SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado morreu nesta sexta-feira (23) aos 81 anos. Ele estava com problemas decorrentes de de uma malária que adquiriu nos anos 1990, segundo relato de um amigo à Folha de S.Paulo.
SEM MEDO DA MORTE
Em 2024, o fotógrafo deu uma entrevista à revista GQ falando sobre a morte. Na ocasião, Salgado desmentiu boatos sobre aposentadoria depois de uma entrevista ao jornal The Guardian. “Não falei que pararia de trabalhar, só que, aos 80, você atinge uma liberdade inimaginável. O que vier pela frente é lucro”, disse à revista.
Salgado lembrou que “está mais próximo da morte”. “As pessoas vivem, quando muito, até os 90, e estou mais próximo da morte (…) Não me engajaria em um projeto que se arrastasse por seis ou sete anos, porque possivelmente não teria como concluí-lo.”
O artista esclareceu ainda que a iminência da morte não o assusta. “Eu estou vivo!”, celebra. “Trabalhei quatro anos na Gamma (agência fotográfica francesa fundada em 1966), no fim da década de 1970. Éramos doze fotógrafos e quatro deles foram assassinados; já vi tanta gente morrer”, observou.
TRABALHO DO FOTÓGRAFO ESTÁ EM EXPOSIÇÃO
Ele morava com a mulher, Lélia Salgado, e o Filho Rodrigo, em um apartamento em Paris, perto da Praça da Bastilha. O estúdio dele na cidade guarda um acervo com mais de 500 mil imagens.
O trabalho do fotógrafo está em destaque no centro Les Franciscaines, na comuna francesa de Deauville, em uma mostra aberta ao público até o dia 1º de junho de 2025. A exposição foi organizada em colaboração com a Maison Européenne de la Photographie, que possui mais de 400 obras do artista no acervo.
Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade.Instituto Terra
QUEM FOI SEBASTIÃO SALGADO
Mineiro, era o único homem, e o sexto, entre nove irmãs. Formado em Economia em Vitória, no Espírito Santo, e pós-graduado na Universidade de São Paulo (USP), trabalhou no Ministério da Economia em 1968.
Durante a ditadura militar, foi obrigado a exilar-se, indo morar em Paris (1969). Na capital francesa, ele fez doutorado em Economia, em 1971. No mesmo ano, começou a trabalhar na Organização Internacional do Café, como consultor no controle de plantações na África.
Foi estudando os cafezais africanos que descobriu as possibilidades da fotografia: melhor meio de retratar a realidade econômica do que textos e estatísticas. Retornando a Paris, em 1973, iniciou a vida como fotojornalista.
Suas primeiras reportagens foram sobre a seca na região africana de Sahel (faixa ao sul do Saara) de Níger e trabalhadores imigrantes na Europa. Em 1979, tornou-se membro da Magnum Photos, uma cooperativa de fotógrafos, fundada em 1947 por Robert Capa e Henri Cartier-Bresson, entre outros. Iniciou então a comovente série de fotografias documentais sobre camponeses na América Latina. O trabalho, que durou sete anos, resultou no livro Autres Ameriques (1986).
Em 1986, trabalhando para a Organização Humanitária Médicos sem Fronteiras, fotografou, durante 15 meses, os refugiados da seca e o trabalho dos médicos e enfermeiros voluntários na região africana de Sahel da Etiópia, Sudão, Chade e Mali, o que resultou no livro Sahel L’Homme en Détresse. A série Workers, sobre trabalhadores em escala mundial, realizada de 1987 a 1992, correu o mundo em exposição.