Walison Veríssimo

Em meio ao desgaste crescente dentro do PL goiano, o vereador por Goiânia Major Vitor Hugo tem buscado uma estratégia para recuperar fôlego político: aproximar o prefeito Sandro Mabel (UB) do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem o gestor rompeu durante as eleições municipais do ano passado. A iniciativa, conduzida nos bastidores, é lida por aliados como tentativa de reconquistar relevância dentro do partido, após ter sido descartado publicamente por lideranças como Gustavo Gayer e Wilder Morais.

O movimento acontece meses depois de uma campanha marcada por ataques duros entre Mabel e o bolsonarismo. Durante o segundo turno em Goiânia, Bolsonaro esteve na cidade e classificou o então candidato como “inimigo”, manifestando apoio direto a Fred Rodrigues (PL), adversário de Mabel na disputa. O episódio ampliou a tensão e aprofundou a distância entre os dois, que já haviam sido próximos durante o período em que atuaram juntos no Congresso Nacional.

No dia seguinte à eleição, Mabel expressou publicamente sua frustração. Em uma entrevista, relatou decepção com Bolsonaro, afirmou que havia sido leal e que esperava outro tipo de postura do ex-presidente. Afirmou ainda que Bolsonaro não demonstrou qualquer preocupação com os rumos da capital, priorizando interesses eleitorais em detrimento de propostas para a cidade.

Apesar das mágoas, o tom de Mabel mudou parcialmente meses depois. Em nova entrevista, no início de maio, o prefeito manteve críticas à atuação de Bolsonaro na campanha, mas reconheceu que o ex-presidente continua sendo uma figura central na política nacional. “Ele ainda tem muito peso. Vai influenciar diretamente o cenário de 2026, dependendo de quem apoiar”, afirmou.

É nesse espaço de pragmatismo que Vitor Hugo tenta atuar. Depois de ser pressionado a abandonar a ideia de disputar o Senado e passar a mirar uma vaga na Câmara dos Deputados, o vereador tenta se recolocar como peça útil ao projeto bolsonarista no estado — agora, agindo como intermediário entre dois polos que romperam em clima de hostilidade.

A missão, no entanto, não é simples. Dentro do PL, Vitor Hugo enfrenta forte resistência. Depois de declarações duras de Gayer e Wilder, foi cobrado diretamente por Bolsonaro e se viu isolado do núcleo de comando da sigla. A tentativa de reaproximação entre Mabel e o ex-presidente pode ser vista tanto como gesto de pacificação quanto como esforço individual para manter algum espaço político diante do enfraquecimento interno.

De outro lado, ainda não está claro se Mabel estaria disposto a reconstruir a ponte. Embora tenha sinalizado respeito à força eleitoral de Bolsonaro, interlocutores indicam que não há pressa ou necessidade estratégica de retomar o diálogo no curto prazo. Ainda assim, com o cenário de 2026 começando a se desenhar, aliados reconhecem que, em política, as circunstâncias mudam e antigos rompimentos, às vezes, só duram até o próximo aceno.