SANTOS, SP (FOLHAPRESS) – Empresário do ramo de logística, Luiz Simões, 55, teve de ser internado durante a pandemia da Covid-19, em 2020. “Quase não deu para mim”, afirma.

Durante o período no hospital e a longa recuperação, uma ideia o motivou: criar outra startup. “Não é nem nicho. É o nicho do nicho. Mas eu sabia que era algo que ninguém estava fazendo”, afirma.

Foi o nascimento da HXtos, que atua no porto de Santos. A ideia pandêmica se tornou o sistema HX, que permite a chamada “venda em águas”: a carga pode ser carregada ao Brasil com a documentação incompleta ou mudar de destino durante a viagem. Até então, isso era possível apenas no modal de contêineres.

O HX é voltado para a indústria da celulose, embarcada em caixas -as chamadas “cargas soltas”. Entre as grandes empresas do setor no Brasil, Bracell, Suzano e Eldorado se tornaram clientes.

Em geral, os sistemas usados pelas empresas que embarcam encomendas nesta modalidade são geralmente adaptados daqueles feitos para contêineres. Por isso, são necessárias várias improvisações porque não é algo que atende nem 50% das necessidades de carregamento de carga solta. A ideia de Simões buscou resolver esse problema para a indústria de celulose.

“Há o rastreamento da carga total e sabemos exatamente onde cada caixa está no portão do navio. Então a gente sabe que a carga saiu da fábrica X, que usou a matéria prima Y, está destinada a tal porto com tal destino final. E sabemos exatamente onde está dentro do porão do navio”, afirma o idealizador e CEO da empresa.

Rastrear todas as caixas e saber onde elas estão exatamente dentro da embarcação, sem contêiner, oferece uma vantagem logística. O termo “venda em águas” é uma liberdade poética porque as caixas não saem do Brasil sem um destino pré-determinado. Mas eles podem mudar durante o trajeto ou sem todos os documentos necessários para o desembarque. Estes podem ser acrescentados durante o trajeto.

“É uma liberdade para o exportador que não existia antes”, completa.

A celulose pode ser considerado o “nicho do nicho” porque também tem uma característica: todas as cargas parecem iguais, com a mesma cor branca. Mas não são. A olho nu, o porão do navio está repleto de caixas com as mesmas especificações. Na verdade, as tonalidades são levemente diferentes, a depender do tipo do produto.

A HXtos testa na China um facilitador na movimentação, o que pode evitar que parte da carga seja desembarcada desnecessariamente ou seja entregue ao comprador errado. O sistema se chama Hatch List.

“O chinês, após a atracação do navio, vai usar nosso aplicativo em um tablet e, via web, vê exatamente qual é a carga, seu dono e qual posição está dentro do porão. Vai ver as qualidades da cor. Porque antes ele tirava toda a celulose para ver qual é qual. Agora, não mais”, diz o fundador da empresa.

No primeiro semestre do ano passado, o Brasil, maior produtor do mundo, exportou para China, EUA e União Europeia cerca de US$ 8,75 bilhões em celulose (R$ 49,7 bilhões). Cerca de 45% deste total deixam o país pelo porto de Santos.

Na busca pela internacionalização da empresa, Simões já passou por Uruguai, Chile. Paraguai, países europeus e a China. Sabe que o suporte terá de ser oferecido em diferentes línguas. A empresa já funciona 24 horas por dia porque a operação em Santos não para.

“Sempre a gente escuta a pergunta sobre quem são nossos clientes. No Uruguai, por exemplo, você vai em um terminal que movimenta 2,5 milhões de toneladas por ano. Eles querem saber onde nosso sistema funciona, eu digo que funciona no terminal da Suzano, que movimenta 6,5 milhões de toneladas por ano. Nosso produto funciona em um terminal que é três vezes maior que o dele. Torna-se impossível ele dizer ‘aqui não vai funcionar'”, finaliza o dono da Hxtos.