PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – O grupo Buzzcocks, um dos mais importantes do punk rock, desembarca no Brasil para sua primeira turnê no país em 15 anos. A banda toca dia 24 de maio em São Paulo, no Carioca Club, 25 de maio em Curitiba, no Basement Cultural, e e no dia 27 em Porto Alegre, no Opinião.

Será a primeira vinda ao país sem o cantor, guitarrista e principal compositor do grupo, Pete Shelley, que morreu em 2018 em Tallinn, na Estônia, onde morava desde 2012. A formação atual conta com o maior parceiro de Shelley, o vocalista e guitarrista Steve Diggle, além do baterista Danny Farrant, do baixista Chris Remington e do guitarrista Mani Perazzoli. “Não acredito que se passaram sete anos desde a partida de Pete”, diz Steve Diggle à Folha. “Não há um dia em que eu não pense nele”.

O Buzzcocks foi fundado em Manchester, na Inglaterra, em 1976, por Howard Devoto e Pete Shelley, estudantes do Instituto de Tecnologia de Bolton. Depois de algumas apresentações amadoras na escola, a banda finalmente fez seu primeiro show profissional abrindo para os Sex Pistols em julho de 1976, com uma formação que incluía Steve Diggle no baixo e John Maher na bateria.

Em 1977, a banda lançou o primeiro EP, “Spiral Scratch”, um marco do punk inglês, mas Howard Devoto decidiu sair para montar o grupo Magazine. Steve Diggle passou a tocar guitarra e o baixo ficou com Steve Garvey.

Foi essa formação, que tinha ainda Pete Shelley nos vocais e guitarra e John Maher na bateria, que gravou os três primeiros LPs do Buzzcocks, todos clássicos do punk rock: “Another Music in a Different Kitchen” (1978), “Love Bites” (1978) e “A Different Kind of Tension” (1979).

O Buzzcocks fez parte da geração pioneira do punk britânico, com Sex Pistols e The Clash, mas sua música era diferente do rock furioso e politizado dessas duas. As letras de Shelley e Diggle não tocavam em política —pelo menos não explicitamente— e falavam da luta de classes com um senso de humor que faltava aos seus contemporâneos.

Em “Why She’s a Girl from a Chainstore”, Shelley cantava, com ironia, sobre uma menina que trabalhava numa loja de rede e que não queria namorar com ele por julgar que ele era de outra classe social. Diz a letra: “Ela enfrenta a Barreira de Bernstein/ esperando alguém para casar”.

A “Barreira de Bernstein” refere-se a uma teoria do sociólogo britânico Basil Bernstein (1924-2000), segundo a qual estudantes das classes proletárias teriam dificuldades escolares por não entenderem os códigos de comunicação de outras classes sociais.

“Sim, nós éramos uma banda diferente de nossas contemporâneas do punk”, diz Diggle. “Pete e eu ouvíamos muita música —Little Richard, Elvis, Beatles, Kinks, The Who, depois as bandas experimentais alemãs, como Can e Neu!,— mas também gostávamos muito de ler e adorávamos Dostoiévski e os poetas simbolistas franceses. Isso se refletia em nossas canções, que sempre buscavam caminhos diferentes e tentavam falar de coisas mais interessantes do que simplesmente o que acontecia à nossa volta.”

Se os temas das letras eram menos realistas e cinzas, a música do Buzzcocks também de destacava do punk por sua alegria e descontração. Eram canções com uma clara pegada pop, que influenciaram desde o emo-punk norte-americano de Hüsker Dü e Replacements até o punk radiofônico dos anos 90 de bandas como Green Day e Offspring.

Outro grande fã do Buzzcocks era Kurt Cobain, que convidou a banda para abrir alguns shows da turnê do LP “In Utero”, do Nirvana, em 1994. “Aquilo foi incrível”, lembra Diggle.

“Kurt, Dave e Krist [membros do Nirvana] eram grandes fãs nossos e foram muito amáveis com a gente. Lembro que Kurt uma vez me perguntou como a gente havia conseguido ter uma carreira tão longa e suportar o tédio da estrada, e eu disse que o importante era ter senso de humor e não levar tudo tão a sério. Mal sabia eu o que aconteceria depois!”

BUZZCOCKS

– Quando Sáb. (24), às 18h

– Onde Carioca Club – r. Cardeal Arcoverde, 2.899, Pinheiros

– Preço R$ 380. Fastix.com.br

– Classificação 16 anos

BUZZCOCKS

– Quando Ter. (27), às 21h

– Onde Opinião – José do Patrocínio, 834

– Preço R$ 280. Sympla.com.br

– Classificação 16 anos