CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Não havia apenas rostos do filme “O Agente Secreto” no desfile brasileiro pela Croisette, avenida onde ficam o Palácio dos Festivais e os luxuosos hotéis de Cannes. Entre Wagner Moura e Maria Fernanda Cândido, estrelas do filme de Kleber Mendonça Filho que concorre à Palma de Ouro, Camila Pitanga também dançava ao som do maracatu.

A atriz desembarcou na Riviera Francesa para a estreia de “Samba Infinito”, filme de Leonardo Martinelli apresentado na Semana da Crítica, mostra paralela que integra a programação do festival. Há apenas dois meses, Pitanga se tornou uma espécie de ícone para o público LGBTQIA+ por dar vida a Lola, vilã da novela “Beleza Fatal” escrita por Raphael Montes.

Desfilar pelo tapete vermelho do festival de cinema mais importante do mundo, no ano em que o Brasil é o país de honra, parecia adequado não só pela viralização recente da atriz nas redes sociais, mas também pelo seu histórico prolífico nas telonas e telinhas nacionais.

Sua estreia no cinema foi com seu pai, Antônio Pitanga, em “Quilombo”, filme de Cacá Diegues que concorreu à Palma de Ouro em 1984 -coincidência ou não, o cineasta do cinema novo foi homenageado nesta segunda-feira com a exibição do documentário sobre sua vida, “Para Vigo Me Voy!”.

A partir daí, acumulou filmes como “Sal de Prata”, “Mulheres do Brasil” e “Saneamento Básico”, além das dezenas de participações em novelas. Neste ano deve, ainda, protagonizar “Malês” , filme dirigido por seu pai.

É difícil dizer quem Pitanga interpreta exatamente em “Samba Infinito”. No início do curta, ela aparece vestindo uma fantasia dourada e reluzente de carnaval, enquanto brinca na rua com um menino que usa asas de anjo. Em um primeiro momento, pensamos que ele é seu filho, e ela o perde em meio a festança.

O protagonista do filme é Angelo, interpretado por Alexandre Amador, gari que varre as ruas atoladas de confetes depois que os foliões vão para casa. Ao recolher os restos do Carnaval, ele reflete sobre a finitude da festa e da vida, mais especificamente a de sua irmã, com quem costumava festejar o Carnaval quando criança naquelas mesmas ruas.

Angelo encontra o menino perdido em uma rua desértica. O garoto diz que precisa devolver um livro na biblioteca, e o gari o acompanha até o Real Gabinete Português de Leitura, no Rio de Janeiro. Ali, a personagem de Pitanga reaparece para buscar o menino. A impressão que fica é a de que ela representa a irmã de Angelo, e o bloco que passou, a vida, ou algum momento dela que não pode mais ser recuperado.

Outro personagem que causa impacto mesmo com poucos segundos de tela é o bibliotecário, interpretado por ninguém menos que Gilberto Gil. “O filme é profundamente inspirado no repertório artístico e na filosofia de Gilberto Gil, então tê-lo no elenco foi uma alegria imensa”, disse Martinelli.

O cantor, ícone da MPB brasileira, está na turnê “Tempo Rei” pelo Brasil, que faz uma reflete sobre a ação transformadora do tempo.

O prêmio principal da Semana da Crítica de curta-metragem foi para “L’mina”, da marroquina Randa Maroufi. O filme mostra o cotidiano de Jerada, cidade mineira no Marrocos onde a mineração de carvão foi interrompida oficialmente em 2001, mas continua de forma informal. Trabalhadores reais se apresentaram interpretando a si próprios, e a mina foi recriada em um cenário feito com os moradores da cidade.