SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos EUA, Donald Trump, disse nesta sexta-feira (23) que está recomendando uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia a partir de 1º de junho, afirmando que a negociação comercial com a UE tem sido difícil.

A medida escalona a guerra comercial com o bloco apenas duas semanas depois de os EUA concordarem com a China em reduzir tarifas em um pacto que confortou investidores globais.

Caso se confirme, a tarifa de 50% seria mais do que o dobro da taxa que o presidente dos EUA anunciou para a UE em seu autoproclamado Dia da Libertação em 2 de abril.

“A União Europeia, que foi formada com o propósito principal de tirar vantagem dos Estados Unidos no comércio, tem sido muito difícil de lidar”, disse Trump no Truth Social. “Nossas discussões com eles não estão levando a lugar nenhum!”

Horas mais tarde, Trump reiterou que a taxa de 50% entrará em vigor no começo de junho e que não está em busca de um acordo com a UE. “Estabelecemos o acordo. É de 50% de tarifas”, disse ao ser questionado por jornalistas.

O presidente dos EUA também atacou o bloco por “barreiras comerciais, impostos, penalidades corporativas ridículas, barreiras comerciais, manipulações monetárias, processos injustos e injustificados contra empresas americanas”.

Em resposta, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, disse que a ameaça de Trump ao bloco ‘não ajuda ninguém’, e que Berlim continuaria a apoiar a UE nas negociações com Washington.

“A Comissão Europeia tem nosso total apoio para manter o acesso ao mercado americano, e acredito que tais tarifas não ajudam ninguém. Elas apenas fariam com que o desenvolvimento econômico em ambos os mercados sofresse”, disse Wadephul.

O ministro francês de Comércio Exterior, Laurent Saint-Martin, seguiu na mesma linha e pediu uma desescalada nas tensões tarifárias com os EUA. “As novas ameaças de Trump de aumentar as tarifas não ajudam em nada […]. Mantemos a mesma linha: desescalada, mas estamos prontos para responder”, escreveu no X (Ex-Twitter).

Já o comissário europeu de Comércio, Maroš Šefčovič, enfatizou que a UE continua disposta a trabalhar “de boa-fé” com os Estados Unidos em direção a um acordo comercial baseado no respeito e não em ameaças.

“A UE está totalmente comprometida em chegar a um acordo mutuamente benéfico”, escreveu Šefčovič no X. “O comércio entre a UE e os EUA é incomparável e deve ser pautado pelo respeito mútuo, não por ameaças. Estamos prontos para defender nossos interesses”, acrescentou.

Em defesa a Trump, o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou esperar que a ameaça “acenda um fogo na UE” para negociar com Washington. O cometário foi feito em entrevista ao canal Fox News nesta sexta.

Segundo Bessent, parceiros comerciais importantes dos EUA estão negociando de boa fé, mas a União Europeia tem sido uma exceção. “Acredito que o presidente acha que as propostas da UE não têm a mesma qualidade que vimos nos nossos outros parceiros comerciais”, disse Bessent.

O representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, deve conversar com o comissário de comércio da UE, Maroš Šefčovič, ainda nesta sexta. Ao Financial Times a Comissão Europeia disse que não comentaria as declarações de Trump antes da conversa.

Os mercados de ações haviam se recuperado da queda de abril, ajudados por movimentos como o recuo de Trump, mas foram abalados pela mais recente ofensiva comercial do presidente.

Após a fala de Trump, as bolsas americanas despencaram. Nesta manhã, o Dow Jones caía 0,78%, a 41.531,98 pontos. O S&P 500 tinha queda de 0,93%, a 5.787,75 pontos, enquanto o Nasdaq Composite recuava 1,14%, a 18.709,69 pontos.

Na Europa, o índice STOXX 600, referência do continente, fechou em queda de 0,93%, a 545,13 pontos e marcou um declínio semanal, o primeiro em seis. O índice registrou sua maior baixa em um dia desde 9 de abril.

O movimento do presidente “coloca em dúvida a visão de que os mercados conterão Trump”, disse Andrew Pease, estrategista-chefe de investimentos da Russell Investments.

Os EUA impuseram uma taxa recíproca de 20% sobre a maioria dos produtos da UE em abril, mas a reduziram pela metade até 8 de julho para permitir tempo para negociações. Mantiveram níveis de 25% sobre aço, alumínio e peças de automóveis e estão prometendo ação semelhante em produtos farmacêuticos, semicondutores e outros bens.

O bloco deve agora escolher entre retaliar ou ceder às exigências dos EUA para fazer concessões.

Os estados-membros aprovaram um pacote de 21 bilhões de euros (R$ 136 bilhões) de tarifas de até 50% sobre itens como milho, trigo, motocicletas e roupas -medidas que atualmente não devem entrar em vigor até 14 de julho, mas poderiam ser rapidamente implementadas.

A Comissão Europeia ainda está consultando sobre uma lista maior de 95 bilhões de euros (R$ 614 bilhões) de possíveis medidas, que inclui aeronaves Boeing, carros e uísque bourbon.

Autoridades americanas têm ficado frustradas com a falha da União Europeia em oferecer concessões que outros países fizeram, com Howard Lutnick, secretário de comércio dos EUA, dizendo na quinta-feira (22) que Bruxelas era “impossível” de negociar.

Washington quer que Bruxelas reduza as barreiras à importação para diminuir o tamanho do déficit comercial dos EUA em bens com o bloco, que totalizou US$ 192 bilhões (R$ 1 trilhão) em 2024.

A administração Trump considera o atual patamar tarifário de alimentos e produtos da UE protecionistas e quer que o bloco elimine unilateralmente as tarifas. A UE propôs que ambos os lados eliminem tarifas sobre todos os produtos industriais e alguns agrícolas.

Bruxelas também se ofereceu para ajudar a combater a sobrecapacidade chinesa em setores como aço e automóveis, e para discutir restrições à exportação de tecnologia para Pequim.

Mas recusou-se a discutir a eliminação de impostos digitais nacionais ou IVA (Imposto sobre Valor Agregado), principais demandas dos EUA, ou o enfraquecimento da regulamentação da UE sobre empresas de tecnologia americanas.

Também nesta sexta, o presidente republicano ameaçou a Apple com uma tarifa de 25% sobre iPhones, a menos que a empresa produza o smartphone nos EUA. É um novo capítulo do impasse com o CEO da Apple, Tim Cook.

Horas mais tarde, Trump voltou a comentar o tema e disse que a tarifa de 25% também valeria para Samsung e outras empresas, atingindo o setor de smartphones como um todo.

Cook disse, neste mês, que as fábricas indianas forneceriam a “maioria” dos iPhones vendidos nos EUA nos próximos meses. Produzir os celulares nos Estados Unidos é um desafio pelos componentes necessários, presentes em países como China e Índia.

“Há muito tempo informei a Tim Cook, da Apple, que espero que seus iPhones que serão vendidos nos Estados Unidos da América sejam fabricados e construídos nos Estados Unidos, não na Índia ou em qualquer outro lugar”, escreveu o presidente dos EUA em uma postagem no Truth Social.

Após a ameaça do republicano, as ações da empresa atingiram uma mínima de duas semanas e caíram 2,7%.

As publicações de Trump nesta sexta contrastam com os movimentos recentes para reduzir as tensões comerciais. Os EUA fecharam recentemente um acordo comercial com o Reino Unido e uma trégua com a China.

Desde então, contudo, as negociações com outros países avançaram lentamente, e autoridades de Trump sinalizaram recentemente que mudariam a abordagem, alertando que países que não estivessem negociando de “boa fé” enfrentariam tarifas maiores.