SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O corpo do guia turístico Victor Cerqueira Santos Santana, 28, foi exumado nesta manhã, no Cemitério Municipal de Itabela (BA). O jovem morreu durante uma ação policial na comunidade ribeirinha de Caraíva, em Porto Seguro (BA). A investigação busca esclarecer as circunstâncias da morte.
Os restos mortais foram exumados nesta manhã e encaminhados ao DPT (Departamento de Polícia Técnica) para análise científica. Será feita uma nova análise para verificar possíveis contradições na versão oficial das circunstâncias da morte de Victor.
Exumação foi solicitada pelo Ministério Público da Bahia e autorizada pela Justiça. O MP-BA instaurou um PIC (Procedimento Investigativo Criminal) para apuração.
Uma amiga do guia, Joice Terloni, solicitou apoio da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Em entrevista ao “UOL News”, Joice afirmou que familiares e amigos tomarão todas as providências cabíveis. “Vitinho não vai ser mais um número nas estatísticas. Ele não será mais um jovem negro morto”, declarou.
Em nota, a SSP-BA (Secretaria da Segurança Pública da Bahia) informou que houve confronto. Segundo o órgão, dois homens suspeitos de envolvimento com uma facção criminosa na região morreram durante uma operação conjunta na comunidade.
Entretanto, Joice também relatou que o corpo apresentava sinais de tortura. “Encontraram ele com o rosto desfigurado, olhos inchados, joelhos feridos, marcas de coronhada”, afirmou. Ela diz que moradores locais testemunharam a detenção de Victor e o estado em que seu corpo foi encontrado após a morte.
Victor foi morto durante uma operação das polícias Militar e Federal no dia 10 de maio. A ação mirava integrantes da facção ADM (Anjos da Morte), que atua no tráfico de drogas no extremo sul da Bahia, em especial na praia de Caraíva, distrito de Porto Seguro. Além dele, Uillian da Silva Guimarães, apontado como “número dois” do grupo e de apelido ”Alongado”, também foi morto.
Victor foi detido e algemado a caminho do trabalho às 18h, segundo conhecidos. “Ele estava indo trabalhar, descendo o morro da travessia para buscar hóspedes na beira do rio, como fazia todo fim de tarde”, contou Joice Terlone, que era amiga próxima de Victor e vive há cinco anos em Caraíva. O corpo dele foi entregue ao IML por volta das 3h já sem vida.
SSP-BA informou que os dois foram mortos em ”confronto” durante o ”combate ao crime organizado”, mas família de Victor contesta. “Ele não era bandido, não estava armado, e aqui não houve confronto algum, nenhuma troca de tiros”, disse um morador de Caraíva, durante uma transmissão ao vivo pelo Instagram. A Polícia Civil confirmou na sequência que Victor não tinha passagens criminais.
Morte motivou protestos e comércios ficaram fechados na comunidade. ”Caraíva acordou revoltada porque mataram mais um inocente. Não vamos aceitar que esse caso seja abafado ou tratado como efeito colateral. Estamos falando de racismo estrutural, de violência do Estado, e de uma vida que foi tirada sem explicação”, relatou Joice ao UOL.