SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um dia após a União Europeia expandir suas sanções contra navios que transportam petróleo e derivados russos, Moscou elevou o tom do conflito e disse que tomará “todas as medidas necessárias” para proteger suas linhas comerciais no mar Báltico.
Os incidentes na região ente a Rússia e países da Otan, a aliança militar do Ocidente, têm se multiplicado. Nesta quarta (21), a Marinha da Polônia disse ter afastado um navio ligado à Rússia que estava próximo de um cabo submarino que leva energia do país para a Suécia.
“Um navio russo da frota fantasma, coberta pelas sanções, fez manobras suspeitas perto do cabo. Após a intervenção efetiva das nossas forças, o navio foi para um porto russo”, escreveu no X, sem detalhar, o premiê polonês, Donald Tusk.
Frota fantasma, “shadow fleet” no termo em inglês, é o nome dado aos navios que levam petróleo, derivados, grãos e armas russas sob bandeiras de países neutros na Guerra da Ucrânia. No começo do ano, a UE já havia aplicado sanções a essas embarcações, que foram expandidas na terça (19).
Eventualmente o Brasil pode ser afetado, caso os governos europeus resolvam punir indiretamente quem compra esses produtos 60% do diesel que chega ao país é de origem russa, por exemplo.
O episódio desta quarta sugere uma escalada que combina um problema anterior, a suspeita de sabotagem russa contra cabos submarinos no Báltico, com o atual, as sanções sobre a frota fantasma.
Na quinta passada (15), os russos invadiram com um caça o espaço aéreo da Estônia, país que tentou apreender um desses petroleiros. Ao fim, a embarcação partiu. Já no domingo (18), foi a vez de Moscou deter temporariamente um navio de bandeira grega em suas águas após deixar um porto estoniano.
“Como os eventos recentes de tentativa de ataque pirata a um dos petroleiros mostrou, a Rússia tem capacidade de responder de forma bastante dura”, disse nesta quarta o porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov.
Segundo ele, o país usará “todos os meios necessários” para garantir a segurança de suas rotas de comércio. No Ocidente, o Báltico é o único ponto de saída e chegada de navios aberto o ano todo para os russos no Ártico, o inverno prejudica as operações com o congelamento do mar.
Desde que invadiu a Ucrânia, a Rússia tem enfrentado dificuldades no Báltico. Primeiro, um ataque que Moscou atribui ao Reino Unido e aos EUA destruiu ramais de um de seus principais gasodutos rumo à Alemanha, que de todo modo já havia desistido de usá-lo.
Depois veio a adesão da Finlândia e da Suécia à Otan, a aliança militar ocidental, transformando o corpo d’água numa área cercada por adversários na Rússia, apenas a costa da região de Leningrado, onde fica São Petersburgo, e o exclave de Kalingirado são banhados pelo Báltico.
Ao longo do ano passado começaram a ocorrer casos de corte de cabos submarinos, usualmente de transmissão de dados. Moscou negou envolvimento, mas a Otan instalou uma força-tarefa na região para justamente monitorar atividades de navios suspeitos o que agora confluiu com a questão da frota fantasma.
Já houve entrechoques, quando por exemplo um avião de patrulha marítima francês foi colocado no alvo de radares de uma bateria de mísseis de Kaliningrado. As interceptações de caças e bombardeiros voando de lado a lado continuam uma constante, com os usuais riscos de escalada indevida.
A pressão no Báltico ocorre num momento em que os parceiros europeus da Otan se descolam dos Estados Unidos, líderes da aliança, mantendo uma postura mais agressiva de apoio a Kiev contra a Rússia enquanto Donald Trump busca se aproximar de Putin para achar uma saída para o conflito.
MOSCOU FECHA AEROPORTOS
A guerra, por sua vez, não dá trégua. Nesta quarta, dois aeroportos de Moscou foram fechados devido a pelo menos três drones lançados contra a cidade. Canais de Telegram reportaram explosões próximas da pista de Domodedovo, um dos principais terminais internacionais russos, mas não houve relatos oficiais.
Ao longo da noite, o Ministério da Defesa russo contou 232 abates de drones. Alguns atingiram uma central de distribuição de dados próxima a Moscou, causando um apagão temporário na internet na região.
Houve ataques contra a Ucrânia também, e Kiev confirmou que um centro de treinamento de soldados na região de Sumi foi atingido por um míssil balístico Iskander na terça (20). Segundo o governo local, morreram 6 militares, número que vai a 70 nas contas russas.
Segundo a Defesa russa, há avanços importantes ocorrendo na vital região de Pokrovsk, centro final de resistência ucraniana na área de Donetsk (leste). A frente havia se estabilizado por lá nos últimos meses, mas ainda não há confirmação do que de fato está ocorrendo em solo.