SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Com carreira multifacetada como ator, diretor, escritor, cantor, dublador e político, Cláudio Cavalcanti (1940-2013) é muito lembrado por ter vivido o médico espírita Alberto Rezende em “A Viagem”, reexibida nesta sexta-feira (23) no Vale a Pena Ver de Novo. No fim da vida, recusou certos convites para voltar à TV e criou polêmica ao explicar a decisão.
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PAPÉIS MEMORÁVEIS
Cláudio Cavalcanti iniciou a carreira artística aos 16 anos no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC). Lá, dividiu o palco com nomes como Fernanda Montenegro e Sérgio Britto. Desde então, nunca mais deixou os palcos e as telas.
Atuou em 39 novelas, 35 filmes e 41 peças teatrais. Além disso, teve destaque como cantor, com um álbum de sucesso lançado em 1971.
Seu primeiro papel na TV foi em “22-2000 Cidade Aberta”, de 1965, na Globo. Esteve no elenco de novelas icônicas, como “Véu de Noiva”; “Irmãos Coragem”; “Dona Xepa”; “Baila Comigo”; “Roque Santeiro”; “O Salvador da Pátria” e “Rainha da Sucata”. Na Globo, sua última aparição foi em “Chiquinha Gonzaga” (1999).
Em 2000 e 2001 fez “Marcas da Paixão” e “Roda da Vida”, ambas novelas da Record. Depois de anos de hiato, voltou a atuar na novela “Amor e Revolução”, do SBT.
ATEÍSMO
Em “A Viagem”, Cláudio Cavalcanti deu vida ao médico Alberto, principal personagem espírita da trama. Amigo de Otávio (Antonio Fagundes) e médico da família, ele se envolve com Estela (Lucinha Lins) e lidera as sessões mediúnicas ao longo da história de Ivani Ribeiro.
Curiosamente, o ator era declaradamente ateu. Este não foi o primeiro papel de cunho religioso interpretado por Cavalcanti. Um de seus personagens mais famosos foi o padre Albano, de “Roque Santeiro”.
“Essa conversa de Deus, pátria e família é motivo dos maiores crimes da história. Durante essa novela [‘A Viagem’], eu aproveito para fingir que acredito em alguma coisa”, disse Cláudio Cavalcanti, à Folha de S.Paulo.
A incredulidade de Cavalcanti não o poupou de brincadeiras dos colegas durante as gravações. “A gente poderia chamá-lo de ‘O Exorcista”, provocou o diretor Wolf Maia em uma das gravações, conforme noticiado pela Folha de S.Paulo à época.
CARREIRA POLÍTICA
A partir dos anos 2000, Cavalcanti também se destacou na política. Eleito vereador do Rio de Janeiro em 2000 e reeleito em 2004, defendeu com firmeza a causa animal.
Foi autor de 29 leis pioneiras, incluindo a proibição do extermínio de animais abandonados e o incentivo à esterilização gratuita. Também atuou contra rodeios, circos com animais e vivissecção, gerando debates nacionais e internacionais.
Apesar de seu propalado ateísmo, Cavalcanti dizia que identificava a presença divina nos animais. O ator era vegetariano e criava dezenas de gatos e cachorros. De acordo com matéria da Folha de S.Paulo, o veterano chegou a cuidar até de um morcego, que encontrou na época de “Roque Santeiro”.
REJEITOU CONVITES ANTES DE MORRER
Em 2013, mesmo ano de sua morte, Cláudio se despediu da carreira em “Sessão de Terapia”. Selton Mello, criador do seriado, foi quem o convidou.
Em entrevista, veterano declarou que não queria voltar à TV em qualquer papel. Ele assumiu que foi chamado para inúmeros projetos e chegou a desdenhar de “Malhação”, extinta novela teen da Globo.
“Tenho tido muitos convites, mas não queria fazer participação especial em novela ou Malhação. Queria voltar com algo que fosse espetacular. São 57 anos de carreira. Pode parecer cabotinismo, mas já fiz muita coisa boa. Claro que também já fiz coisas ruins. Só que agora eu devo um padrão de qualidade ao meu trabalho. Estava atrás de algo que fosse me dar orgulho e prazer de ter feito”, disse Cláudio Cavalcanti, ao jornal O Globo, em 2013.
“Sessão de Terapia” foi o último trabalho do ator, que morreu em setembro de 2013, aos 73 anos. Cavalcanti foi internado no hospital onde havia passado por uma cirurgia na coluna. Ele teve complicações cardíacas, insuficiência renal e um quadro que evoluiu para falência múltipla dos órgãos.