SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil registrou 1.003 mortes por dengue, segundo dados do Painel de Arboviroses do Ministério da Saúde, válidos até a 20ª semana epidemiológica (17 de maio) de 2025. O número é menor que o observado no mesmo período do ano passado (5.442), mas superou 2023, quando o país totalizou 867 óbitos até a mesma data.

Em 2024, a doença causou uma violenta epidemia no Brasil, que encerrou o ano com 6.264 mortes –alta de 431,3% quando comparado aos 1.179 óbitos ocorridos de janeiro a dezembro de 2023.

Nos três anos, São Paulo é o estado com os maiores números. Em 2025, sete em cada dez mortes por dengue ocorreram no estado paulista, situação já noticiada pela reportagem no mês de abril. Paraná (85) e Minas Gerais (70) também têm dados expressivos.

Para Júlio Croda, infectologista da Fiocruz e consultor da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o cenário de óbitos por dengue demonstra problemas na assistência.

“Nunca tivemos sucesso no controle vetorial, porque depende de medidas coletivas e individuais, de cada um limpar a sua casa e não deixar a água parada. O óbito depende da assistência que a pessoa com suspeita de dengue tem. Quantas vezes ela vai à Unidade Básica de Saúde? Quantas vezes não recebe o diagnóstico adequado, hidratação adequada? Todo óbito por dengue é prevenível, porque o tratamento da é a hidratação, que previne a morte. Superar mil óbitos por dengue mostra a ineficiência em atender adequadamente o paciente”, afirma o Croda.

Em relação ao número de casos de dengue confirmados, 2024 registrou mais de 5,9 milhões. Destes, 5,1 milhões foram contabilizados até a 20ª semana epidemiológica. Em 2023, foi 1,4 milhão -pouco mais de um milhão na comparação com o mesmo período. Neste ano, o Brasil alcançou quase 987 mil casos. Se considerar os prováveis (soma dos confirmados e em investigação), passa de 1,3 milhão.

Na opinião do especialista, 2025 terminará com quase dois milhões de casos da doença.

“O ano passado foi fora da curva. Até hoje as pessoas estão querendo entender porque foi tão diferente. Se pegarmos o contexto epidemiológico dos últimos dois anos, todo ano que superou um milhão de casos teve bastante circulação de dengue. Neste ano, vamos chegar perto de dois milhões de casos e estabelecer um novo patamar de circulação do vírus da dengue no Brasil, muito provavelmente pelo aumento das temperaturas globais que ocorreram nos últimos anos”, explica.

O problema em 2025, segundo Júlio Croda, é o fato de a epidemia se concentrar em São Paulo, o que também pode ser explicado pelo aumento da quantidade de vetores e a predominância da dengue tipo 3. Até o momento, esse subtipo circula em quase todo o estado paulista -exceções são as regiões de Registro e Presidente Prudente.

“Neste ano está circulando bastante dengue também, mas é mais problemático porque em 2024 se concentrou na região centro-sul. Neste ano, tem uma concentração muito clara no estado de São Paulo. É uma epidemia, em números gerais, menor que a de 2024, mas em São Paulo é bastante importante”, comenta o infectologista.

O tipo 3 reapareceu no país em 2023 -na época, a Fiocruz afirmou que o país não registrava epidemias da doença provocadas por essa cepa há mais de 15 anos-, e circulou também em 2024.

O vírus da dengue possui quatro sorotipos. Quando um indivíduo é infectado por um deles adquire imunidade contra aquele vírus, mas ainda fica suscetível aos demais.

Em nota, a SES (Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo) disse que monitora a situação da dengue e outras arboviroses no estado. De acordo com a pasta, em 2025, foram investidos R$ 3 milhões em equipamentos, incluindo 490 nebulizadores portáteis, 42 de nebulização ambiental e 318 pulverizadores, disponíveis para os municípios.

Em janeiro, o governo estadual criou o COE de combate ao Aedes aegypti e antecipou R$ 228 milhões do IGM SUS Paulista (Incentivo à Gestão Municipal) para os 645 municípios. Também foi apresentado o Plano de Contingência das Arboviroses Urbanas 2025/2026, com ações de combate à dengue, chikungunya e Zika, e em fevereiro, foi decretado estado de emergência para facilitar o acesso aos recursos federais e estaduais.

A SES criou a força-tarefa para apoiar os municípios que lideram o ranking estadual de incidência de dengue neste ano, com registro de mais de mil casos por 100 mil habitantes.

A secretaria tem oferecido capacitação online para profissionais de saúde para reduzir a incidência e mortalidade das doenças e coordenar a resposta estadual de forma integrada entre todos os níveis de atenção à saúde.

“Do ponto de vista da gestão, seja federal, estadual, municipal, falta melhor treinamento dos seus profissionais de saúde e melhor organização dos serviços para atender os casos de dengue. Chegar a mil óbitos é inadmissível no Brasil. Não temos lições aprendidas a partir do cenário catastrófico que vivemos em 2024. Então, se repete os mesmos erros”, finaliza Croda.

O Ministério da Saúde diz que a queda de casos e óbitos em 2025 é resultado de ações conjuntas da pasta, em parcerias com os estados e municípios, voltadas a prevenção, controle vetorial e preparação da rede de assistência, além da mobilização da população.

“Em maio deste ano, o Ministério da Saúde ampliou as ações prioritárias de enfrentamento à dengue para municípios com alta transmissão da doença ou número de casos em ascensão, fortalecendo o apoio aos estados e municípios para reduzir casos graves e óbitos. As equipes da Força Nacional do SUS estão preparadas para atender às cidades e apoiar na organização da assistência, com capacidade para instalar até 150 centros de hidratação”, afirmou em nota.

“Foram feitas missões, por exemplo, em São José do Rio Preto/SP (com mais de 3,6 mil atendimentos), Marília/SP, Viamão/RS, Porto Alegre/RS, Alvorada/RS, Santarém/PA, Macapá/AP, Santana/AP, Porto Velho/RO, Rio Branco/AC, Cuiabá/MT, entre outros”, diz.