SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente do Corinthians, Augusto Melo, dois ex-integrantes de sua gestão e um intermediário foram indiciados pela Polícia Civil nesta quinta-feira (22) sob suspeita de associação criminosa, furto qualificado e lavagem de dinheiro relacionados ao inquérito que apura irregularidades no contrato de patrocínio com a casa de apostas VaideBet.

A informação foi divulgada inicialmente pelo site Gazetaesportiva.com e confirmada pela reportagem.

Em nota, a defesa de Melo disse que “recebeu com incredulidade e indignação o relatório final do inquérito, e informa que fará suas considerações oficiais assim que concluir a análise integral do documento”. O texto afirma que o presidente “não possui qualquer envolvimento com eventuais irregularidades relacionadas ao caso”.

Em entrevista coletiva recente, Augusto Melo afirmou que não renunciaria ao cargo mesmo se fosse indiciado. “Jamais. Não tenho nada a ver com isso. São sempre as mesmas negociações. Tudo o que eu faço, tem o jurídico e o compliance que me dão o suporte”, disse ele.

O inquérito foi concluído na quarta-feira (21). Também foram indiciados o ex-superintendente de marketing Sérgio Moura, o ex-diretor administrativo Marcelo Mariano e Alex Fernando André, conhecido como Alex Cassundé, apontado no contrato entre clube e a casa de apostas como intermediário.

Os quatro aguardam agora manifestação do Ministério Público de São Paulo a partir do documento produzido pelas investigações do Departamento de Polícia de Proteção a Cidadania (DPPC) e da terceira delegacia, especializada no crime de lavagem de dinheiro.

A partir do inquérito concluído pelo delegado Thiago Fernando Correia, o Ministério Público pode oferecer a denúncia, que será analisada por um juiz. Caso a Justiça aceite, Augusto Melo então vira réu no caso.

De acordo com o inquérito, ao qual a reportagem teve acesso, a polícia concluiu que Alex Cassundé “não foi o intermediário do contrato de patrocínio firmado entre o Sport Club Corinthians Paulista e a empresa VaideBet” e atuou junto a dirigentes do clube para desviar parte do dinheiro do patrocinador.

O texto diz, ainda, que sua inserção de Cassundé não passou de “ardilosa simulação para, inequivocamente, possibilitar que recursos financeiros do clube fosse ilegalmente desviados.”

A apuração acrescenta que a inclusão indevida de Alex Cassundé no contrato “foi viabilizada graças à atuação orquestrada e criminosa de Augusto Pereira de Melo, Marcelo Mariano dos Santos e Sérgio Lara Muzel de Moura, dirigente corintianos que, unidos em desígnios e com divisão de tarefas para o fim comum, agiram em conluio e meticulosamente para afastar do negócio aqueles que realmente contribuíram para sua existência”, diz outro trecho do inquérito.

Um relatório parcial da Polícia Civil de São Paulo aponta que uma empresa agenciadora de jogadores de futebol, que foi acusada de ter uma ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), recebeu mais de R$ 1 milhão a partir de pagamentos feitos pelo Corinthians.

Formalmente, a justificativa para os repasses de dinheiro foi a intermediação do contrato entre o clube de futebol e a casa de apostas esportivas online VaideBet.

Ao todo, R$ 1.074.150 chegaram até a conta bancária da empresa UJ Football Talent Intermediação. A empresa foi alvo da delação premiada do corretor de imóveis Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, assassinado em novembro no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos.

Segundo a delação, a UJ Football fazia lavagem de dinheiro do tráfico na aquisição dos atletas da elite do futebol brasileiro.

O dinheiro do Corinthians teria chegado até a empresa a partir de pagamentos do clube à empresa Rede Social Media Design. Ela pertence a Cassundé, que fez parte da equipe de comunicação de Augusto Melo, durante a campanha eleitoral na qual ele foi eleito presidente do clube.

A denúncia de que empresas laranjas teriam recebido dinheiro que veio do Corinthians motivou a rescisão do contrato da VaideBet com o clube, em junho do ano passado. O patrocínio da casa de apostas tinha sido o primeiro grande contrato firmado pela gestão de Augusto Melo.

Na próxima segunda-feira (26), a partir das 18h (de Brasília), o Conselho Deliberativo do Corinthians se reúne no Parque São Jorge para votar o impeachment de Augusto Melo. O pedido foi aberto no ano passado por irregularidades no contrato assinado com a VaideBet.