SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar subiu 0,35% nesta quinta-feira (22), cotado a R$ 5,660, investidores atentos ao cenário fiscal do Brasil e dos Estados Unidos.
Os últimos momentos do pregão repercutiram a divulgação do relatório de receitas e despesas do governo federal, que anunciou congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas e um aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) para reforçar a arrecadação. Antes, o foco estava no pacote tributário do governo Donald Trump, que prevê alta na dívida pública.
Após o anúncio do relatório, os ativos locais chegaram a registrar melhora, mas pioraram logo depois. O dólar reverteu as perdas, e a Bolsa, que antes subia, fechou em queda de 0,44%, a 137.272 pontos.
O congelamento de R$ 31,3 bilhões em despesas do Orçamento de 2025 mira cumprir o limite de gastos do arcabouço fiscal e a meta de resultado primário fixada para este ano. O objetivo é de déficit zero, mas tem uma margem de tolerância que permite resultado negativo de até R$ 31 bilhões.
O valor congelado reflete o efeito total da combinação entre bloqueio, feito para compensar o aumento de outras despesas obrigatórias (como benefícios previdenciários), e contingenciamento, necessário quando há frustração na expectativa de arrecadação.
No relatório de avaliação de receitas e despesas do 2º bimestre, a equipe econômica indicou a necessidade de bloquear R$ 10,6 bilhões para respeitar o limite de gastos do arcabouço. Também será preciso contingenciar outros R$ 20,7 bilhões para cumprir a meta.
O Executivo, além disso, vai aumentar o IOF para reforçar a arrecadação, mas as mudanças só serão detalhadas após às 17h, seguindo o protocolo do Ministério da Fazenda. Diante das especulações no mercado financeiro, o ministro Fernando Haddad limitou-se a dizer que não haverá impacto sobre dividendos enviados ao exterior.
O relatório “mostrou um controle parcial por parte do governo, que está preso entre gastos obrigatórios e algum nível de estímulo para grupos sociais, foco de pressão nas despesas”, diz Thiago Lourenço, economista da Manchester Investimentos.
“A visão não foi muito positiva. Não é um déficit absurdo, mas é um pouco frustrante para o mercado, que esperava déficit primário zero.” A falta de informações sobre o IOF também inspirou volatilidade entre os investidores.
O anúncio do relatório fiscal ocorreu em um cenário já avesso ao risco, sobretudo por causa do projeto de lei de Donald Trump.
A Câmara dos EUA aprovou o pacote que viabiliza grande parte das promessas de campanha de Trump. A votação foi de 215 a 214 votos, com todos os democratas e dois republicanos votando contra. Um terceiro republicano votou “presente”.
A legislação, que ainda precisa passar pelo Senado para ser aprovada em definitivo, mira reduzir impostos e direcionar mais recursos para as Forças Armadas e seguranças de fronteira. A conta será paga com cortes no Medicaid, assistência alimentar, educação e programas de energia limpa, aumentando significativamente os déficits federais e o número de pessoas sem seguro de saúde.
A projeção é que o projeto eleve em cerca de US$ 3,8 trilhões (R$ 21,46 trilhões) a dívida de US$ 36,2 trilhões (R$ 204,3 trilhões) do governo federal ao longo da próxima década, de acordo com o Escritório de Orçamento do Congresso.
O pacote acirrou preocupações com a situação fiscal dos EUA, sobretudo após a Moody’s, na semana passada, ter se tonado a última das principais agências de classificação de crédito a rebaixar a nota dos EUA, da máxima Aaa para Aa1.
O mercado de títulos oscilou. Pela manhã, os rendimentos registraram forte alta, com investidores exigindo maiores prêmios de risco para financiar a dívida do país. À tarde, porém, ensaiaram alguma recuperação, uma vez que já haviam acumulado altas expressivas nos últimos dois dias.
Parte do movimento de deterioração das taxas também foi contido após Christopher Waller, membro do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), afirmar que há espaço para cortes nos juros ainda neste ano.
Em entrevista à Fox Business, Waller disse que o afrouxamento depende de onde a política tarifária dos Estados Unidos se estabelecerá. Se as taxas do presidente atingirem o limite inferior da faixa dos níveis agressivos anunciados no início da guerra comercial, então a perspectiva parece sólida.
“Se conseguirmos reduzir as tarifas para perto de 10% e tudo isso for selado, concluído e entregue em algum lugar até julho, estaremos em uma boa posição para fazer cortes nos juros durante a segunda metade do ano.”
O diretor não disse como ou quando ele espera que o início do afrouxamento da taxa de juros, hoje na banda de 4,25% e 4,5%.
“Essa acomodação nos treasuries ajudou a sustentar um tom mais positivo nos índices acionários americanos na sessão de hoje. No entanto, a narrativa da reversão da ‘excepcionalidade americana’ e o contínuo aumento do déficit fiscal dos EUA permanecem como os principais fatores por trás das pressões altistas sobre os juros, somando-se ainda à inflação persistente e aos indicadores econômicos fortes”, diz Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad.
No fim do dia, o título de 10 anos marcava queda de 1,35%, a 4,53%, enquanto o de 30 anos recuava 0,85%, a 5,04%.