O que para muitos é apenas um brinquedo, para outros se tornou objeto de coleção, afeto e até polêmica. As bonecas reborn, réplicas ultrarrealistas de recém-nascidos, vêm ganhando espaço entre crianças e adultos, impulsionando um mercado artesanal lucrativo e, às vezes, controverso.

Henieri Saiuri Nagahiro, 35 anos, conheceu as bonecas ao comprar duas unidades para as filhas. Incomodada com o acabamento e a expressão pouco realista, decidiu criar suas próprias versões. A iniciativa despertou tanto interesse que ela e o marido, Marcos Vinicius Amaral Gonçalves, 34, deixaram para trás o antigo comércio de roupas para se dedicar exclusivamente à confecção dos bebês reborn.

“Quando vi o potencial, resolvi aprender a fazer melhor. Hoje vendemos pela internet e atendemos clientes de todo o Brasil — e até do exterior”, conta Henieri.

Cada boneca leva cerca de uma semana para ficar pronta, mas os modelos maiores, que simulam crianças de até um ano, podem exigir até 15 dias. O processo é detalhado: as peças vão ao forno de 15 a 20 vezes em temperaturas de até 130°C, para fixação das camadas de verniz. A pintura é feita à mão, incluindo veias, manchas vermelhas, marcas de vacina e unhas minuciosamente desenhadas.

O cabelo e as sobrancelhas são aplicados fio a fio. Os olhos podem ser de plástico ou resina, e os clientes têm liberdade para escolher cor de pele, olhos, cabelo e até os acessórios. Algumas bonecas acompanham enxoval completo: mamadeira, chupeta, roupas, “ultrassom” e até “certidão de nascimento”.

Os valores variam entre R$ 800 e R$ 1.800, dependendo do nível de realismo e do material escolhido. As mais sofisticadas usam cabelo natural de mohair — uma fibra obtida da cabra angorá, com textura semelhante ao cabelo humano.

A demanda tem sido constante. O casal comercializa cerca de 20 unidades por mês e espera dobrar esse número até o fim do ano. O negócio é divulgado principalmente por meio das redes sociais, onde somam mais de 4 mil seguidores em dois perfis ativos no Instagram: @hannynagahiro_reborn e @bebereborngoiania_.

Apesar do sucesso, o casal também enfrenta desafios — especialmente com o público infantil. “Recebemos mensagens e chamadas de vídeo o tempo todo, às vezes de madrugada. Sempre pedimos que um responsável entre em contato para concluir a compra”, relata Marcos.

As bonecas reborn já protagonizaram casos curiosos, como disputas judiciais por “guarda” e relatos de pessoas tentando batizá-las em igrejas. “A gente escuta histórias de gente levando boneca ao médico ou pedindo certidão oficial, mas eu acredito que boa parte disso é exagero de internet”, comenta Henieri.

Ainda que envoltas em controvérsias, as reborn seguem como um fenômeno de nicho — unindo arte, delicadeza e um tipo único de afeto. Mais do que brinquedos, elas representam uma mistura de terapia emocional, expressão artística e, para alguns, uma forma silenciosa de companhia.