SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ministério da Agricultura entra em saia justa ao tentar despachar materiais de teste da gripe aviária com vencimento próximo, investidores ficam de mãos atadas sem terminal da Bloomberg e outros destaques do mercado nesta quinta-feira (22).
**PEGA DISTRAÍDO**
Quando a cabeça não funciona, o corpo padece. Já ouviu isto? Uma das principais notícias de ontem serve quase como uma fábula para o ditado popular um lembrete de que estar atento às letras miúdas quase sempre te salva de enrascadas.
O Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) tentou enviar a técnicos estaduais do Rio Grande do Sul caixas de testes de gripe aviária que estavam com os certificados vencidos e materiais com o prazo de validade perto de expirar.
As remessas foram rejeitadas pela Secretaria da Agricultura do estado, graças a alguém que estava atento aos detalhes.
PROBLEMA ANTIGO
O órgão está tentando distribuir o material desde antes da confirmação do primeiro foco em uma granja comercial, registrado na cidade gaúcha de Montenegro, no dia 15 de maio.
O QUE ACONTECEU?
Em abril, um departamento do Mapa questionou se a Secretaria da Agricultura do Rio Grande do Sul tinha interesse em receber frascos com a solução utilizada para preservar amostras coletadas por swabs aqueles cotonetes grandes que eram usados nos testes de Covid-19, lembra?
Os frascos continham uma solução química que, em reação com o conteúdo da amostra, identifica a presença de vírus como o da gripe aviária. Este material estava com a validade próxima. O que estava vencido era o certificado das caixas dos kits para transporte aéreo, o que impedia seu uso legal.
↳ A justificativa do Mapa é que o órgão tentava distribuir os materiais com validade próxima o mais rápido possível, em nome de evitar que fossem desperdiçados. Por isso, foi pedido aos interessados que retirassem as encomendas o quanto antes.
↳ Dois dias depois da confirmação do foco em Montenegro, os servidores do RS ainda tentaram articular uma forma de evitar o desperdício dos insumos.
Segundo a secretaria, há kits o suficiente para atender a demanda de diagnóstico e 100% das propriedades rurais em um raio de dez quilômetros do foco identificado já foram vistoriadas.
[+] O que mais há de novo sobre a gripe aviária? Vamos ao resumo do que rolou ontem.
Problema de todo mundo. Nós, seres humanos, nunca comemos tanto frango quanto na atualidade. Por isso, vários países estão preocupados com as infecções por H5N1, vírus da influenza aviária aqui país que é o maior exportador de aves.
O Instituto Butantan aguarda há nove meses o aval da Anvisa para começar os estudos para a produção de uma vacina contra a doença.
Uma força-tarefa foi colocada em pé para proteger os animais do zoológico de Sapucaia, onde aves foram infectadas pelo vírus. Mais de cem animais morreram lá pela doença.
**PANE NO SISTEMA**
É como a chuva no dia do seu casamento, uma carona quando você já pagou o Uber, um bom conselho que você ignorou e todas aquelas coisas que você percebeu como azar, já cantava Alanis Morissette nos anos 90.
A canção poderia ter tocado nas mesas de negociação ao redor do mundo quando o terminal da Bloomberg deu problema na manhã de ontem.
QUEM?
A Bloomberg é uma empresa que oferece dados de mercado e mídia e é fornecedora de terminais que mostram índices e ações em tempo real. É uma das maiores do mundo e amplamente contratada no mercado financeiro.
O QUE?
O sistema caiu e deixou muita gente na mão. Os traders, como são chamados aqueles que vivem de comprar e vender papéis nas bolsas globais, ficaram a ver navios durante quase 90 minutos. Como tempo é dinheiro, foi o suficiente para estressá-los bastante.
Os usuários reclamaram que o serviço estava com atrasos e que a ausência dos preços em tempo real os impedia de fechar negócios. O serviço custa cerca de US$ 28 mil por ano (R$ 158 mil).
ESTÁTUA
O congelamento foi amplo ao ponto do Reino Unido e a União Europeia estenderem o prazo de licitação em leilões de títulos de dívida do governo.
DEPENDÊNCIA
As negociações nas praças mundo afora se tornaram cada vez mais dependentes dos terminais da empresa nos 35 anos desde que foi fundada por Michael Bloomberg.
O terminal fornece preços e análises de ações e títulos em todo o mundo e, bom, quase todo mundo usa, seja para trocar mensagens entre traders e banqueiros ou fazer consultas. Virou uma das principais artérias do sistema financeiro global.
REAÇÕES
Aí vão os relatos de frustração de investidores que ficaram de mãos atadas no começo do dia.
Fomos orientados a não negociar. Não me lembro de ter visto este nível de falha [nos terminais] antes, disse um gestor de fundos de Londres.
Você apostaria em uma partida que não pode ver o placar, disse outro, destacando que os níveis de negociação caíram.
Não há concorrência? Claro que há, não vivemos em Nárnia. Contudo, a Bloomberg é vista como o padrão ouro no mercado.
Entre os principais provedores de dados estão o Workspace da LSEG e o FactSet.
**DE DENTRO PARA FORA**
Você sabe a diferença entre hardware e software? A explicação:
Hardware são todos os componentes físicos de um dispositivo. Tudo o que você pode tocar com as mãos em computadores, celulares e outros aparelhos.
Software é tudo o que faz esses aparelhos funcionarem. São os programas, instruções e dados, a parte intangível.
Eles aprendem tão rápido! Agora que você já sabe, podemos falar das novidades.
A PARTE DURA
A OpenAI, controladora do ChatGPT, anunciou o maior negócio da sua história. Ela vai comprar a io (assim mesmo, com todas as letras minúsculas), uma startup de dispositivos de Inteligência Artificial.
O acordo prevê um pagamento de US$ 6,5 bilhões (R$ 36 milhões) integralmente em ações.
↳ A empresa adquirida tem Jony Ive como um de seus fundadores. Ele é um dos designers pelo desenho do iPhone e de outros produtos da Apple.
O negócio marca a transição da OpenAI de uma companhia que pensava somente no software, para um perfil que também desenvolve hardware.
Podemos esperar aparelhos dela no futuro? A ideia de Sam Altman, CEO da companhia, é que sim. A ideia é desenvolver dispositivos movidos por IA.
Um passo marcante não somente para a compradora, mas também para Ive e seu time. O movimento marca um retorno de peso à indústria que ele ajudou a moldar saiu da Apple em 2019 e, desde então, não esteve muito presente no design para o consumidor.
Na época, Tim Cook, CEO da Apple e sucessor de Steve Jobs, disse que continuaria colaborando com o ex-funcionário, mas nenhum produto foi lançado.
POR QUE?
Em diferentes ocasiões, Sam Altman afirmou que o desenvolvimento da IA precisa de novos formatos computacionais para evoluir e alcançar mais potencial. Quais são estes modelos? Ainda não sabemos. Ele (e seus novos parceiros) tentam descobrir.
A ideia não é nova, tanto que a dona do ChatGPT já detinha 23% de participação na io.
REVÉS
A Apple comeu poeira nesta negociação. Enquanto a concorrência se une com alguns de seus principais nomes para invadir sua praia, ela enfrenta dificuldades para acompanhar os avanços em IA.
**POUSO DE EMERGÊNCIA**
Uma Grande e Bela Lei. Esse foi o humilde apelido que Donald Trump deu a um de seus próximos projetos polêmicos à frente da presidência dos Estados Unidos. Mal passou o sufoco do tarifaço e o mercado já ganhou uma nova preocupação.
Este projeto, entre outras coisas, propõe um corte de impostos importante, para a alegria de quem os paga e para a tristeza de quem se preocupa com as contas públicas do país. O líder visitou o Capitólio nesta semana, suscitando a possibilidade de que a legislação pode sair do imaginário em breve.
O QUE PODE DAR ERRADO?
O endividamento dos EUA é uma questão que sempre aparece quando falamos sobre macroeconomia. A dívida pública do país chega a quase 130% do PIB (Produto Interno Bruto).
Ele só pode gastar desta forma porque oferece alguns dos melhores títulos do mercado. O tesouro americano é considerado o ativo mais seguro do mundo e, no momento, rende bastante. Com isso, a nação consegue rolar sua dívida sempre que ela chega perto do vencimento.
Rolar o que deve, superficialmente, é fazer uma despesa (em geral, maior) para pagar a anterior.
O novo projeto de Trump pode reduzir a arrecadação e aumentar o rombo em até US$ 3 trilhões (R$ 16 trilhões). Os investidores estão cada vez mais cautelosos e temem levar um calote do governo americano o que seria um baque gigante (sem hipérbole) para a economia global.
QUEM TEM, TEM MEDO
A fome do mercado para o risco, que estava bem acordada nos últimos dias, cessou hoje. O medo de perder dinheiro com o tensionamento das contas públicas nos EUA tira o apetite de qualquer um.
O fechamento dos principais índices acionários americanos mostra o mau humor:
– O Nasdaq Composite, que reúne as ações da tecnologia, caiu 1,41%;
– O S&P 500, união das maiores empresas do país, recuou 1,61%;
– O Dow Jones, voltado para a indústria, perdeu 1,91%.
Os índices do tesouro, chamados de bonds, também não foram bem. O leilão pelos títulos de vencimento em 20 anos foi fraco, o que piorou a preocupação os ativos com as caudas mais longas costumam ser rapidamente absorvidos.
Por aqui o Ibovespa também sentiu o baque. O principal índice da bolsa brasileira perdeu 1,59%, depois de uma sequência de dias fechando em alta recorde.
**O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER**
Cadê a unidade de investigação que estava aqui? Sumiu! O governo de Javier Milei eliminou o setor especial criado para apurar o escândalo com criptomoedas protagonizado pelo líder.
Quer mais? A Nike quer. A marca está sentindo as pressões tarifárias e vai aumentar os preços de roupas e equipamentos nos Estados Unidos.
Vai ou não vai? O leilão do tão aguardado (e enrolado) túnel entre as cidades de Santos e Guarujá foi adiado para setembro.
Continua voando. No pregão de ontem, a Gol continuou ganhando com a aprovação do plano de recuperação judicial. As ações dispararam 35%