MACEIÓ, AL, RIO DE JANEIRO, RJ, E SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Samir Xaud, 41, foi eleito neste domingo (25) presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), em uma votação realizada na sede da entidade, no Rio de Janeiro, marcada pelo boicote de clubes da elite do futebol nacional, como protesto pela força das federações estaduais na decisão do pleito.

Com mandato de 2025 a 2029, o médico de Roraima recebeu 103 dos 108 votos possíveis de acordo com o quórum presente. Neste ano, pela primeira vez, a votação foi feita em urna eletrônica.

O dirigente foi eleito diante da presença de 46 eleitores, sendo 26 federações —apenas a FPF (Federação Paulista de Futebol) se ausentou— e 20 clubes, 10 da Série A e 10 da série B. O total do corpo eleitoral é formado por 67 membros, número que há dois meses esteve na CBF para aclamar um novo mandato para o então presidente Ednaldo Rodrigues por unanimidade.

O sistema eleitoral da CBF prevê um peso maior às federações na contagem dos votos. No pleito, times da Série A têm peso 2, equipes da Série B têm peso 1 e as federações têm peso 3.

De acordo com o estatuto da entidade, para formalizar uma chapa, um candidato precisa ter, no mínimo, o apoio de oito federações. Samir chegou ao pleito com o apoio de 25 das 27 entidades estaduais, número que inviabilizou a tentativa do presidente da FPF, Reinaldo Carneiro, de se lançar como candidato.

As exigências para formação da chapa, assim como o peso dos clubes, são motivos de críticas por parte das equipes. Um grupo de 21 clubes decidiu nem participar da votação por discordar desse sistema.

Entre os times da Série A, fazem parte do bloco: Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Internacional, Mirassol, Santos, São Paulo e Juventude. Da Série B assinaram: América-MG, Athletico-PR, Atlético-GO, Botafogo-SP, Chapecoense, Coritiba, Cuiabá, Goiás, Novorizontino, Sport e Operário-PR.

Em nota conjunta, os clubes afirmaram que não concordam com o processo vigente: “Estaremos prontos para conversar com a nova gestão, a partir da próxima semana, para que juntos possamos debater como mudar o processo eleitoral e outras demandas dos clubes em prol de um futebol cada vez melhor”.

Santos e Cruzeiro, no entanto, enviaram representantes ao pleito, mas seus votos não foram divulgados.

Em seu discurso, o novo presidente da CBF destacou a reorganização do calendário do futebol brasileiro, fez uma defesa da implementação do chamado fair play financeiro e disse que espera apoio do clubes em prol das mudanças necessárias.

“Nossa gestão, e faço questão de usar o plural, será marcada pela renovação das ideias e pela agregação de todos aqueles dispostos a contribuir efetivamente para o desenvolvimento pleno do nosso esporte”, afirmou.

Apoiadora declarada do novo presidente da CBF, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, disse que as propostas do dirigente para a entidade são aquelas que o clube paulista defende “há muito tempo”. Ela citou questões como fair play financeiro, melhorias no calendário do futebol e avanços na arbitragem.

“A posição do Palmeiras sempre foi para fazer o melhor para o futebol brasileiro. O Palmeiras nunca pensou única e exclusivamente no Palmeiras. O Palmeiras não joga sozinho”, afirmou a jornalistas.

Leila associou o nome de Xaud a uma tentativa de renovação na CBF. “Do contrário, continuaria a mesma coisa.”

A presidente do Palmeiras ainda avaliou que é “preconceito” falar que Xaud é o candidato de uma federação “não muito expressiva”.

Para defender seu argumento, ela fez uma analogia com sua própria trajetória. Nesse sentido, a presidente apontou ter enfrentado preconceito ao ingressar no mundo do futebol, um ambiente com predomínio masculino na gestão de clubes. “A minha gestão é a mais vitoriosa da história do Palmeiras”, afirmou.

Xaud é médico infectologista e foi eleito recentemente para o comando do futebol de Roraima, para o lugar do próprio pai, Zeca Xaud, presidente da FRF (Federação Roraimense de Futebol) desde a década de 1980. O mandato de Samir começaria em 2027.

Em entrevista concedida à Folha na semana passada, Xaud afirmou que sua chegada representaria uma ‘’ruptura’’ política na CBF —ainda que ele tenha sido alçado ao cargo pelas mesmas federações que davam amplo apoio a Ednaldo Rodrigues, 71, afastado da cadeira de presidente no último dia 15.

“Na verdade, é uma ruptura de pensamentos, de ideias. O que a gente quer é fazer uma gestão diferente, uma gestão moderna. E, como tinha essa instabilidade jurídica, em relação ao judicial que estava acontecendo com o ex-presidente Ednaldo, nós precisávamos ter uma opção”, disse.

A data da nova eleição foi determinada por Fernando Sarney, um dos vice-presidentes da entidade, nomeado interventor na confederação após o afastamento de Ednaldo por decisão da Justiça do Rio de Janeiro.

Rodrigues chegou a recorrer, mas desistiu de retomar o comando da entidade.

Antes de ser afastado, Ednaldo acertou a contratação do técnico Carlo Ancelotti, 65, que será apresentado como técnico da seleção brasileira nesta segunda-feira (26). O anúncio foi feito às pressas, justamente para abafar os problemas jurídicos que ocasionariam a queda do presidente.

Ancelotti apresentará sua primeira lista de convocados e dará uma entrevista coletiva a partir das 15h no hotel Grand Hyatt, no Rio. A partida de estreia do italiano será no dia 5 de junho, contra o Equador, no Monumental de Guayaquil. Na sequência, a seleção enfrentará o Paraguai, no dia 10, na Neo Química Arena, em São Paulo.

Além de recuperar a seleção brasileira em campo, Samir Xaud terá pela frente o desafio de completar seu mandato, algo raro na CBF nos últimos tempos conturbados.

Desde a renúncia de Ricardo Teixeira em 2012, a entidade tem enfrentado uma instabilidade significativa em sua liderança. Nos últimos 13 anos, teve uma média de um novo dirigente a cada 14 meses, totalizando 11 nomes entre presidentes efetivos, interinos e interventores.

Apenas José Maria Marin completou um mandato nesse período, assumindo após a saída de Teixeira.