BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) articulou uma série de medidas para enfrentar a nova “temporada do fogo”, como são conhecidos os meses de maio a novembro, quando grande parte do país passa por um período de estiagem.

O objetivo é fazer frente aos incêndios criminosos que, em 2024, levaram os índices de queimadas a níveis alarmantes nas regiões do cerrado e da amazônia.

Conforme informações obtidas pela Folha de S.Paulo, o Ibama ampliou a sua equipe própria de brigada de incêndio em 17% e vai contar com 2.600 profissionais nesta atividade. A frota de caminhonetes do órgão federal será ampliada em 12%, saindo de 153 para 170 carros. Os helicópteros, que atualmente são sete, terão o reforço de mais quatro aeronaves.

As medidas preventivas também terão o apoio de mais veículos equipados para atuar em situações de combate a incêndio. O número atual de 54 carros terá o acréscimo de mais 30 veículos.

O Ibama também está em processo de adquirir mais duas bases operacionais móveis, um tipo de motorhome, avaliado em cerca de R$ 11 milhões cada equipamento.

“Estamos ampliando a capacidade logística e operacional, com pessoal, bases móveis e equipamentos para prevenir e combater os incêndios. As medidas se concentrarão nas áreas críticas, com fiscalização presencial, além de monitoramento remoto, com novos embargos e multas”, diz o diretor de proteção ambiental do Ibama, Jair Schmitt.

O investimento adicional nestas ações é estimado em cerca de R$ 100 milhões. No ano passado, os recursos do Ibama contra incêndios inicialmente previstos chegavam a R$ 89 milhões. Com a explosão de queimadas criminosas em 2024, houve liberação de crédito extra e o desembolso total chegou a cerca de R$ 200 milhões.

“Para este ano, a previsão inicial é de R$ 153 milhões já autorizados, mas há possibilidade de mais R$ 160 milhões serem usados nestas ações”, diz Schmitt.

Os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram um cenário preocupante. As queimadas registradas no Brasil este ano, portanto fora do período mais crítico, revelam uma tendência de aumento das áreas afetadas por incêndios florestais. Entre janeiro e abril de 2025, já foram queimados 20.572 km² no país. O número supera o total registrado no mesmo período de 2024 (19.687 km²) e mais que quadruplica a média do período entre 2017 e 2022.

Segundo o MapBiomas, entre janeiro e dezembro de 2024, mais de 30,8 milhões de hectares foram queimados no Brasil, representando um aumento de 79% em relação a 2023. Esse total equivale a uma área maior que todo o território da Itália e é a maior registrada desde 2019.

Dentre essa área total queimada, 73% correspondem à vegetação nativa. O fogo também consumiu 6,7 milhões de hectares de áreas de pastagens destinadas a uso agropecuário.

“Os sinais são de que o governo tem tomado providências para que haja capacidade financeira para atuar com prevenção aos incêndios antes que elas aconteçam, e com escala de atuação mais significativa. O orçamento tem crescido. O desafio, contudo, é garantir que estas estruturas de governança e financiamento que favorecem uma atuação mais articulada e conjunta sejam sustentáveis a médio e longo prazo”, diz Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc.

Para Carlos Bocuhy, presidente do Proam (Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental), o Brasil não está preparado o suficiente.

“O combate a incêndios demanda preparo, articulação institucional e investimento em tecnologia. A vulnerabilidade é muito maior nos dias de hoje, a probabilidade e a dimensão dos incêndios estão aumentando”, afirma.

“A articulação entre as esferas federal, estaduais e municipais não está acompanhando este cenário. Isso dificulta processos preventivos, sejam de fiscalização, constituição de brigadas treinadas e eficientes e tempo de resposta às emergências.”

O secretário extraordinário de controle do desmatamento e ordenamento ambiental territorial do MMA (Ministério do Meio Ambiente), André Lima, avalia que o governo está mais preparado neste ano e que a tendência climática é de ter uma estiagem menos severa que em 2024.

“Estamos bem preparados. Temos o comitê de manejo integrado do fogo já regulamentando uma série de medidas. Isso inclui articulação com os estados, como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Até começo de junho, teremos esse mesmo acordo com os estados da amazônia”, diz Lima. “Em tese, segundo os meteorologistas, será um ano menos seco que o ano passado. Esperamos ter resultados melhores e dentro da curva.”

O acelerado crescimento da degradação da amazônia brasileira, causado principalmente por incêndios, ofuscou a expressiva queda do desmatamento entre 2022 e 2024. Esse “saldo negativo” na proteção do bioma compromete as metas internacionais de combate à crise climática assumidas pelo país, que neste ano é sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).

O alerta vem de um artigo publicado na revista Global Change Biology por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e instituições do Reino Unido e dos Estados Unidos.