SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Soldados israelenses e ex-prisioneiros palestinos ouvidos pela agência de notícias Associated Press (AP) disseram que as Forças Armadas de Israel utilizam palestinos como escudos humanos na Faixa de Gaza “de maneira sistemática”, segundo uma reportagem publicada neste sábado (24).
A prática é considerada um crime de guerra de acordo com a Convenção de Genebra e proibida por uma decisão judicial da própria Justiça israelense. Acusações semelhantes já foram publicadas pelo jornal israelense Hareetz, pela emissora qatari Al Jazeera e pelo jornal americano The New York Times.
A afirmação de que o grupo terrorista Hamas utiliza escudos humanos é uma das principais justificativas mencionadas por líderes políticos de Israel para explicar o alto número de civis palestinos mortos desde o início da guerra até aqui, são 53 mil mortes causadas por bombardeios israelenses, de acordo com autoridades de saúde ligadas ao Hamas.
Segundo os relatos ouvidos pela AP, as Forças Armadas de Israel frequentemente vestem prisioneiros palestinos com roupas militares, incluindo um capacete com uma câmera, e os enviam para dentro de casas ou túneis para checar se há explosivos ou terroristas do Hamas.
Segundo os soldados entrevistados pela AP, a prática se tornou corriqueira na Faixa de Gaza e já começou a ser usada na Cisjordânia ocupada, onde as ações militares de Israel tem se intensificado nos últimos meses. Em resposta, o Exército israelense disse que o uso de escudos humanos é proibido, e que comunicados nesse sentido são frequentemente transmitidos às tropas. Tel Aviv afirmou ainda que está investigando casos pontuais de violações dessa ordem.
Entretanto, de acordo com a AP, muitas vezes as ordens para usar escudos humanos vieram do topo da hierarquia militar. Um dos soldados, que falou com a agência sob condição de anonimato por medo de represálias, disse que, em determinando momento da guerra, todo batalhão utilizava um palestino para encontrar bombas e armadilhas antes de entrar em túneis ou casas.
Um dos palestinos ouvidos pela AP disse que, por um período de 17 dias, o único momento em que ele não estava algemado e com os olhos vendados era quando os soldados israelenses o utilizavam como escudo humano, e que ouviu dos militares que, se não obedecesse, seria morto. Toda noite, ele voltava para uma cela escura e, ao amanhecer, era ordenado a vasculhar prédios novamente para os israelenses.
Grupos da sociedade civil de Israel acusam as Forças Armadas de usar palestinos como escudos humanos há décadas, e uma decisão da Suprema Corte do país proibiu a prática em 2005. Mas o uso nunca foi tão sistemático como agora, dizem soldados ouvidos pela AP, que afirmam que o codinome para os escudos humanos no Exército é mosquito.
Um deles afirmou que um comandante de brigada recomendou aos seus subordinados que “pegassem um mosquito na rua”, um código que era amplamente compreendido pelos soldados. Os militares ouvidos pela AP dizem ainda que a prática ajuda as Forças Armadas a economizar munição, acelerar operações e evitar a morte de cães farejadores.
Um documento ao qual a agência de notícias teve acesso diz que pelo menos um desses escudos humanos foi morto não por bombas ou terroristas, mas sim por soldados israelenses de outra unidade que o confundiram com um membro do Hamas.