RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A Justiça do Rio de Janeiro contrariou nesta quinta-feira (22) informações da delação de Ronnie Lessa, assassino confesso da vereadora Marielle Franco (PSOL), e condenou o ex-vereador Cristiano Girão como mandante de um homicídio cometido pelo ex-PM.
A decisão acompanhou pedido do Ministério Público, que afirmou não haver provas que comprovem o anexo do acordo de colaboração no qual Lessa confessa o crime, mas isenta o ex-vereador pelas mortes do ex-policial André Henrique da Silva Souza, o Zóio, e sua namorada Juliana Sales de Oliveira, ocorridas em 2014.
Os jurados concordaram com a acusação, segundo a qual Girão encomendou a morte para impedir que Zóio tomasse o controle da milícia da Gardênia Azul, na zona oeste do Rio de Janeiro. O ex-vereador nega, diz que estava preso na data do crime e que não conhecia Lessa.
A juíza Tula Correa de Mello impôs uma pena de 45 anos a Girão e 90 anos a Lessa.
O acordo do ex-PM prevê o cumprimento de pena em regime fechado até março de 2037 18 anos na cadeia contados a partir da data da prisão, em 2019. Depois estão previstos dois anos em regime semiaberto e outros dez em livramento condicional. Os 30 anos se referem aos 12 processos a que ele responde. A reunião das penas será feita pelo juízo de execução penal.
Contudo, o acordo de colaboração do ex-PM prevê que qualquer informação falsa identificada nos depoimentos pode levar à cessação dos benefícios acordados. Não houve pedido expresso do Ministério Público sobre este tema até a publicação desta reportagem.
“Por que ele iria correr o risco de proteger o Girão? Não sei. A mente do criminoso não é igual a minha e a dos senhores. […] Qual o motivo de ser leal ao Girão? Não sei. […] O que sei é que o que ele falou até agora não tem corroboração. A corroboração não existe. Muito pelo contrário. As provas começam a desdizer o que ele falou”, afirmou o promotor Eduardo Martins.
Em sua delação, Lessa afirmou ter cometido o crime após ter se recusado a ceder para Zóio uma participação nos lucros de máquinas de músicas e fliperamas que mantinha em Gardênia Azul.
“Não conheço o Girão. Não teria porque proteger ele”, disse Lessa em seu interrogatório, na noite de quarta (21).
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As falas do promotor referem-se apenas ao caso sobre a morte de Zóio e Juliana. Contudo, o posicionamento vai ao encontro de parte da tese de defesa dos acusados de mandar matar a vereadora.
Os advogados de Domingos Brazão, do ex-deputado Chiquinho Brazão e do delegado Rivaldo Barbosa, vinham apontando o que consideram mentiras na delação do ex-PM para proteger Girão. O ex-vereador seria o real mandante da morte da vereadora, segundo essa tese de defesa, cuja ação penal está na fase final no STF (Supremo Tribunal Federal).
Girão era um dos suspeitos de mandar matar a vereadora antes da entrada da Polícia Federal no caso, em 2023. O crime, segundo essa linha de investigação, seria uma retaliação pelas investigações da CPI das Milícias, conduzidas pelo ex-deputado Marcelo Freixo, de quem Marielle era assessora.
O ex-vereador ficou sete anos preso, a maior parte em presídio federal, após se tornar um dos focos da CPI. Ele deixou a cadeia no fim de 2016.
A apuração contra o ex-vereador pela morte de Zóio e Juliana foi conduzida como parte do esforço para tentar esclarecer o crime contra a vereadora. O vínculo entre ele e Lessa seria o reforço dessa linha de investigação, posteriormente abandonada após a delação do ex-PM.
O ex-vereador está preso preventivamente desde 2021 em razão da acusação neste crime. Ele afirmou que a acusação contra ele foi feita para proteger os reais mandantes do crime contra Marielle.
“Isso foi uma cortina de fumaça. Virou uma possibilidade de descarregar tudo em mim. […] Não sei mais o que fazer para que eu não seja visto como esse criminoso contumaz”, disse o ex-vereador.
Em sua delação, Lessa afirmou que não conhece Girão. Ele confessou ter cometido o crime após ter se recusado a ceder para Zóio uma participação nos lucros de máquinas de músicas e fliperamas que mantinha em Gardênia Azul.
“Não conheço o Girão. Não teria porque proteger ele”, disse Lessa.