosa, além de responder por lavagem de dinheiro e furto qualificado por abuso de confiança.
O placar da votação foi expressivo: 176 votos a favor da continuidade do processo contra 57 contrários, além de um voto em branco. Com a maioria simples atingida, o presidente do Conselho, Romeu Tuma Jr., agora tem até cinco dias para convocar uma assembleia geral com os sócios — que deve ocorrer entre 30 e 60 dias.
Enquanto isso, quem assume o comando do clube é o vice-presidente Osmar Stábile, eleito na mesma chapa de Melo, mas hoje rompido com o mandatário.
O centro da crise é o contrato de R$ 360 milhões com a Vai de Bet. Segundo a investigação, parte da comissão de intermediação do acordo foi repassada a uma empresa de fachada com ligações ao crime organizado. Uma dessas empresas, de acordo com a polícia, teria vínculos com o PCC. A defesa de Melo afirma que ele apenas recebeu e encaminhou a proposta, com a anuência dos departamentos competentes do clube.
Paralelamente, a gestão de Augusto Melo também é alvo de outras três tentativas de destituição por diferentes irregularidades. Entre os pontos críticos está a reprovação das contas de 2024, período no qual a dívida corintiana saltou de R$ 1,9 bilhão para R$ 2,5 bilhões.
Clima tenso, mas sem tumulto
Diferente da tensão que marcou a primeira votação em janeiro — quando a Gaviões da Fiel compareceu para defender Melo e houve forte presença policial —, o ambiente no Parque São Jorge desta vez foi mais calmo. Nenhuma faixa de apoio ao presidente foi vista, e a organizada, agora rompida com ele, sequer compareceu.
Augusto Melo fez um breve discurso antes da votação, reconhecendo a derrota. “Não é uma renúncia. Vou lutar para continuar. O jogo não acabou. Saio de cabeça erguida”, disse, citando que sua gestão manteve salários em dia por sete meses e apresentava um planejamento sólido para o ano.
Durante o dia, Melo ainda tentou, sem sucesso, barrar a reunião na Justiça. Duas ações no TJ-SP foram indeferidas, e um pedido de habeas corpus também foi negado. Seus aliados agora estudam recorrer ao STF, e a batalha judicial promete se arrastar por semanas.
Enquanto isso, o Corinthians enfrenta um momento de incerteza institucional em meio à pressão da torcida, investigações policiais e instabilidade financeira. O próximo capítulo será decidido em assembleia geral, onde os sócios terão a palavra final sobre o futuro do clube e de seu presidente afastado.