SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar abriu em alta de mais de 1% nesta sexta-feira (23), à medida que os investidores repercutiam o anúncio pelo governo na véspera de aumento nas alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Por volta das 9h30, desacelerou alta.

Às 9h39, a divisa dos EUA subia 0.71%, a 5,700 na venda. A alta acontece após o governo Lula anunciar o congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas e um aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para reforçar a arrecadação. Horas depois, o Executivo recuou de algumas das medidas.

Na quinta (23), o dólar subiu 0,35%, cotado a R$ 5,660, e a Bolsa caiu 0,44%, a 137.272 pontos. O dia foi embalado por preocupações fiscais no Brasil e nos Estados Unidos.

Por aqui, o foco foi o relatório de receitas e despesas do governo federal, que anunciou o congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas e um aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para reforçar a arrecadação.

Horas depois de baixar o decreto para aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de uma série de operações de câmbio e crédito de empresas, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chamou uma reunião de emergência e decidiu rever dois pontos da medida, editada pelo presidente nesta quinta-feira (22).

O congelamento no Orçamento de 2025 mira cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal e a meta de resultado primário fixada para este ano. O objetivo é de déficit zero, mas tem uma margem de tolerância que permite resultado negativo de até R$ 31 bilhões.

O valor congelado reflete o efeito total da combinação entre bloqueio, feito para compensar o aumento de outras despesas obrigatórias (como benefícios previdenciários), e contingenciamento, necessário quando há frustração na expectativa de arrecadação.

No relatório de avaliação de receitas e despesas do 2º bimestre, a equipe econômica indicou a necessidade de bloquear R$ 10,6 bilhões para respeitar o limite de gastos do arcabouço. Também será preciso contingenciar outros R$ 20,7 bilhões para cumprir a meta.

O Executivo, além disso, vai aumentar o IOF para reforçar a arrecadação. As mudanças só foram detalhadas após o fechamento do mercado, seguindo um protocolo do Ministério da Fazenda, e a falta de detalhes inspirou volatilidade na véspera.

A elevação do IOF impactará empresas, operações de câmbio e previdência privada, com previsão de arrecadação de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026.

De acordo com o Ministério da Fazenda, será unificada em 3,5% a alíquota de IOF sobre operações de câmbio com cartões de crédito, débito e pré-pagos internacionais, além de remessa de recurso para conta de contribuinte brasileiro no exterior e compra de moeda em espécie.

Em outra mudança, o teto de IOF de operações de crédito por empresas passa de 1,88% ao ano para 3,95% ao ano. No caso de empresas do Simples, a cobrança passa de 0,88% ao ano para 1,95% ao ano.

Para Thiago Lourenço, economista da Manchester Investimentos, o relatório “mostrou um controle parcial por parte do governo, que está preso entre gastos obrigatórios e algum nível de estímulo para grupos sociais, foco de pressão nas despesas”.

“A visão não foi muito positiva. Não é um déficit absurdo, mas é um pouco frustrante para o mercado, que esperava déficit primário zero.”

O anúncio do relatório fiscal ocorreu em um cenário já avesso ao risco, sobretudo por causa do projeto de lei de Donald Trump.

A Câmara dos EUA aprovou o pacote que viabiliza grande parte das promessas de campanha de Trump. A votação foi de 215 a 214 votos, com todos os democratas e dois republicanos votando contra. Um terceiro republicano votou “presente”.

A legislação, que ainda precisa passar pelo Senado para ser aprovada em definitivo, mira reduzir impostos e direcionar mais recursos para as Forças Armadas e seguranças de fronteira. A conta será paga com cortes no Medicaid, assistência alimentar, educação e programas de energia limpa, aumentando significativamente os déficits federais e o número de pessoas sem seguro de saúde.

A projeção é que o projeto eleve em cerca de US$ 3,8 trilhões (R$ 21,46 trilhões) a dívida de US$ 36,2 trilhões (R$ 204,3 trilhões) do governo federal ao longo da próxima década, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso.

O pacote acirrou preocupações com a situação fiscal dos EUA, sobretudo após a Moody’s, na semana passada, ter se tonado a última das principais agências de classificação de crédito a rebaixar a nota dos EUA, da máxima Aaa para Aa1.

O mercado de títulos oscilou. Pela manhã, os rendimentos registraram forte alta, com investidores exigindo maiores prêmios de risco para financiar a dívida do país. À tarde, porém, ensaiaram alguma recuperação, uma vez que já haviam acumulado altas expressivas nos últimos dois dias.

Parte do movimento de deterioração das taxas também foi contido após Christopher Waller, membro do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), afirmar que há espaço para cortes nos juros ainda neste ano.

Em entrevista à Fox Business, Waller disse que o afrouxamento depende de onde a política tarifária dos Estados Unidos se estabelecerá. Se as taxas do presidente atingirem o limite inferior da faixa dos níveis agressivos anunciados no início da guerra comercial, então a perspectiva parece sólida.

“Se conseguirmos reduzir as tarifas para perto de 10% e tudo isso for selado, concluído e entregue em algum lugar até julho, estaremos em uma boa posição para fazer cortes nos juros durante a segunda metade do ano.”

O diretor não disse como ou quando ele espera que o início do afrouxamento da taxa de juros, hoje na banda de 4,25% e 4,5%.

“Essa acomodação nos treasuries ajudou a sustentar um tom mais positivo nos índices acionários americanos na sessão de hoje. No entanto, a narrativa da reversão da ‘excepcionalidade americana’ e o contínuo aumento do déficit fiscal dos EUA permanecem como os principais fatores por trás das pressões altistas sobre os juros, somando-se ainda à inflação persistente e aos indicadores econômicos fortes”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.

No fim do dia, o título de 10 anos marcava queda de 1,35%, a 4,53%, enquanto o de 30 anos recuava 0,85%, a 5,04%.