Se uma imagem vale mais do que mil palavras, o painel de 80 metros pintado em Belém, sede da COP30, vai reforçar e muito a mensagem clara de cientistas contra a queima de combustíveis fósseis e o risco que a exploração de petróleo traz para a floresta amazônica.
Infelizmente, para além das queimadas e do desmatamento, a Petrobras e parte do governo brasileiro insistem em conseguir a aprovação do IBAMA para explorar petróleo na bacia da foz do Amazonas. Na última terça-feira, em votação simbólica, o Senado aprovou a criação de uma Frente Parlamentar em Defesa da Exploração da Margem Equatorial, região que abrange desde o Amapá até o Rio Grande do Norte e é considerada a nova fronteira petrolífera do país.

Para denunciar os riscos que a floresta corre, um potente mural sobre a crise climática e o futuro da Amazônia, ganhou o muro principal da Universidade Federal do Pará (UFPA). Por meio da arte, mais um alerta contundente sobre o impacto da exploração de petróleo na região amazônica, desta vez destacando o protagonismo das populações tradicionais como caminho para soluções sustentáveis.
O mural utiliza técnicas inovadoras e materiais que carregam forte simbolismo. Com o uso de cinzas e carvão coletados de queimadasocorridas em 2024 na Terra Indígena Anambé, que destruíram 40 mil hectares de floresta, além de argilas das ilhas de Caratateua e Cotijuba e outros elementos naturais da região, Mundano ilustrará o petróleo, o desmatamento e as queimadas como ameaças constantes à floresta.

“Este mural é um grito de alerta e resistência: transforma em arte os detritos de esgoto e obra deixados pela preparação para a COP30. Lama e restos coletados em Vila da Barca denunciam o crime ambiental em curso e expõem o que está em jogo com a exploração de petróleo na foz do Amazonas — uma ameaça à vida e aos territórios da Amazônia”, afirma Mundano, que já realizou intervenções artísticas em mais de 20 países e ficou conhecido por utilizar materiais não convencionais em suas obras.
Os artistas do coletivo Mairi somam seu talento ao mural, com tintas multicoloridas. And Santtos, Cely Felize e Tai retratarão indígenas, quilombolas, ribeirinhos e populações periféricas que vivem em palafitas, com a frase “A solução somos nós”. Parte do mural, que será pintada pela artista indígena Cely Feliz será feita, inclusive, com detritos de esgoto e entulho de obra da COP30 na Vila da Barca.

“Ao mesmo tempo, este mural afirma que as verdadeiras soluções para a crise climática nascem do protagonismo dos povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos e comunidades periféricas. É arte como luta. É artivismo como resposta”, completa Mundano.
A obra ficou pronta nessa sexta-feira, dia 22 de maio, e faz parte das mobilizações que antecedem a COP30, conferência climática da ONU que será realizada em Belém em 2025, e busca ampliar vozes amazônicas no debate sobre justiça climática.

Narrativa visual sobre destruição e resistência
O mural apresenta uma narrativa visual dividida em sete sequências que contam uma história de destruição, resistência e esperança:
- Petróleo na foz do Amazonas – Representação dos impactos potenciais da exploração petrolífera na região, utilizando lama, óleo e resíduos como materiais.
- Queimadas – Retrato da devastação causada pelo fogo na floresta, com intervenção feita com carvão e cinzas reais de áreas queimadas.
- Rios da Amazônia secos – Alerta sobre as consequências das mudanças climáticas para os cursos d’água da região.
- Palafitas – Representação da Vila da Barca, maior comunidade de palafitas do mundo, localizada em Belém, que tem sofrido com o despejo de detritos de esgoto e de obras, evidenciando o crime contra a natureza e o racismo ambiental que atinge seus moradores.
- A solução somos nós! – Destaque para lideranças indígenas mulheres e representantes de comunidades negras como protagonistas das soluções.
- Futuro ancestral – Visão de um futuro sustentável com crianças e jovens em harmonia com a natureza.
- Homenagem a defensores da Amazônia – Tributo a lideranças, ativistas e defensores da floresta, com intervenção feita com cinzas, carvão e argilas.

“Este não é apenas um mural, é um manifesto visual que conecta a luta contra a exploração predatória com a sabedoria ancestral dos povos da floresta. Queremos que as pessoas de todo o Brasil compreenda que o futuro da Amazônia está diretamente ligado ao futuro do planeta e nós somos parte da solução, por isso fazemos referências às nossas lideranças indígenas, negras e quilombolas que estão à frente junto conosco”, explica Iacy Anambé, curadora do projeto, produzido pela Parede Viva com o apoio institucional da UFPA e do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia, que é desenvolvido dentro da universidade.
O artivismo de Mundano
Mundano é um dos mais importantes artivistas brasileiros da atualidade. Seu trabalho combina arte urbana com ativismo socioambiental, tendo realizado intervenções em mais de 20 países. Ficou nacionalmente conhecido por projetos como “Pimp My Carroça“, que deu visibilidade aos catadores de materiais recicláveis, e pela obra “Cinzas da Floresta”, em que utilizou cinzas de queimadas do Pantanal para criar um mural em São Paulo. Seu trabalho já foi destacado em veículos como The New York Times, BBC e National Geographic.

Coletivo Mairi
O Coletivo Mairi reúne artivistas indígenas do Pará que utilizam a arte urbana como ferramenta de resistência e valorização das culturas originárias. O grupo realiza intervenções que mesclam técnicas contemporâneas com elementos tradicionais indígenas, criando uma linguagem visual única que busca sensibilizar a sociedade sobre questões ambientais e direitos dos povos originários.

Fonte: Ciclo Vivo