SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um rival do presidente Volodimir Zelenski foi morto a tiros na manhã desta quarta (21) na região de Madri, no mais recente incidente envolvendo ucranianos ou russos na Espanha, país com considerável quantidade de expatriados dos rivais no Leste Europeu.

Desta vez a vítima era politicamente importante: Andrii Portnov, que serviu como assessor e braço-direito de Viktor Ianukovitch, o presidente aliado do Kremlin que foi derrubado no começo de 2014 pelas forças pró-europeias em Kiev.

Chamada de revolução pelos vencedores e de golpe pelos derrotados, o movimento tirou o comando do país da órbita russa, levando à retaliação de Vladimir Putin: anexação da Crimeia e guerra civil no leste russófono do país, eventos que estão no coração do conflito atual, iniciado pela invasão de 2022.

Portnov foi morto à luz do dia, às 9h15 (4h15 em Brasília), em Pozuelo de Alarcón, uma cidade da periferia madrilenha que é considerada a mais rica do país e concentra condomínios de luxo. A polícia ainda não sabe se ele foi atingido por um ou mais atiradores.

Advogado de 51 anos, ele havia deixado o país após a queda do chefe, tendo vivido na Rússia, Áustria e Espanha. Era especialmente odiado pelos sucessores de Iaukovitch, Petro Porochenko e Zelenski, devido ao papel a ele atribuído na anexação da Crimeia —chegou a ser processado por traição, mas o caso foi arquivado.

O SBU, o serviço secreto ucraniano que tem promovido assassinatos de russos ligados à guerra, como o de um general e de um líder paramilitar em Moscou neste ano, não se pronunciou. Se Kiev está envolvida na morte de Portnov, não se sabe, mas o fato é que a Espanha virou um local de incidentes graves desde 2022.

A mídia ucraniana, usualmente em linha com o governo, fala que houve um acerto de contas entre o ex-assessor, que foi também deputado de um partido pró-Rússia até 2010, e seus credores. É uma hipótese plausível também, até pelo conhecido entorno obscuro de Ianukovitch.

Segundo o diário El Mundo, a polícia trabalha com a hipótese de crime político ou a tal vingança por dívidas, sem detalhar.

Segundo o serviço mi gratório espanhol, há 235 mil ucranianos no país, a maioria vinda depois do início da guerra. Há também 95 mil russos, 16 mil dos quais chegaram após 2022, de acordo com levantamento do jornal La Vanguardia.

Em abril de 2022, um empresário do ramo de gás russo foi achado morto em casa com a mulher e a filha, naquilo que a polícia acabou considerando um suicídio altamente suspeito.

Em novembro e dezembro do ano da invasão, cartas-bombas foram enviadas para autoridades do governo espanhol, empresas e as embaixadas de Kiev e Washington em Madri. Um aposentado com simpatias pró-Putin foi preso.

No ano passado, um piloto russo que fugiu para a Ucrânia com seu helicóptero foi morto a tiros perto de seu apartamento em Alicante, onde vivia como exilado.