SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar iniciou a sessão desta quarta-feira (21) próximo da estabilidade, mas passou a recuar alinhado ao cenário internacional, onde a moeda americana enfraquece diante das incertezas fiscais dos EUA. Já a Bolsa acompanhava esse ambiente global de cautela somado a uma correção do mercado após a forte alta recente.

Às 15h43, a divisa dos EUA recuava 0,22%, cotada a R$ 5,655, enquanto o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, despencava 1,65%, aos 137.790 pontos, após atingir um recorde histórico na véspera, superando os 140 mil pontos.

Em dia de agenda doméstica esvaziada, o foco dos investidores permanece nas questões fiscais internacionais.

No mercado de ações, os papeis da Gol estavam entre os destaques positivos, disparando até 19% durante o pregão, impulsionados pela aprovação do plano de recuperação judicial da companhia aérea nos Estados Unidos.

Por outro lado, o índice segue pressionado pela alta dos rendimentos dos títulos do governo americano.

Os rendimentos do Treasuries de 30 anos voltaram a subir para 5,01% e o rendimento do título de referência de 10 anos ganhava 5,2 pontos-base, para 4,53%. Isso se reflete na que das Bolsas de Wall Street.

A alta dos juros dos Treasuries, que são títulos públicos americanos, considerados os mais seguros do mundo, costuma provocar elevação nas taxas de juros globais, já que os Treasuries são referência mundial para o custo do dinheiro e risco soberano.

Esse movimento influencia diretamente a curva de juros futuros no Brasil, uma vez que os investidores ajustam suas expectativas de retorno e risco, elevando as taxas locais. Por sua vez, a alta nas taxas de juros locais e globais tende a pressionar negativamente o Ibovespa, pois encarece o custo do capital para as empresas e reduz o apetite por ativos de risco, como ações.

Segundo Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, o mercado de ações também está passando por uma correção de lucros após a recente alta. Ele afirma que as dúvidas sobre a situação fiscal dos Estados Unidos continuam pesando.

“Tivemos recentemente um rebaixamento na nota de crédito dos EUA e há no radar um pacote que pode aumentar bastante o déficit americano. Essas incertezas, junto com a retirada de recursos dos investidores institucionais, explicam o movimento de hoje”, disse.

Entre os fatores que estão contribuindo para as preocupações dos investidores com as questões fiscais com os Estados Unidos, está a notícia da última sexta-feira (16), de que a agência de classificação de risco Moody’s rebaixou a nota de crédito soberano dos EUA.

Ao diminuir de Aaa (máxima) para Aa1, a Moody’s afirmou que espera que os déficits federais aumentem para quase 9% do PIB (Produto Interno Bruto) até 2035, em comparação com 6,4% no ano passado, devido ao aumento dos pagamentos de juros sobre a dívida, gastos com direitos adquiridos e uma “geração de receita relativamente baixa”.

Esse rebaixamento acirrou preocupações com o cenário fiscal da maior economia do mundo, levando agentes financeiros a se desfazerem de algumas posições compradas no dólar e nos treasuries, os títulos ligados ao Tesouro dos EUA.

Por outro lado, há uma legislação tributária proposta por Trump que, caso aprovada, pode acrescentar trilhões de dólares à dívida do governo, contribuindo para o mal humor dos mercados lá fora.

Analistas independentes dizem que a medida pode acrescentar de US$ 3 trilhões a US$ 5 trilhões (R$ 17 a R$ 28 trilhões) à dívida de US$ 36,2 trilhões (R$ 205 trilhões) do governo federal.

Trump foi ao Capitólio nesta terça em busca de um consenso quanto ao projeto orçamentário, que não é unanimidade entre os republicanos. Várias alas do partido na Câmara dos Deputados têm expressado insatisfação com a legislação e ainda podem bloquear sua aprovação na Casa.

Trump reconheceu essas preocupações, mas previu que o projeto acabará sendo aprovado. “Não é uma questão de resistência. Temos um partido tremendamente unido”, disse Trump a repórteres ao chegar no Capitólio.

O projeto de lei prevê uma extensão nos cortes de impostos implementados por Trump em 2017, que foram sua principal conquista legislativa no primeiro mandato, e também acrescentaria isenções fiscais sobre a renda proveniente de gorjetas e de horas extras, que fizeram parte de suas promessas de campanha.

Além disso, existe uma expectativa por novos acordos tarifários do presidente Donald Trump com outros parceiros do país durante esta semana.

As próximas “duas ou três semanas” guardam novas definições sobre as sobretaxas de importação, segundo afirmou Trump na sexta passada. Ele disse ainda que o secretário do Tesouro, Scott Bessent, e o secretário de Comércio, Howard Lutnick, “enviarão cartas essencialmente informando às pessoas” o que “elas pagarão para fazer negócios nos Estados Unidos”.

“Acho que vamos ser muito justos. Mas não É Possível Atender A Todos Que querem nos ver”, disse o presidente, acrescentando que são “150 países que querem fazer um acordo”. Ele não disse quantas, ou quais, nações receberiam cartas.

Por ora, há negociações em andamento com economias como Japão, Coreia do Sul, Índia e União Europeia. Trump recentemente firmou um acordo comercial com o Reino Unido e uma trégua tarifária temporária com a China para ganhar mais tempo para as negociações.