SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Se tivesse nascido no Brasil, talvez a banda Last Dinner Party ganhasse o apelido de gótica suave com sua estética cheia de espartilhos, gargantilhas, crucifixos e coturnos. O grupo britânico que desponta no cenário da música internacional se apresenta neste domingo (25) no C6 Fest, em São Paulo.

O visual gótico se soma a som indie rock com letras irônicas e uma performance declaradamente teatral, atributo que se destaca na banda composta por Emily Roberts (guitarra e flautas), Aurora Nishevci (teclado), Lizzie Mayland (guitarra), Abigail Morris (vocal) e Georgia Davies (baixo).

Morris e Davies conversaram com a Folha dias antes de fazerem o primeiro show na América do Sul, em apresentação no parque Ibirapuera que acontece logo antes da banda americana Wilco.

A vocalista diz que essa expressão dramática, presente em artistas que influenciaram o grupo como David Bowie, é uma questão de autenticidade que nasceu espontaneamente na banda desde o início, que não aconteceu há tanto tempo assim.

Ainda que já tenha feito abertura para shows, como dos Rolling Stones e de Lana Del Rey, e se apresentado no festival Glastonbury, na Inglaterra, o Last Dinner Party começou tocando em 2021 em pequenos pubs de Londres.

Dois anos depois, veio o single “Nothing Matters”, uma canção de amor nada romântica. O álbum de estreia, “Prelude to Ecstasy”, foi lançado em fevereiro do ano passado. Em 2025, o grupo faturou a categoria de melhor artista revelação do Brit Awards, maior prêmio de música do Reino Unido.

“Performance teatral não é só fazer uma imitação. Por essa razão Sabrina Carpenter e Chappell Roan estão se saindo tão bem. Claro, elas têm referências, mas são autênticas. E acho que isso é a coisa mais incrível que se pode fazer na arte”, diz Morris.

As duas cantoras pop, ao lado de Charli XCX, produzem um som fresco, lúdico e com uma dose de ironia, uma música original que tem levantado fãs e plateias mundo afora, afirma Morris.

A ausência de referências masculinas no discurso não é casual para as integrantes da banda, que estão à frente de letras abertamente feministas em músicas que lembram uma mistura de Florence and the Machine, Kate Bush e Queen.

“Não acho que há homens fazendo o que elas [Sabrina Carpenter e Chappell Roan] fazem agora”, diz Morris.

Georgia Davies, baixista, concorda: “Homens não são celebrados por sua teatralidade há algum tempo por causa dos padrões da masculinidade. E pelo fato de não estarem tão dispostos a aceitar esse tipo de arte quanto as mulheres e a comunidade queer, que abraça essas artistas”, diz Davies.

Uma das canções que ilustra o sarcasmo da produção do grupo é “Feminist Urge”, uma das três mais populares em seu canal do Spotify. Espécie de anti-hino, faz um retrato feminino que se aproxima de um brinquedo, que está à disposição de rapazes “somente para seu entretenimento”.

Morris conta que a música foca um tipo específico de experiência que ela viveu. “É por isso que pode tocar mais as pessoas. Quanto mais específico você é ao falar sobre seus próprios sentimentos, mais se identificam com você.”

A canção também discute o trauma geracional em uma passagem mais à frente, quando fala de “todo veneno convertido em amor”, que parece uma alusão ao romantismo idealizado e tóxico.

A letra, diz a cantora, reflete sobre as mulheres de gerações anteriores em sua família e como foram criadas. “Também me faz pensar o que aconteceria se eu tivesse uma filha, nas implicações éticas de se criar uma mulher”, diz Morris.

Ainda na faixa dos seus 20 anos, Morris e Davies dizem não ter TikTok instalado em seus celulares “porque não é divertido”.

Por ora, o foco não são as redes sociais, mas fazer música de um jeito “old fashion”, apostando em shows e turnês —que já passaram, por exemplo, pelos Estados Unidos, mas que têm datas marcadas na França, Alemanha, Bélgica e até Hungria.

“Foi assim que a gente conseguiu uma “fanbase”, tocando em vários lugares pequenos, para 20 pessoas. Hoje olhamos para trás e lembramos que há poucos anos estávamos tocando em pubs”, diz Davies.

THE LAST DINNER PARTY NO C6 FEST

– Quando Dom. (25), às 17h

– Onde Parque Ibirapuera – av. Pedro Álvares Cabral, s/n, São Paulo

– Preço R$ 680, em c6fest.byinti.com