RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Vizinhos de Marcelo e Tânia Marchese D’Ottavio, presos na quarta-feira (21) sob suspeita de ocultar o corpo do pai, o italiano Dario Antonio Rafaelle D’Ottavio, 88, na Ilha do Governador, zona norte do Rio de Janeiro, afirmaram à polícia que os irmãos tinham indícios de declínio mental.
Em depoimento, uma moradora disse que Marcelo passou a apresentar comportamento agressivo e sinais de possível distúrbio psiquiátrico nos últimos anos. Segundo ela, ele passou a gritar na rua, em diversas ocasiões, que teria matado o próprio pai e jogado o corpo no lixo, alegando não ter dinheiro para o funeral.
Ela afirma que ficou sem ver Dario por cerca de três anos, o mesmo período que marca o início das mudanças no comportamento de Marcelo, que antes, segundo sua versão, seria educado e trabalhador.
Vizinhos também relataram um problema de vazamento de água que só foi resolvido após corte no fornecimento pela concessionária, já que Marcelo não deixava ninguém entrar na residência. A testemunha ainda contou que ele costumava ostentar grandes quantias de dinheiro no bolso e em sacolas plásticas, além de fazer semanalmente compras inusitadas, como inúmeros pacotes de papel higiênico.
Já Tânia trabalhava, desde 2011, como professora primária em uma escola do município do Rio, próximo a sua residência. No entanto, de acordo com a prefeitura, não compareceu mais desde 2023, abandonando o cargo.
Segundo policiais, há indícios de que Tânia dormiria no mesmo quarto onde o corpo de Dario estava se decompondo. Isso porque havia somente outras duas camas de solteiro na residência uma ao lado de onde estava o pai e, outra, em um quarto isolado, onde ficava o irmão. A polícia também encontrou biscoitos, com validade, em uma cômoda onde o corpo de Dario se encontrava.
Uma outra vizinha disse que a família tinha um histórico de discussões e as brigas se intensificaram após a morte da esposa de Dario, em 2014. Em uma das últimas discussões, no fim de 2023, ela relatou ter ouvido Marcelo gritar exigindo que Dario entregasse seu cartão bancário e a senha, o que o idoso se recusou a fazer.
Ainda segundo a vizinha, após essa discussão, Dario não foi mais visto. A vizinha afirma que, desde então, ocorreram discussões entre os irmãos, Marcelo e Tânia
Foi essa vizinha quem procurou um Centro de Referência Especializado de Assistência Social, que, no entanto, informou não ter meios legais para intervir sem mandado judicial. Também tentou acionar a Polícia Militar, mas, nas ocasiões em que a viatura esteve no local, os policiais não flagraram situações que justificassem uma intervenção imediata. No entanto, a PM relatou à Polícia Civil a dificuldade de comunicação, incluindo por médicos da família que tentavam contatar Dario, e a investigação foi aberta.
Já no ano passado, uma mãe de uma aluna de uma escola da região relatou que a filha se recusava a passar pela rua Beni após supostamente presenciar Marcelo expondo suas partes íntimas em via pública. Essa vizinha também disse que após questionar Marcelo, ele teria respondido que Dario “morreu” e que “jogou o corpo no lixo”.
De um ano para cá, a vizinha também disse que Marcelo, que antes aparentava ser um homem higiênico, passou a deixar a barba e os cabelos crescerem, sem cuidados.
Segundo o delegado Felipe Santoro, após a prisão, Marcelo e Tânia apresentaram comportamento agressivo, sendo necessária a administração de medicação para conter Marcelo, o que demandou seu transporte em maca pelo Samu. Ambos foram levados inicialmente ao Hospital Municipal Evandro Freire.
Em razão da persistência do quadro clínico e da necessidade de acompanhamento médico e psiquiátrico especializado, Marcelo foi transferido para o Hospital Psiquiátrico Philippe Pinel, enquanto Tânia foi encaminhada ao Hospital Pedro 2º, onde permanecem sob cuidados médicos.
O delegado apresentou à Justiça um pedido de realização de exame de sanidade mental dos irmãos. A audiência de custódia está marcada para esta sexta (23).
A polícia já sabe que Dario recebia dois benefícios do INSS no total de cerca de R$ 5.000 que se encontravam ativos. Segundo investigadores, a falta do corte dos recursos por parte dos filhos levanta a possibilidade de o crime ter motivação financeira.