BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – Candidato único e virtual presidente da CBF a partir do próximo domingo (25), o médico Samir Xaud é suspeito de ter acobertado funcionários-fantasmas quando foi secretário-adjunto de Saúde de Boa Vista, entre maio de 2024 e março deste ano.
A própria atuação de Xaud no cargo teria sido pouco ativa, segundo pessoas do setor. Um mês depois de ser nomeado pelo prefeito Arthur Henrique (do MDB, mesmo partido dele), Xaud integrou a comitiva da CBF para acompanhar a Copa América dos Estados Unidos, de 20 junho a 14 de julho.
Titular da Promotoria da Saúde do Ministério Público de Roraima desde 2021, o promotor Igor Naves disse que, durante o período em que Xaud foi secretário-adjunto, não teve nenhum contato institucional com ele, nem pessoalmente nem por meio de comunicações oficiais, o que, afirma, é incomum. “É uma administração bem complexa, em que o secretário descentraliza demandas para os seus subordinados. Ele nunca apareceu, nunca assinou, nunca respondeu ofício, nunca fez nada.”
Segundo Naves, normalmente os secretários-adjuntos “são super ativos, todos do estado, município, estão aqui direto. Quando não estão aqui, sempre respondem às demandas, mesmo que por e-mail e WhatsApp, porque algumas são urgentes -se uma pessoa está na UTI, por exemplo”.
“Em relação a esse senhor [Xaud], nunca teve nenhum contato presencial em reuniões ou institucional mediante resposta a ofício durante o tempo em que ele esteve como secretário adjunto.” Ainda segundo o promotor, na secretaria corria a informação (“na rádio peão, como dizem”) de que Xaud nem aparecia para trabalhar.
No início deste ano, segundo apurou a Folha, a Promotoria de Saúde recebeu uma denúncia anônima de que havia médicos recebendo sem trabalhar no Hospital da Criança Santo Antônio, da rede municipal de Boa Vista.
Foram apontados nomes de dois “fantasmas”. Nos bastidores, atribuiu-se a Xaud a responsabilidade por tolerar a prática. A Promotoria oficiou a secretaria, que se comprometeu a apurar o caso e garantir a reposição das horas não trabalhadas. Pouco depois, tanto o secretário quanto Xaud deixaram a pasta, e não foi instaurada investigação.
O promotor Igor Naves disse não ter informações a respeito do caso.
Procurado, Xaud não respondeu diretamente às questões. Por meio de assessores, enviou uma nota (“Certidão de antecedentes éticos”) emitida pelo Conselho Regional de Medicina de Roraima, segundo a qual “nada consta que possa desabonar a conduta ético-profissional” do candidato à presidência da CBF.
A nota ressalta ainda que “não existe qualquer impedimento legal ou judicial que impeça Samir Xaud de assumir ou exercer funções públicas ou cargos em entidades associativas”.
O ex-secretário de Saúde Luiz Renato Maciel de Melo, titular da pasta na época e hoje secretário de Planejamento, Orçamento e Finanças de Boa Vista, afirmou que Xaud “participava das atividades naquilo que eu não podia ir ou participar”. “Não tinha nenhum projeto específico para o adjunto, porque eram três adjuntos, mas nessa parte [substituí-lo eventualmente] ele fazia sim, tanto ele como os outros.”
Sobre a denúncia de acobertar médicos-fantasmas no Hospital da Criança, Melo diz que “isso nunca aconteceu no município”. “Eu soube disso, que acontecia isso no estado. No município, enquanto eu estive na gestão lá, e foram cinco anos, não tinha isso.”
Xaud é réu, junto com outras seis pessoas, numa ação de improbidade administrativa, sob a acusação de “lançamentos falsos de plantões e pagamentos por serviços médicos sem a devida comprovação de sua efetiva realização” quando era diretor-geral do Hospital Geral de Roraima. Segundo o Ministério Público, a prática causou dano de R$ 1,38 milhão ao erário.
Quanto à viagem de Xaud aos EUA para acompanhar a Copa América logo após assumir o cargo de secretário-adjunto, o ex-secretário Melo disse que teve ciência e autorizou o desligamento temporário.