SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Universidade de Harvard acionou a justiça federal dos Estados Unidos para tentar reverter a proibição de matricular novos alunos estrangeiros, determinada pelo governo de Donald Trump nesta quinta-feira (22).
Decisão de Trump viola lei e direitos garantidos pela primeira emenda da Constituição dos EUA, diz Harvard. No pedido protocolado nesta sexta-feira (23), a instituição afirmou que tem direito de rejeitar as exigências que o governo tem feito. Segundo a universidade, os pedidos do republicano têm como intuito “controlar a governança, o currículo e a ‘ideologia’ de seus professores”.
Pedido da universidade é de que um juiz bloqueie imediatamente a ordem emitida nesta quinta-feira (22). A ordem do serviço de Segurança Nacional dos EUA determinava que a instituição fornecesse “todos os registros e arquivos de áudio e vídeo que envolvam atividades perigosas, ameaçadoras ou ilegais de estudantes estrangeiros matriculados nos últimos cinco anos”. Além disso, outra exigência da gestão do republicano era que Harvard entregasse todas as filmagens que envolvam protestos dos últimos cinco anos no campus de Cambridge.
“Harvard não é Harvard sem os seus alunos internacionais”, diz universidade. Um trecho do processo aberto pela instituição de ensino também justifica que a administração está tentando levantar as informações pedidas pelo governo sobre os alunos estrangeiros, mesmo com o tempo curto, de 10 dias úteis, que foi dado à instituição.
Com um simples ato, o governo tentou apagar um quarto do corpo estudantil de Harvard, feito por estudantes internacionais que contribuem significativamente para a universidade e sua missão.Trecho de processo de Harvard contra Trump, divulgado pelo New York Times
Esta é a segunda vez que a universidade entra na justiça contra o governo em poucas semanas. Em 21 de abril, a universidade acionou a justiça afirmando que o congelamento de mais de US$ 2 bilhões em pesquisas por parte do governo era inconstitucional e injusto.
O governo Trump proibiu a Universidade de Harvard de matricular novos estudantes estrangeiros nesta quinta-feira (22). Os alunos internacionais que já fazem parte da instituição precisarão se transferir ou perderão seu status legal no país. “A certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio da Universidade de Harvard é revogada”, escreveu a secretária de Segurança Nacional, Kristi Noem, em uma carta à instituição, referindo-se ao principal sistema que permite aos estudantes estrangeiros estudar nos EUA.
Estrangeiros são 27,2% dos alunos de Harvard. A universidade possui 6.793 estudantes internacionais, de um corpo discente de 24.596 pessoas.
Governo Trump diz que universidade fomenta violência no campus. Em uma publicação na rede social X, Kristi Noem declarou que o governo “está responsabilizando Harvard por fomentar a violência, o antissemitismo e a coordenação com o Partido Comunista Chinês em seu campus”.
TENSÃO COM O GOVERNO TRUMP E CORTE BILIONÁRIO
Decisão ocorre após ameaça do governo Trump. Em abril, a universidade foi informada de que se não fornecesse registros detalhados sobre “atividades ilegais e violentas” de seus estudantes internacionais antes de 30 de abril enfrentaria a perda de sua certificação.
O cancelamento da certificação pode gerar graves consequências financeiras para Harvard. Ainda segundo o governo, os atuais estudantes internacionais de Harvard precisarão se transferir ou perderão seu status legal.
Governo já havia cortado US$ 2,2 bilhões (R$ 12,4 bilhões) em financiamento federal para Harvard. De acordo com a gestão de Donald Trump, o corte foi motivado porque ocorre discriminação no campus da universidade.
Universidade foi primeira a rejeitar exigências de Trump. Em uma carta assinada por dois advogados da universidade dirigida à administração republicana, Harvard, uma das instituições de ensino mais respeitadas do mundo, afirma que “não renunciará à sua independência, nem aos direitos que a Constituição lhe garante”.
Harvard foi palco de protestos pró-Palestina por estudantes. O governo Trump e a reitoria da universidade tomaram muitas ações desses protestos como antissemitas, e alguns alunos chegaram a ser suspensos. A instituição afirmou ter adotado importantes medidas nos últimos 15 meses para combater o antissemitismo, e está “em uma situação muito diferente da de um ano atrás”.
Trump já cortou US$ 400 milhões da Universidade de Columbia por protestos. Ao contrário de Harvard, a instituição se comprometeu a realizar reformas drásticas exigidas pela administração para tentar recuperar esses fundos.