SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ministra do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) Vera Lúcia Santana diz se sentir humilhada e promete entrar na Justiça após denunciar episódio de racismo em evento do governo na última sexta-feira (16). “Houve uma recusa de me ver como uma pessoa digna.”

Segunda mulher negra a ocupar um assento na corte, Vera Lúcia narra que teve a entrada barrada em um prédio onde a Comissão de Ética da Presidência da República promoveu um seminário sobre ética no serviço público. A magistrada tinha uma fala programada no evento.

Quando chegou à portaria, em um primeiro momento, afirma ter se apresentado somente com o nome. Duas atendentes que lá estavam disseram que não estava na lista. Ela então declarou que era ministra substituta do TSE e sacou a carteira funcional.

“Nenhuma delas sequer pegou a carteira para ver nada, e uma delas ficou dizendo que eu deveria ligar para organização”, lembra. “É uma humilhação, porque é um desprezo, um destrato que te leva para uma situação de indignidade pessoal.”

Vera Lúcia afirmou que não precisaria entrar em contato com a organização do evento, porque tinha sido convidada. As mulheres chamaram um segurança, a quem a magistrada também tentou apresentar a funcional de ministra, sem sucesso.

Finalmente, buscaram uma pessoa da equipe de suporte da organização que conseguiu a fazer entrar no evento. De acordo com a ministra, nenhum agente público estava envolvido no imbróglio, apenas pessoas terceirizadas do prédio.

“Nada aconteceu como deveria ser de rotina num espaço civilizado livre de preconceito. O desprezo, o descaso que se teve. Ali eu estava na qualidade de uma autoridade. Foi muito sistemático. Nenhuma das três pessoas pegou a carteira que estava o tempo inteiro à disposição.”

Na sessão da última quarta-feira (20), a presidente do TSE, ministra Cármen Lúcia, tornou pública a ocorrência. Na ocasião, ela disse que Jorge Messias, ministro-chefe da AGU, instituição que cedeu o espaço à Comissão de Ética, disse que tomará providências para apurar o ocorrido.

De acordo com a presidente do tribunal, o advogado-geral da União “procurou a ministra e também me procurou. Ele enviou, a este tribunal, um ofício dizendo que se solidarizava não apenas com a ministra Vera Lúcia Santana, mas com este Tribunal Superior Eleitoral.”

Já a Comissão de Ética disse em nota expressar solidariedade à ministra Vera Lúcia e que está colaborando com a AGU para apurar os fatos e responsabilizar os envolvidos.

A ministra afirma que vai entrar com todas as ações cabíveis na Justiça, no âmbito penal e civil. “Vou ajuizar tudo, reclamar tudo que eu devo fazer, até porque, sem querer fazer essas pessoas pagarem para Cristo, é preciso que, na medida em que se consegue dar visibilidade a determinadas ocorrências, elas precisam ter um papel pedagógico. Esse papel pedagógico passa pela responsabilização.”

O sentimento que fica é que “tudo que você andou até aqui significou nada”, conclui ela.